Uma nova investigação levada a cabo por cientistas do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da Universidade de Évora, em colaboração com o CIBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto e da Universidade de Lisboa, revelou um comportamento de migração notável e previamente indocumentado em duas espécies de peixes endémicas da Península Ibérica: o escalo-do-sul (Squalius pyrenaicus) e o bordalo (Squalius alburnoides).
O estudo, publicado na revista Limnetica, (Coordinate migration ensuring sexual parasitism in fish species: Extreme weather conditions induce atypically large fish dispersal movements | Asociación Ibérica de Limnología (AIL)) destaca a capacidade surpreendente destas espécies de realizar movimentos de dispersão migratória em resposta a condições climáticas extremas.

Consideradas anteriormente como espécies residentes, ou seja, com movimentos limitados a trechos específicos do rio, os investigadores observaram uma migração coordenada rio acima no Rio Vascão (um rio temporário mediterrânico em Portugal). Este fenómeno excecional ocorreu após um ano de seca seguido de um inverno e primavera extremamente chuvosos.
Os achados sugerem que estas espécies possuem capacidades de dispersão muito mais fortes do que se pensava anteriormente. A migração conjunta é particularmente significativa porque o bordalo (Squalius alburnoides) parasita o escalo-do-sul (Squalius pyrenaicus) para fins reprodutivos, num processo conhecido como parasitismo de esperma.

Assim, estas capacidades de migração coordenada, visando a desova, assegurariam a manutenção desta relação interespecífica. Esta observação ressalta a importância da conectividade dos rios para a manutenção de processos ecológicos vitais, especialmente num contexto de alterações climáticas que afetam os regimes de caudal.
“Esta descoberta é um testemunho da resiliência da vida selvagem aquática e da sua notável capacidade de adaptação a ambientes em mudança”, afirma Filipe Banha, autor principal do estudo. “Mostra-nos que, na presença de um rio sem grandes obstáculos, estes pequenos peixes conseguem lidar com períodos severos de seca e colonizar/recolonizar trechos de rio quando as condições o permitem, demonstrando capacidades de dispersão muito maiores do que o esperado”.

As instituições envolvidas neste estudo foram o MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, ARNET – Rede de Investigação Aquática, e o Departamento de Paisagem, Ambiente e Ordenamento da Universidade de Évora, bem como o CIBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto e do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, incluindo o BIOPOLIS Program in Genomics, Biodiversity e Land Planning.
Esta investigação sublinha a necessidade contínua de proteger e restaurar a conectividade dos rios para apoiar as populações de peixes nativos, especialmente face aos desafios colocados pelas alterações climáticas na Península Ibérica.

Fonte: Nota de Imprensa / Universidade de Évora
Fotos: Filipe Banha