No Diário do Sul e na Rádio Telefonia do Alentejo promovemos um ciclo de entrevistas a propósito das eleições autárquicas de 12 de outubro.

Falámos com todos os candidatos à presidência da Câmara Municipal de Évora e essas entrevistas foram feitas pela ordem em que foram apresentadas as respetivas candidaturas.

Hoje temos Florbela Fernandes, candidata à presidência da Câmara de Évora pelo Movimento Cuidar de Évora (MCE).

Tem 52 anos e é residente e natural de Évora. É assistente social, pós-graduada em Gestão da Qualidade dos Serviços Municipais e Freguesias e em Administração Social.

Atualmente, é Chefe de Divisão de Cultura, na Câmara de Beja. É também vereadora, sem pelouros, na Câmara de Évora, pelo MCE, desde 2021.

Já foi diretora técnica de Ação Social na Habévora, bem como chefe de Divisão de Ação Social, Associativismo e Juventude na Câmara de Évora, fazendo parte do quadro de pessoal desta autarquia até hoje.

Foi adjunta do Gabinete de Apoio da Governadora Civil de Évora, além de técnica especialista do Gabinete da Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade.

Também foi dirigente associativa nas áreas humanitária e de combate à pobreza, deficiência, desporto, igualdade e cidadania.

De salientar ainda que foi autarca eleita na Assembleia Municipal de Mourão, pelo PS, partido do qual foi militante durante 12 anos.

Porque é que se candidata à Câmara de Évora?

A principal motivação é dar continuidade ao nosso projeto, que começou em 2021 e que tem vindo a consolidar-se. Não podíamos defraudar os eborenses que se têm associado ao MCE e que lutam para que este movimento seja uma alternativa nestas eleições. E também porque Évora continua com os problemas que identificámos em 2021.

Do ponto de vista pessoal, gosto muito da intervenção política e acredito que a política pode transformar a vida das pessoas para melhor. É com essa expectativa que criei este projeto com uma equipa forte e empenhada para fazermos a mudança de que Évora precisa. Atualmente, o MCE é totalmente independente. Há quatro anos também éramos independentes na nossa filosofia, mas tivemos apoio de dois pequenos partidos porque não obtivemos as assinaturas necessárias, que agora já conseguimos.

Quais os principais desafios do Município de Évora?

Destacamos quatro medidas prioritárias que vêm responder àquilo que achamos que são os problemas a atacar neste mandato. Temos de começar pelos problemas estruturais e que estão a impedir o desenvolvimento de Évora.

Uma das nossas áreas de intervenção é o cuidado do espaço público e das pessoas.

As estradas estão degradadas, a recolha do lixo não funciona e há ainda as ervas e as pragas. É um grande desafio essa área, que vai entroncar noutra prioridade que temos e que é um grave problema estrutural, que tem a ver com a situação financeira e de falência técnica e financeira do município.

O município precisa efetivamente de uma transformação que responda ao défice estrutural que temos, à dívida e à incapacidade de responder aos nossos compromissos. Por outro lado, ser um município que consiga trabalhar com os trabalhadores e com as direções para ser capaz de responder aos cidadãos que o procuram. Toda a organização da câmara tem de ser repensada e alterada. Estou muito confiante de que vou contar com o apoio dos trabalhadores para fazermos esta mudança porque eles próprios também sentem que, muitas vezes, não trabalham nas melhores condições. Mas também apelo ao seu empenho e dedicação porque a câmara precisa de funcionar melhor e ter mais receita.

Aqui entra a parte financeira. Temos de poupar, fazer cortes, controlar muito melhor a despesa e aumentar a receita. Há mais de 24 anos que o nosso nível de execução de receita é similar, nunca conseguimos sair de entre os 45 milhões e os 55 milhões de euros de receita executada. E temos um compromisso de 114 milhões do lado da despesa. Claro que nestes 114 milhões existe alguma receita que está “consignada”, sabemos que aquela despesa vai ter uma receita, mas há muita que não está. Aponto para um valor superior a 20 milhões que não temos capacidade de receita para fazer face aos nossos compromissos.

Defendemos também a descentralização de competências, de recursos e de meios para as juntas de freguesia porque acho que vamos melhorar bastante a resposta às pessoas.

Quais os pilares estratégicos do programa desta candidatura?

