Não existe local aqui neste Alentejo, que não se preze por oferecer aos visitantes da sua feira/mostra anual, quer seja ela de cariz religioso ou não, o que de mais notável se faz por aqui e, não faltam o pote de barro, o coxo de cortiça, a manta ou os azeites e vinhos, entre outros artigos muito emblemáticos desta gigante área geográfica do País. O que também marca presença nestes certames e traz afluência garantida de público, são os artistas da terra, sobejamente referenciados, bem como os nomes mais sonantes do panorama musical ou radiofónico da altura, dependendo do cachet a dispender e das ‘bolsas’ das Autarquias e respetivas Comissões de Festas, como organizadoras ou parceiras destas iniciativas, que tentam sempre trazer ‘à baila’, o que de mais agradável e possível se torna, no que diz respeito às animações dos recintos de festas. Não falta também por isso, a referência ao tradicional Cante e Grupos Corais da região, típicos da zona e que é presença habitual, não estivéssemos nós a falar de uma vasta planície, que exala tradição por todos os cantos.

Festas e feiras trazem animação a lugares, aldeias, vilas e cidades do Alentejo – Foto – © Sons & Tons

Regra geral, ao primeiro dia das festividades – o da abertura – reina a exuberância e boa disposição havendo aromas que se misturam; quermesse, bazar e bar andam numa ‘roda viva’ e a população local e dos arrabaldes comparece em peso. Não há quem queira faltar, do novo, ao menos novo, ali no centro do terreiro onde se reencontram amizades e nascem outras tantas. Em tempos da ‘outra senhora’, guardava-se a melhor roupa para estrear no dia da festa – e assim se conquistavam corações; mas também havia azia e, desfaziam-se de amores.
Hoje em dia, os tempos são outros, mas ainda existe muito desses modos, sinal de que houve um legado deixado pelos nossos antecessores.
Ainda há quem diga que é por bem! E, é salutar preservá-lo.

Foto – © Sons & Tons

Segue-se na linha do tempo e à tardinha é de ver-se o ‘magote’ de gente a chegar aos locais de encontro, próximo dos recintos de festas e, há sempre lugar à volta pelos mesmos; como que a reconhecer terreno, para escolha dos melhores locais onde assistir, comer e beber – as compras maiores, ficam a aguardar melhor oportunidade.
Pouco ou muito, há sempre como contribuir para a festa do próximo ano; vão saindo os pratos do petisco que se torna a refeição ‘ajantarada’, mais ou menos elaborados pelas cozinhas montadas para a ocasião. Traz-se consolo às barrigas e dá-se azo a muitas conversas, sejam elas em família ou entre amigos e conhecidos. Rega-se o momento, com a preferência de cada um: a modos, porque ninguém quer fazer má figura na hora do baile.
Às vezes, alguns dos convivas, nem dão tempo para isso. Come-se pouco e bebe-se demais!
Acabado o repasto, já início de noite, combinam-se pares e soam os primeiros acordes de cima do palanque – muitas vezes palcos improvisados – cai o pano e, surgem as luzes multi-cor; mor das vezes, acompanhadas de tubos e potes que deitam fumos ou fogo de artifício e, lá começa o espetáculo musical, que também pode ser visual – lá está, dependente da verba gasta pelos festeiros e organizadores.

Foto – © Sons & Tons


Com ou sem apresentação, há sempre lugar a um compasso de espera – fica no ar um frenesim – enquanto os artistas não surgem e, conhecido o cartaz, até há quem chame por eles (pelos artistas).
A festa vai começar e promete ser rija…

“Siga Ó Balho!”

E por falar em «Siga Ó Balho!», que é slogan usado por uns moços cá da terra – entre muitos outros e outras que existe por este Alentejo fora, a cantar a solo, em duo ou em grupo – damos nota desta feita dos “Sons & Tons“, assim se denominam, que mais não passam do que um grupo de amigos, bem-dispostos, que resolveu juntar-se para tocar, corriam os anos de 2006/2007.
Primeiro como trio e, depois (por abandono de um dos elementos) como duo, os “Sons & Tons” não se resignaram e prosseguiram.

Exaustivamente ensaiadas, as faixas musicais foram surgindo e foi assim que tudo aconteceu.

Foto – © Sons & Tons


O público sabe de cor as letras de “Amor de Lua”, “Subir ao Céu”, e de muitos outros temas que interpretam, ao ponto de hoje, se considerarem “um bom grupo musical”. E, não param Verão a fora, e não só – dando ainda mais alegria às tradicionais festas de cada localidade. A formação musical foi aumentando e, o elenco, agora constituído por Álvaro Godinho, Domingos Coelho, Fábio Cachopas, João Verdasca e Luís Pereira, são a atual composição do grupo e que dá vida aos Sons & Tons.

