Terminamos hoje o ciclo de entrevistas promovido pelo Diário do Sul e pela Rádio Telefonia do Alentejo, a propósito das eleições autárquicas de 12 de outubro.
Falámos com todos os candidatos à presidência da Câmara de Évora, sendo as entrevistas feitas pela ordem em que foram apresentadas as respetivas candidaturas.
Temos então Pedro Ferreira, candidato à presidência da Câmara Municipal de Évora pelo Bloco de Esquerda (BE).
Tem 47 anos e é natural de Évora, onde reside, embora tenha crescido em Almada.
É licenciado em Engenharia Informática pela Universidade de Évora (UÉ) e pós-graduado em Segurança Informática pelo Instituto Politécnico de Beja.
Desde 2007, é especialista em informática no Município de Portel. A par disso, desde 2023, é consultor e formador na área de Cibersegurança e Proteção de Dados.
No seu percurso, destaca-se que presidiu ao Núcleo de Estudantes de Engenharia Informática da UÉ, bem como à Associação de Moradores do Bairro da Câmara.
Tem uma paixão pelo desporto, sendo instrutor de artes marciais.
Como independente, nas autárquicas de 2021, foi cabeça de lista pelo BE para a Assembleia da União das Freguesias de Bacelo e Senhora da Saúde e, em 2025, encabeçou a lista do BE à Assembleia da República pelo círculo eleitoral de Évora. Atualmente, é militante e dirigente distrital do BE.

Porque é que se candidata à Câmara de Évora?
Desde 1997 que estou de regresso a Évora e quando olho a cidade, agora em 2025, não vejo a mesma cidade que via no princípio dos anos 2000. Tem ficado cada vez mais abandonada e penso que a câmara se virou “de costas” para os seus cidadãos.
Todos aqueles que foram projetos âncora nos anos 90 foram desaparecendo. Chegamos a 2025 em que uma capital de distrito deveria ser um polo nevrálgico de desenvolvimento regional e não a sentimos assim.
Sempre gostei de política e sempre fui interventivo, tendo sido proposto pelos meus camaradas para me candidatar depois do Bruno Martins ter desistido da sua candidatura (por questões de saúde).
Quero dar um novo alento a Évora, quero que seja uma candidatura verdadeiramente de esquerda e fraturante com a esquerda que tem acontecido.

Quais os principais desafios do Município de Évora?
A limpeza é sempre a questão que mais impacta, mas não quer dizer que seja a mais importante.
Percebemos que Évora tem uma equipa de limpeza grande. Sabemos, por palavras do senhor presidente da câmara, que foi gasto numa externalização de serviços 700 mil euros. No entanto, não me parece que a organização dos funcionários e o método de trabalho seja o mais eficiente.
O que nós propomos é mais formação, mais meios, mais funcionários e um reagrupar dos funcionários para que as equipas de limpeza sejam mais eficientes. Mas não podemos esquecer que tivemos um ano extremamente chuvoso, então é óbvio que as ervas cresceram mais do que o normal.
A limpeza urbana é uma prioridade para nós. Não queremos externalizar os serviços, mas sim dar mais meios aos trabalhadores para poderem executar a sua tarefa.
No orçamento do município estão dois milhões para a limpeza urbana, num orçamento de 104 milhões de euros. Obviamente que é insuficiente. Se calhar, o orçamento para adquirir novos equipamentos, para fazer a monda térmica por exemplo, tem de estar contemplado neste orçamento da limpeza.
Temos também de disponibilizar num Portal do Cidadão informação para que se perceba porque é que vai ser limpa uma determinada rua, por exemplo.
Há uma outra questão que toca na limpeza. Évora recicla 11 por cento dos resíduos sólidos urbanos e nós temos uma meta, até 2030, para 63 por cento. Por tonelada, nós pagamos à Gesamb 35 euros pela taxa de gestão de resíduos e 65 euros pela taxa de enterramento. Se nós não subirmos a nossa taxa de reciclagem, vamos ter de pagar mais à Gesamb e esse valor vai refletir-se na taxa de resíduos na fatura da água.
Os camiões de recolha dos resíduos têm de ter percursos definidos e otimizados, não só em termos de tempo, mas também de consumo.
Outro desafio é a gestão autárquica. Temos de falar com os funcionários, as chefias e as chefias intermédias para fazer uma avaliação e reestruturar o município, que precisa de um choque tecnológico.
Nós estamos numa capital de distrito e há municípios do nosso distrito que oferecem mais serviços digitais que o Município de Évora. Isto acontece porque houve uma colagem da Câmara de Évora à Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central. Tem de se resgatar e ser tecnologicamente independente, como já há outros municípios que são.
Em relação ao licenciamento, as pessoas têm de perceber onde é que estão os seus processos. Tecnologicamente, eu deveria conseguir consultar o meu processo online e conhecer todos os passos desde que deu entrada até à decisão final.
No que diz respeito ao trânsito, destaco o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável que já existe e é um plano extremamente bem estruturado, com boa conceção e boas ideias. No entanto, falta a passagem da teoria à prática, que é algo que requer mestria.

