Neste ciclo de entrevistas que promovemos no Diário do Sul e na Rádio Telefonia do Alentejo, a propósito das eleições autárquicas de 12 de outubro, falámos com todos os candidatos à presidência da Câmara de Évora.

Essas entrevistas foram feitas pela ordem em que foram apresentadas as respetivas candidaturas.

Nesse sentido, hoje é a vez de Fábio Cabaço, candidato à presidência da Câmara Municipal de Évora pela Iniciativa Liberal (IL).

Tem 39 anos e é natural de Redondo, embora resida em Évora há quase duas décadas.

Neste momento, desempenha funções como diretor comercial numa multinacional alemã, depois de ter passado por empresas multinacionais nos setores da segurança, telecomunicações e seguros.

A nível académico, encontra-se a oito cadeiras de concluir a licenciatura em Estudos Europeus na Universidade Aberta, sendo “minor” em Economia, Direito e Sociedade.

No seu percurso, destaca-se também o serviço à comunidade. Serviu como militar durante quase quatro anos, foi bombeiro voluntário nos Bombeiros de Redondo e esteve envolvido na direção de várias associações.

Esta é a primeira vez que é candidato numas eleições, mas sempre foi um cidadão ativo e consciente, determinado a lutar pelo bem comum.

Porque é que se candidata à Câmara de Évora?

Gosto muito de desafios. Não sou político, sou um cidadão comprometido com o bem-estar comum da sociedade. Há cerca de 20 anos que vivo em Évora e conheço os problemas daqui, mas também o potencial que a nossa cidade tem. Acredito que a política deve ser com base no bom-senso e é nesse seguimento que me candidato pela IL.

Quais os principais desafios do Município de Évora?

Temos de verificar quais são as problemáticas do nosso concelho e tentar alterar as coisas para que a população sinta o menos possível esses problemas.

A limpeza é um desses desafios. Temos problemas claros na habitação, com o aumento substancial dos preços e as famílias a saírem para os concelhos vizinhos para tentarem encontrar um equilíbrio nos seus orçamentos. Temos a problemática do trânsito, que, muitas vezes, retira qualidade ao tempo dos cidadãos. E não temos uma estrutura de transportes públicos que sirva na realidade as pessoas.

Temos ainda a situação do emprego e da economia local. Tem de se injetar aqui grande parte do nosso empenho para que ter mais atividade e “abrir mais portas” para os munícipes.

Há ainda a sustentabilidade em termos da valorização do nosso património e das nossas soluções ambientais, pois temos de ter no horizonte esta transição energética.

Quais os pilares estratégicos da sua candidatura?

Quando contactamos com os eborenses, o feedback que temos é que muito pouco foi feito. Nesse sentido, destaco quatro pilares fundamentais, que se vão conectando de alguma forma.

Começo pela habitação. Temos de ter uma intervenção o mais rápida possível em termos de habitação social. Relacionado com este ponto é muito importante a atração de investimento porque não queremos que as pessoas tenham acesso a esse tipo de habitação para sempre. Queremos que seja só quando têm realmente necessidade. É como se a habitação social fosse usada durante uma fase transitória até haver uma melhoria das condições de vida.

Também é muito importante a reabilitação da malha urbana. Temos um centro histórico fantástico, mas fora da muralha há muitos terrenos baldios. Isto traz problemas inclusive a nível da mobilidade. Para chegarmos do ponto A ao ponto B, em certos casos, demoramos três vezes mais de transportes públicos do que na nossa viatura. Outro exemplo é que entre a muralha nas Portas de Aviz e os bairros temos imenso espaço que pode ser ocupado com casas e zonas verdes, tendo assim uma cidade mais homogénea, sem espaços em branco sem utilidade.

A IL defende também a existência de loteamentos municipais. A intenção não é a câmara ser uma imobiliária, nem ganhar dinheiro com isso. É dar condições a quem está a começar a sua vida a ter a sua própria casa. Na prática, a câmara tem alguns terrenos nesses espaços vazios ou poderá adquirir espaços, cria o loteamento e depois vende esses lotes. No entanto, não são vendidos a toda a gente, mas sim a quem trabalha ou reside no concelho de Évora e não tem casa própria. E existe um período em que a câmara tem opção de compra, para que não exista especulação imobiliária.

Outro dos nossos pilares tem a ver com o trânsito e a mobilidade. Queremos uma reestruturação das rotas a nível dos autocarros Trevo. Temos autocarros elétricos que são excelentes e com um preço por bilhete acessível, mas que nem sempre servem as necessidades das pessoas.

