A afirmação de Montemor-o-Novo como “capital nacional da pecuária extensiva” é um dos pontos fortes da EXPOMOR, que decorre nesta cidade alentejana desde quarta-feira e até ao dia 8 deste mês.

O Parque de Leilões de Gado é o “palco” deste certame, organizado pela APORMOR – Associação de Produtores do Mundo Rural da Região de Montemor-o-Novo, no âmbito da Feira da Luz, promovida pelo município local.

Segundo os promotores, “a EXPOMOR é um evento de visita obrigatória para todos os interessados em pecuária extensiva e no mundo rural”.

Em nota de imprensa, a APORMOR revelou que esta feira “inclui uma exposição permanente e concursos que mobilizam centenas de animais das principais raças de bovinos, ovinos, suínos e equinos”, salientando ainda “os leilões de bovinos para aquisição de genética de elevada qualidade”.

Em declarações ao Diário do Sul, Joaquim Capoulas, presidente da Direção da APORMOR, falou das expectativas para esta edição da EXPOMOR, partilhando também algumas preocupações que afetam o mundo rural.

Em relação a este ano, destacou a aposta em “dar um tratamento novo ao espaço, com vários pontos de atração para as pessoas se fixarem”, referiu, adiantando que “vamos passar informação importante e atrativa que prende a atenção das pessoas”.

O mesmo responsável evidenciou que, “contrariamente a outras feiras que há no Alentejo, a EXPOMOR é uma feira exclusivamente das espécies da pecuária extensiva do montado”, revelando que “não há mais nenhuma no país com o número de animais e com a qualidade dos animais que aqui estão”.

De acordo com Joaquim Capoulas, “é uma afirmação de uma parte importante do mundo rural, que são os efetivos pecuários”, lembrando que “foram muito maltratados ao longo de pelo menos 25 anos, em que as vacas eram acusadas de provocarem alterações climáticas, devido à emissão de metano”.

Acrescentou que “agora chega-se à conclusão, com os incêndios que têm havido em Portugal, em Espanha e em todos os países do Mediterrâneo, que são uma condição essencial para controlar a origem dos incêndios ao consumirem os pastos que existem”.

A esse respeito, frisou que “há alguns incêndios que são atribuídos a mão criminosa, mas a maior parte são por ignições de causa natural, ficando incontroláveis porque os terrenos estão abandonados e arde tudo”.

O presidente da Direção da APORMOR alertou também que “Portugal perdeu muita da sua soberania alimentar, ficando dependente de outros países, pelo que é importante retomar a produção”.

Recordou que “já em 2022 fizemos aqui um seminário sobre soberania alimentar, mas pensava-se que estava adquirido que os alimentos vinham de fora”, reiterando que “agora já todos falam disso como elemento condicionante de defesa”.

O mesmo responsável constatou que “não é só ter armas, é preciso garantir que haja alimentos suficientes para as pessoas porque em tempos de guerra as fronteiras podem fechar”, lamentando que, “neste momento, estamos muito vulneráveis nessa área”.

Relativamente à edição deste ano da EXPOMOR, deu conta de que “temos, mais uma vez, uma mostra de animais do extensivo de grande qualidade e em grande quantidade porque toda a gente quer cá vir com os seus animais”.

Adiantou que “temos aqui bovinos, ovinos, caprinos, suínos e equinos”, sustentando que “o papel da APORMOR é defender estes efetivos, na medida em que eles estão inseridos num ecossistema que é o montado”, relembrando que “o montado é um sistema único, que só existe no nosso Alentejo, em algumas zonas das Beiras, na Andaluzia e na Extremadura”.

Em anos anteriores, este certame tem tido em exposição cerca de mil animais. A esse nível, Joaquim Capoulas salientou que “é possível que este ano o número de animais seja ligeiramente mais baixo porque tem havido uma grande redução dos efetivos, dado que a atividade não era atrativa”.

Explicou que “agora, como os preços subiram, houve produtores com dificuldades financeiras que aproveitaram para vender e melhorar a sua situação”, comentando que “isso é mau porque são animais que produziam e que agora deixam de o fazer”.

Na sua opinião, “se continuar tudo a correr como está agora com a valorização dos efetivos, vai levar uns quatro ou cinco anos a estabelecer o equilíbrio”.

Outro ponto importante deste certame é o leilão de machos bovinos reprodutores subvencionado pela APORMOR. “Começámos a fazê-lo em 2012 e tem dado excelentes resultados na melhoria dos efetivos”, garantiu o mesmo dirigente.

Os diferentes colóquios que fazem parte do programa da EXPOMOR são outro destaque do evento.

Hoje são apresentadas as conclusões do projeto NOTS – Nitro Organic To Soils, cuja coordenação é do ISA – Instituto Superior de Agronomia, da Universidade de Lisboa, decorrendo esta sessão no âmbito das AgroTalks – Fertiprado.

Em nota de imprensa, a APORMOR esclareceu que “o NOTS pretende contribuir positivamente para o setor agrícola, através da promoção da cultura de leguminosas para a melhoria da qualidade do solo e uma melhor gestão de nutrientes, em particular na produção com menor pegada de azoto”.

É também referido que “a APORMOR associa-se ao NOTS, projeto financiado pelo Mecanismo de Recuperação e Resiliência da Comissão Europeia, divulgando práticas agrícolas que fomentam a sustentabilidade do sistema agro silvo pastoril do montado e a pecuária extensiva de baixo carbono”.

Joaquim Capoulas apontou ainda que, “nesta edição da EXPOMOR, a raça do ano é a Bovina Alentejana, organizando hoje a associação de criadores (ACBRA) um concurso da raça e um colóquio”.

Está também agendado um colóquio sobre a política agrícola para amanhã, às 10 horas, organizado pela APORMOR, em parceria com a CAP- Confederação dos Agricultores de Portugal.

O mesmo responsável revelou que “o objetivo é fazer uma história da agricultura alentejana, desde meados do século XIX até aos dias de hoje, com as transformações que aconteceram”.

Na sua perspetiva, “só conseguimos gerir o futuro conhecendo o passado e, no caso do montado, queremos perceber como é que chegou até aqui para não cair nos mesmos erros”, mencionando que “ainda temos custos como a grande destruição dos solos com a cultura intensiva de trigo”.

Ainda em relação a este certame, o presidente da APORMOR concluiu que, “paralelamente à mostra, queremos que o espaço seja atrativo para as pessoas que aqui vêm, que não passem só para o outro lado da feira à procura dos concertos e que se sintam bem junto dos nossos animais e das iniciativas que aqui vão haver”.

Texto: Redação DS / Marina Pardal
Fotos: DS

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