Já falámos de dois pilares da transformação para Évora, agora destaco outras duas medidas prioritárias, que dizem respeito à habitação e ao desenvolvimento do concelho.

Ao nível da habitação, o nosso compromisso é que em quatro anos vamos construir 40 novos fogos de habitação para quem trabalha, que serão no lote de terreno municipal do Moinho. Ou seja, habitação para a classe média e classe média baixa, que não têm efetivamente capacidade de aceder ao mercado privado. A atribuição desses fogos vai ser sempre por sorteio, mediante inscrição e critérios para inscrição.

Vou continuar a trabalhar na resolução do problema do Escurinho. É uma situação mais complicada porque tenho 70 famílias para realojar e o projeto que o MCE tem pensado é muito exigente. Queríamos fazer habitação acessível a custos controlados e, eventualmente, privada.

Quanto ao desenvolvimento, inclui projetos como a Capital Europeia da Cultura (CEC), o Hospital Central do Alentejo (HCA), a relação com a Universidade de Évora (UÉ) ou o PACT, por exemplo.

Em relação ao HCA, assumo um compromisso com os eborenses. Até dezembro, a situação do protocolo vai ficar resolvida. Tenciono pedir uma audiência à ministra da Saúde para desbloquearmos as questões que estão a emperrar a assinatura daquele protocolo. Transmitir que estamos motivados para exercer aquilo que são as nossas competências no protocolo que está em vigor, mas também não vamos aguardar mais tempo. Ou resolvemos o problema e vamos trabalhar em conjunto com uma equipa de missão ou a câmara vai sair do protocolo. Vou colocar isso a votação na câmara e na assembleia municipal, com a proposta de que vamos disponibilizar todos os projetos que foram feitos pelo município.

Dizer ainda que Évora tem crescido do ponto de vista económico e até do emprego, não temos é conseguido fixar população com base nesse crescimento. Apesar das dificuldades, os agentes do setor privado ainda estão a investir em Évora, mas passa a imagem de não é um bom município para o investimento, por causa da câmara. Seja verdade ou mentira, temos de combater essa imagem, pois o município tem de ser um facilitador e um motor do desenvolvimento.

Para isso, temos de reestruturar a câmara internamente e fazer uma reorganização de serviços. Começar a ter políticas de qualidade, introduzir mais tecnologia no trabalho e garantir celeridade naquilo que são as suas competências de fiscalizador, sem perder a perspetiva que quero introduzir de uma câmara amiga do cidadão. Ou seja, uma câmara que, à partida, confia que o cidadão cumpre. Em vez de se fiscalizar a priori, exceto nos casos em que a lei o obriga, fiscalizamos posteriormente. Para isso, são precisas boas check-list, um bom manual de legislação e informação transparente e clara para a população entender.

Temos ainda de ter um portal da transparência, quer no setor de fiscalização, quer da nossa utilização dos dinheiros públicos.

Évora é Capital Europeia da Cultura em 2027. Que impacto pode ter este acontecimento no concelho e na região?

A CEC é de facto o projeto mais importante que vamos receber no próximo mandato. É também o mais desafiante, a par da habitação, porque é um projeto que vai mexer naquelas que são as maiores dificuldades do município, sejam financeiras, de reorganização ou de compromisso.

Vamos ter de nos reorganizar internamente para garantir que temos capacidade financeira, mas acho difícil garantirmos os tais dez milhões.

É um mandato em que a câmara tem de programar menos porque tem de apoiar a programação da CEC. E não pode esquecer de apoiar os agentes culturais de Évora neste processo.

Acho muito importante começar a recorrer à figura do contrato-programa com os agentes culturais para que eles programem de acordo com a linha programática que nós queremos. O papel do município é garantir que a programação satisfaz todo o espectro de munícipes e que chega a todas as freguesias. Quero uma cultura diversa e eclética, que tenha as vertentes de criação, consumo, identitária, popular e contemporânea.

Candidatos efetivos à Câmara Municipal de Évora pelo MCE – Florbela Fernandes, João Simões, Gilberto Costelas, Cláudia Costa, Maria Antónia Nunes, André Azedo Godinho e Maria Madalena Seixas

Cabeça de lista à Assembleia Municipal de Évora pelo MCE – Paulo Ribeiro

Texto: Redação DS / Marina Pardal
Fotos: DS

Entrevista publicada na edição imprensa do jornal Diário do Sul a 25 de setembro de 2025.

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