O nosso candidato à assembleia municipal, João Sabino, está a terminar um mestrado em sistemas de transporte e tem um projeto para a reestruturação do transporte público em Évora. Criar mais vias para os autocarros para haver uma maior fluidez no trânsito e queremos que a ecopista possa conviver entre atividade física e uma via específica para o autocarro Trevo, sendo a ideia ligar os Canaviais ao Parque Industrial através da ecopista, com paragens nos bairros.

Queremos ainda arranjar forma de fazer a interligação das ciclovias que já existem e um reforço na sinalética, na iluminação LED e nos redutores de velocidade.

Outro pilar é a gestão eficiente e transparente da autarquia. É muito importante que os eborenses saibam onde se gasta o nosso dinheiro. A criação de um portal da transparência é uma prioridade para nós, bem como simplificar processos camarários a todos os níveis e fazer auditorias regulares aos serviços municipais.

Temos ainda dois projetos mais ambiciosos. Um tem a ver com a descentralização das funções de proximidade para as juntas de freguesia. Limpeza ou controlo das ervas são exemplos de áreas que devem ser responsabilidade das juntas de freguesia, injetando-lhes um maior apoio financeiro e mais recursos humanos.

A outra medida é o equilíbrio das contas em quatro anos. Nenhum orçamento é saudável quando depende de financiamento e falo em financiamento bancário, não de fundos comunitários ou PRR. Esses fazem parte e tem de haver um empenho da autarquia em não perder esses apoios.

Esse equilíbrio consegue-se no último pilar do nosso programa, que está relacionado com o desenvolvimento económico. Temos de simplificar os processos administrativos a nível de licenciamentos, mas também criar um balcão do investidor.

Temos de criar uma sinergia entre as empresas, a Universidade de Évora e as escolas de formação. Não podemos estar a formar pessoas em áreas que não fazem falta em Évora. As escolas de formação já fazem um pouco esse trabalho, mas a câmara tem de ajudar o máximo possível nessa área.

A atração de investimento é outro ponto, quer grandes empresas, quer pequenos negócios. Parte do nosso orçamento municipal é proveniente de impostos. Por isso, se tivermos uma economia mais forte dentro de Évora, vamos conseguir aumentar os valores de receita.

E temos de promover e vender a nossa cidade lá fora. Temos os turistas a pernoitar na cidade apenas cerca de dois dias. Temos de criar roteiros para as pessoas permanecerem o máximo de tempo possível no nosso concelho, incluindo criar sinergias com os concelhos vizinhos para que o distrito de Évora seja um destino de férias para uma semana, por exemplo.

Évora é Capital Europeia da Cultura em 2027. Que impacto pode ter este acontecimento no concelho e na região?

A Capital Europeia da Cultura (CEC) deve ser um marco muito importante para nós. Contudo, o processo teve uns atrasos e há partes do projeto que já não vão avançar, como o pavilhão multiusos.

Até ao momento, acho que os eborenses ainda não conseguiram ter acesso ao que é realmente a CEC 2027 e não lhe dão assim tanta importância porque não sabem o potencial que tem.

Uma das prioridades da IL, caso vença as eleições, é criar uma equipa multidisciplinar que apoie a associação Évora 2027 para que não se perca nem um cêntimo daquilo que são os apoios disponíveis.

E tentar que Évora 2027 se prolongue ao longo do tempo. Há uma dinâmica que vai acontecer em 2027 e temos de conseguir reter essa dinâmica a nível cultural.

Nós somos muito críticos do programa cultural que existe em Évora porque achamos que a cultura é para todos e não só para quem vive dentro do centro histórico.

A cultura tem de ser descentralizada porque nem todas as pessoas têm possibilidade de ir à Praça do Giraldo, por exemplo. Devia haver uma deslocalização dos espetáculos, levando-os até outras freguesias, para além do centro histórico.

Candidatos efetivos à Câmara Municipal de Évora pela IL – Fábio Cabaço, Rodrigo Mendonça, Mariana Marques, Manuel Santo, Catarina Boa-Fé, João Ramalhinho e Maria Delfina Sabino

Cabeça de lista à Assembleia Municipal de Évora pela IL – João Sabino

Texto: Redação DS / Marina Pardal
Fotos: DS

Entrevista publicada na edição imprensa do jornal Diário do Sul a 26 de setembro de 2025.

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