No Diário do Sul e na Rádio Telefonia do Alentejo promovemos um ciclo de entrevistas a propósito das eleições autárquicas do próximo dia 12 de outubro.
Falámos com todos os candidatos à presidência da Câmara Municipal de Évora, sendo as entrevistas feitas pela ordem em que foram apresentadas as respetivas candidaturas.
Hoje temos connosco João Oliveira, candidato à Câmara de Évora pela CDU – Coligação Democrática Unitária, formada pelo PCP e pelo Partido Ecologista “Os Verdes”.
Nasceu em Évora, em 1979, mantendo até hoje uma profunda ligação ao concelho de onde é natural e onde viveu e estudou.
Tem formação em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Atualmente, é deputado ao Parlamento Europeu, mas já foi deputado à Assembleia da República da X à XIV legislatura pelo círculo eleitoral de Évora, tendo assumido o cargo de presidente do Grupo Parlamentar do PCP entre 2013 e 2022.
É ainda membro da Comissão Política do Comité Central do Partido Comunista Português.

Porque é que se candidata à Câmara de Évora?
Lançaram-me um desafio que é impossível de recusar. Qualquer eborense que tenha tido o percurso de intervenção cívica e política que eu tive ao longo dos últimos anos, em particular sendo deputado pelo distrito de que Évora é a capital, era difícil dizer que não ao repto que foi feito de assumir a candidatura à Câmara de Évora. Com todos os desafios que isso comporta e com as perspetivas de futuro que, naturalmente, o concelho de Évora tem pela frente e que precisa de aproveitar para melhorar a qualidade de vida, para garantir o desenvolvimento e o bem-estar das populações.

Quais os principais desafios do Município de Évora?
Há respostas imediatas e urgentes que têm de ser dadas a questões como a higiene e limpeza; configuração do espaço público; transportes, estacionamento ou mobilidade.
Depois, há também grandes investimentos que estão a ser feitos que precisam de uma gestão autárquica capaz de os aproveitar. Nós vamos ter o novo Hospital Central do Alentejo feito em Évora; vamos ter uma ligação ferroviária internacional que liga o Porto de Sines ao resto da Europa, com tudo o que isso significa de potencial para o crescimento económico, fixação de empresas, desenvolvimento da atividade produtiva ou criação de emprego qualificado. Tal como a conclusão do IP2, que dotará também o concelho de uma infraestrutura rodoviária de grande importância. E temos pela frente uma candidatura vencedora, que a CDU preparou, a Capital Europeia da Cultura (CEC), que vai ser feita em 2027, mas que precisa de ser encarada muito para lá da cultura e tem de ir muito para lá de 2027. Julgo que só com uma gestão autárquica da CDU é que estamos verdadeiramente em condições de garantir que todos esses investimentos sejam aproveitados para desenvolver o concelho, para melhorar a qualidade de vida das populações, para garantir melhor acesso à habitação e aos serviços públicos.
Uma candidatura da CDU tem a grande vantagem de poder mostrar aos eborenses um projeto de desenvolvimento que tem acontecido e que não pode ser interrompido.
Há, naturalmente, problemas que têm de ser resolvidos. As questões da limpeza, higiene e qualificação do espaço público precisam de uma intervenção em dois sentidos. Precisam de mais capacidade de resposta dos serviços municipais e precisam de maior sensibilidade por parte dos cidadãos para essas preocupações. As pessoas perderam o cuidado com a sua cidade e com o espaço público, amontoando lixo em todo o lado.
Queremos reforçar a capacidade de resposta dos serviços municipais. É preciso mais trabalhadores, mas também equipamentos e veículos, além de ser preciso serviços reorganizados.
Também poderia falar da resposta às necessidades dos empresários do parque industrial e aeronáutico ou do movimento associativo, seja na cultura, desporto, juvenil ou social. Nós precisamos de mais capacidade de resposta dos serviços municipais para que a resposta seja mais rápida, mais eficaz e mais próxima das pessoas.