Fomos ouvi-los… literalmente e na primeira pessoa:

Fotos – © Rui Paixão
  • Mas de onde veio este nome (Sons & Tons), que fica no ouvido?
    “Sobre o nome da banda, dizem que apareceu aleatoriamente, muito sem pensar no que haveria de se atribuir ao projeto. Não houve lugar a premeditação e não queremos colagem a ninguém – surgiu e ficámos com ele – é sonoro de facto isso agradou-nos”.
  • Então onde está o segredo para a boa aceitação por parte do público?
    “Nos nossos espetáculos, garantimos, não existe monotonia – é sempre a abrir! – há liberdade total para se fazer o que sair à cena. É deixar fluir e aproveitar o momento. Não se repete alinhamentos de músicas, nem revemos as nossas atuações anteriores, muito menos nos baseamos no que outros grupos musicais fazem. Só assim conseguimos absorver o que o público quer que seja o espetáculo da noite; é desta forma que a disposição para ouvir, cantar e dançar é via de regra recíproca”.
  • Como os “Sons & Tons” cativam o público? Existe algo a partilhar…
    “Com alegria imensa sob os palcos – ali damos o que temos para dar e, o que de melhor sabemos fazer – é isso que tentamos sempre passar para fora e, com tal, contamos sempre receber o carinho de quem assiste a um espetáculo nosso. Cada ‘baile’ abrilhantado pelos “Sons & Tons” é único e o objetivo centra-se apenas num só ponto – que o público saia sempre mais feliz do que quanto chegou à festa. Trabalhamos (nos ensaios) todas as semanas, às vezes mais do que uma vez, sempre com o intuito de melhorar as nossas performances e desafiamos o público para que aproveitem e passem um bom momento connosco – não se irão arrepender.”
  • O regresso pós-pandemia, calcula-se que tenha deixado marcas? Deixou a todos.
    “Apesar de a COVID-19 nos ter impossibilitado de executar o que mais gostamos, porque esta coisa de correr com os instrumentos ‘às costas’, de terra em terra, dá que fazer e como ‘quem corre por gosto não cansa’ ficou a nossa vida em suspenso e inviabilizada e, consequentemente, causou um decréscimo no nosso número de espetáculos. Ainda assim, a formação musical não sofreu desaires e não fomos drasticamente afetados, porque sendo isto um hobby, cada um de nós manteve a sua profissão pessoal que nada têm a ver apenas a com música. Agora, passando esta má fase, estamos com tudo e sentimos que já havia carências na sociedade: é preciso conviver e, as festas e os bailes faziam falta nas nossas vidas”.
  • Portanto a vinda do dito ‘normal’ tem-vos sido promissora, deduz-se. Mas, sabe-se da existência de novas músicas, inéditas e até do lançamento de um CD – confirmam?
    “O processo de criação das novas músicas, surge também muito naturalmente, sem pressas e sem objetivos traçados ou dedicatórias, estas são produzidas para ser ouvidas por e para todos. Sobre o lançamento do CD – é verdade, temos esse desejo, até porque entendemos que uma formação musical, por muita vontade que exista por parte dos seus elementos – ela nunca permanecerá para toda a vida; a idade vai pesando e gostávamos de guardar essa feliz recordação – ficávamos contentes que apenas se lembrem de nós na eternidade, quando por aqui já não pudermos subir a um qualquer palco”.
  • E o que significa para vós ser músicos no Alentejo?

“Significa ter uma enorme responsabilidade naquilo que produzimos para alentejanos e não só. Orgulhamo-nos em sê-lo: este chão foi o nosso berço, enquanto pessoas e também (o está a ser) como músicos – embora não a tempo inteiro – o Alentejo é e será a nossa vida! Aqui constituímos família e residimos – aqui somos esta família ‘Sons&Tons‘, através da qual tornamos felizes todos aqueles(as) que nos seguem nas nossas atuações, virtual ou presencialmente. Somos muito gratos”.


De volta à(s) Festa(s)

Foto – © Rui Paixão

Com isto tudo, a noite de festa já vai longa e, as pernas da ‘rapaziada’ já pedem descanso, que a ‘balhação’ foi valente.
Mas, como é da praxe, há sempre lugar para mais uma (música) e, mais outra se repete, em encore, até que a tão malfada hora chega e ouve-se:

“Por hoje é tudo, minha gente, amanhã há mais: vamos à ‘dêta’!”

Sai(em) o(s) artista(s) de palco; fecham-se as luzes; palmas e mais palmas, ecoam no espaço, ouvem-se gritos, há sorrisos, abraços e beijos; estes últimos aparecem de trás de todas as esquinas.
Mas há que carregar o material de palco e, a vida de músico alentejano vulgo artista, passa a ser também a de roadie de uma banda – “tem de caber tudo nos carros, tal como quando se chega ao sítio onde atuar”. Desliga-se, limpa-se e acondiciona-se todo o equipamento do show – “é assim, a vidinha do artista”.
No final, há sempre lugar para a abaladiça (a bebida – a última), mas só se não forem mais; acompanhada pelo reforço (petisco), por algumas horas de animação, normalmente atribuído pelas Comissões de Festas e Organização. E, não há cá lugar a negas, que aos festeiros parece-lhe mal.

Arranja-se espaço… e retemperam-se as forças, que o corpo não é de ferro.
Alguma da rapaziada presente, os/as mais resilientes e sem compromissos, esses ficam até ao raiar o dia, isto se ainda as forças permitirem e houver dinheiro e disposição – já há pouco mais a adquirir, mas a cama chama-os e eles/elas, mandam-na esperar.
Amanhã, a festa irá prosseguir… aqui, ali ou noutro lugar – “enquanto houver estrada para andar” – Alentejo acima ou abaixo – e até para fora dele, nalguns casos.

«Adiante é que é caminho, dizem – “a gente vai continuar“, como dita uma letra de música»; mas o autor é outro, que não os de hoje.

Onde e como encontrar os “Sons&Tons“:

Pode seguir e fazer like em https://www.facebook.com/sonse.tons.1

ou https://www.instagram.com/sonsandtons/

Vídeos relacionados com a notícia:

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Leia e veja mais na edição impressa do diário do SULdia 13deSetembro2022

ENTREVISTA com a banda emitida (13/09/2022), no Programa “Manhãs da Telefonia“, conduzido por Crisália Toscano – às 11h00 na Rádio Telefonia do Alentejo • 103.2FM

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