A União Europeia (UE) enfrenta desafios sem precedentes para assegurar a sua competitividade global num mundo cada vez mais digitalizado. Como foi recentemente salientado por Mario Draghi e reforçado no Parlamento Europeu por Henna Virkkunen, a nova Comissária para a Soberania Tecnológica, Segurança e Democracia, a transformação digital e a cibersegurança estão no centro desta nova agenda estratégica.
Nos últimos anos, as tecnologias de informação e comunicação têm sido o principal motor de crescimento global, mas a Europa tem perdido terreno. Apenas 4 das 50 maiores empresas tecnológicas mundiais têm origem europeia e a participação do continente nas receitas globais de tecnologia caiu de 22% para 18% na última década.
A falta de escala das empresas europeias e os obstáculos regulamentares são apontados como fatores determinantes deste desempenho. Além disso, o investimento em inovação na UE, particularmente em fases avançadas de desenvolvimento, é significativamente inferior ao dos EUA.
Os objetivos e metas digitais definidos para 2030 pelo Programa de Política da Década Digital (DDPP) e os vários regulamentos sobre serviços e mercados digitais, inteligência artificial, segurança e resiliência cibernética (com as siglas em inglês DSA, DMA, AIA, CA e CRA) são exemplos claros de como a UE pretende proteger o seu mercado interno e fomentar a competitividade com valores e ética.
Henna Virkkunen sublinhou a importância de garantir que todos os produtos digitais, desde o hardware ao software, sejam ciberseguros ao longo de todo o seu ciclo de vida. Este propósito não só protege os consumidores, como também assegura uma concorrência justa entre empresas europeias e internacionais, promovendo a confiança no mercado digital.

A cibersegurança tornou-se fundamental num cenário onde ciberataques são cada vez mais frequentes e sofisticados, afetando pequenas empresas, infraestruturas críticas e até cidadãos comuns. Virkkunen enfatizou que as novas regras da UE não podem sufocar as pequenas empresas com burocracia. É essencial oferecer apoio e flexibilidade, pois estas empresas são o motor da inovação europeia.
Porém, a questão da cibersegurança não se limita à proteção digital. Está profundamente ligada à soberania tecnológica europeia, tema central na visão de Mario Draghi. A dependência de infraestruturas e tecnologias extra comunitárias compromete a autonomia da Europa. Investimentos em áreas como inteligência artificial, computação em nuvem e “nuvens soberanas” são cruciais não apenas para proteger a UE, mas para a posicionar como líder global.
Este avanço tecnológico não pode ignorar o impacto social. A transformação digital exige requalificação e inclusão para garantir que ninguém é deixado para trás. A verdadeira resiliência da Europa dependerá da sua capacidade de integrar segurança, inovação e coesão social.
Como afirmou Virkkunen, a cibersegurança desde o projeto (by design) é mais do que uma necessidade técnica, e sim, uma exigência ética. Num mundo onde os desafios digitais crescem a cada dia, a Europa tem uma oportunidade única de liderar pelo exemplo, unindo competitividade, segurança e valores. Este é o desafio do nosso tempo e a UE não pode falhar.
Opinião de Luís Vidigal – Representante da sociedade civil na Rede Nacional de Administração Aberta, consultor internacional de e-Government, ativista cívico e ex-dirigente de topo em áreas tecnológicas e de modernização administrativa