Quais os pilares estratégicos do programa desta candidatura?
O primeiro grande eixo é o reforço da capacidade de resposta dos serviços municipais, com a sua modernização e reorganização, mas também com a valorização dos trabalhadores e com o reforço do número de trabalhadores nas áreas em que há défice. Essa questão é essencial e acaba por ser transversal a estas áreas de que já falámos, como a limpeza, higiene, qualificação do espaço público, da rede viária, da capacidade de resposta aos problemas dos empresários e do apoio que é preciso dar ao desenvolvimento da atividade produtiva e da resposta ao movimento associativo
Há um segundo elemento que tem a ver com a melhoria das condições de vida e o reforço da coesão social. Entram aqui as questões relacionadas com o acesso à habitação ou o apoio social e às famílias.
Em relação à habitação, este é um problema do país e da Europa. Mas em Évora, da parte da câmara, o trabalho está feito. A partir da autarquia foi aprovado um Plano Local de Habitação que envolve, só da responsabilidade direta do município, 67 milhões de euros de investimento com candidaturas apresentadas ao PRR, a que se acrescentam quase mais 70 milhões da Habévora e mais entre 65 e 70 milhões de investimento de individuais, instituições, cooperativas. No caso do município, o Governo apenas desbloqueou, até agora, dez milhões de euros das verbas do PRR.
A par disso, o Plano Diretor Municipal, com a alteração que foi feita, permite hoje a construção de cinco mil novos fogos na área urbana, mais dois mil nas freguesias rurais.
Nas questões relacionadas com a qualificação do espaço público, da mobilidade sustentável, transportes ou rede viária, um exemplo é a concretização do projeto do Ramo Nascente da Variante a Évora, para desafogar o trânsito do centro histórico.
A afirmação da cultura e o apoio ao associativismo é outro pilar essencial. Évora tem de facto na cultura um vetor de desenvolvimento que é inquestionável. O desenvolvimento de Évora assenta na cultura, muito para lá da CEC, mas tem naturalmente neste acontecimento um instrumento importante.
A articulação com instituições, nomeadamente a Universidade de Évora ou o Hospital Central do Alentejo, também tem de ser assegurada.
Vamos ter equipamentos e infraestruturas de topo e é preciso termos profissionais para garantir que tudo isso funciona a favor das populações. Isso é responsabilidade do Governo, mas a Câmara de Évora pode contribuir para que essa ligação seja bem concretizada.
É ainda preciso prosseguir o caminho de dinamização da economia, da atividade produtiva e da criação de emprego. Recorde-se que em outubro de 2013, o prazo de pagamento médio aos fornecedores era de 755 dias. Em final de 2024, era de 141 dias.
A CDU tem soluções para os problemas de Évora. Algumas já podiam estar implementadas, mas, em certas circunstâncias, não tivemos condições para isso, em particular no último mandato em que tínhamos dois vereadores em sete.

Évora é Capital Europeia da Cultura em 2027. Que impacto pode ter este acontecimento no concelho e na região?
A CEC foi programada e projetada para servir o desenvolvimento do concelho de Évora e do Alentejo. E todas as instituições têm a obrigação de garantir que se realiza nos termos em que a candidatura foi vencedora.
Évora só ganhou porque a autarquia da CDU garantiu que era preparada uma candidatura que não se limitava a ter em 2027 um ano de espetáculos e “zero” em relação a tudo o resto.
Se for cumprido aquilo que está no livro de candidatura, pode ser um instrumento absolutamente decisivo para a consolidação e a estruturação do tecido artístico e cultural do nosso concelho e do Alentejo, podendo ser também um elemento de transformação urbanística, de mobilidade, de equipamentos ou dos espaços verdes. Pode ser uma revolução do ponto de vista da melhoria das condições de vida dos eborenses. E nada disso se extingue em 2027, indo muito para lá da cultura.
Nós assumimos o compromisso de, integrando a CEC, preparar um plano de desenvolvimento cultural Évora 2037, para garantir que a CEC vista nos dez anos seguintes possa ser plenamente aproveitada do ponto de vista do desenvolvimento cultural. E para garantir que atrás disso tudo o resto possa ser aproveitado.
Candidatos efetivos à Câmara Municipal de Évora pela CDU – João Oliveira, Alexandre Varela, Lília Fidalgo, Pedro Costa, Maria Clara Grácio, Susana Bilou Russo e Armando Ramalho
Cabeça de lista à Assembleia Municipal de Évora pela CDU – José Figueira
Texto: Redação DS / Marina Pardal
Fotos: DS
Entrevista publicada na edição imprensa do jornal Diário do Sul a 18 de setembro de 2025.