Quais os pilares estratégicos da sua candidatura?
A habitação é um pilar estratégico. Queria começar por falar do Banco Europeu de Investimento, que tem 1384 milhões de euros que permite a construção de 120 mil casas de habitação pública. Nós temos de ir a estes fundos e mais os do PRR. Se dessas 120 mil, viessem 100 casas para o nosso concelho ficaria contentíssimo.
Também são muito importantes as cooperativas de habitação para a construção a custos controlados. A par disso, a iniciativa privada para construção é sempre bem-vinda, mas temos um requisito, que pelo menos 25 por cento da sua construção seja habitação a custos controlados. Temos de garantir que, quer seja construção de iniciativa privada, quer seja pública, que a habitação é para todos sem exceção.
Um dos problemas que identificamos é o alojamento local, que tem de se travar imediatamente. Temos de taxar ainda mais quando convertemos uma casa de habitação em alojamento local.
Queremos ainda agravar os IMI dos devolutos. Sabemos que temos quatro mil casas devolutas no concelho. As casas existem, então temos de ter a coragem, usando os mecanismos legais, de permitir um arrendamento forçado. Quando o legítimo proprietário quiser o imóvel de volta, acertamos as contas e tem o seu imóvel de volta.
Perante isto, eu diria que o munícipe é que é o nosso verdadeiro pilar.
Relativamente ao ambiente, a economia não pode depender da destruição do património, da fauna, da flora ou da paisagem. São exemplos os mega projetos das fotovoltaicas, a extração de minérios ou a agricultura intensiva.
Lembrar ainda que o Cromeleque dos Almendres tem seis mil anos. Stonehenge tem três mil e para visitá-lo pagamos uma “pipa de massa”. No Cromeleque dos Almendres temos uma estrada degradada, em terreno privado. Este é um monumento nacional que tem de ser tratado com a mesma dignidade, ou maior, que é o Stonehenge.
Na nossa perspetiva, a questão do investimento económico prende-se muito por aliar duas coisas, a formação, pois temos de ter pessoas com competências, e essas pessoas têm de ter um local para trabalhar. Há esta desarticulação, nós formamos indivíduos que depois não conseguem entrar no mercado de trabalho em Évora. Não estou a dizer que só devemos formar trabalhadores para o tecido empresarial da região, mas temos de perceber quais são as necessidades em termos de emprego e em conjunto com a universidade e os centros de formação vermos como é que conseguimos fixar população.

Évora é Capital Europeia da Cultura em 2027. Que impacto pode ter este acontecimento no concelho e na região?
O que me preocupa é Évora 2028. E a desagregação completa que há entre a Associação Évora 2027 e os agentes locais.
Quando chegarmos a 2028, vamos olhar para trás e perguntar quais são os projetos âncora que foram desenvolvidos. Foram projetos “chave na mão” que vêm de Lisboa, Espanha ou França. Vão ser espetaculares, mas que marca deixarão no território? O pavilhão multiusos vai ser construído? Com três mil lugares para não ser rentável? Ou vamos fazer o esforço para construí-lo com os cinco mil lugares para ser rentável? Espero enganar-me, mas na minha perspetiva, e na forma como se está a encaminhar, a Capital Europeia da Cultura vai ser um produto de consumo e não é isso que precisamos. Precisamos de aproveitar esta estratégia para alterar o território e marcá-lo com um elemento basilar que fique na história.
Candidatos efetivos à Câmara Municipal de Évora pelo BE – Pedro Ferreira, Patrícia Rico, Filipe Luna, Ana Cláudia Rosado, João Ferro, Catarina Silva e German Rueda
Cabeça de lista à Assembleia Municipal de Évora pelo BE – João Pinheiro
Texto: Redação DS / Marina Pardal
Fotos: DS
Entrevista publicada na edição imprensa do jornal Diário do Sul a 29 de setembro de 2025.