OPINIÃO por João Palmeiro • Promotor e Divulgador Cultural
A ascensão de África é, na verdade, a ascensão das suas cidades. A verdadeira transformação do continente não acontece em fronteiras nacionais, mas nos centros urbanos que funcionam como o hemisfério norte numa rede interligada de inovação, comércio e cultura. No entanto, uma verdade desconfortável paira sobre este potencial: a pesada carga da dívida externa, que ameaça sufocar o ímpeto e o crescimento destas mesmas cidades.

A sua análise identifica 25 cidades estratégicas, cada uma com um papel distinto e crucial:
- Portos e Portais: Cidades como Mombasa e Dakar são as artérias que alimentam as economias do interior, ligando-as ao comércio global.
- Centros Financeiros: Lagos e Joanesburgo são os polos de atração de capital, onde o dinheiro encontra oportunidades.
- Capitais Políticas: Adis Abeba e Cairo projetam a sua influência diplomática e de segurança para além das fronteiras.
- Potências Emergentes: Lusaca e Maputo representam a próxima onda de crescimento, impulsionada por investimentos em setores-chave.
- Centros Culturais: Dakar e Abidjan demonstram o poder da cultura e da identidade que moldam a narrativa do continente.
De entre todas, Lagos destaca-se como a cidade com o papel mais crítico para a próxima década. Com o seu poder económico (é a maior economia da África Ocidental), um crescimento demográfico acelerado e um ecossistema de inovação tecnológica vibrante, especialmente no setor de fintech, Lagos é um motor que, por si só, pode impulsionar o crescimento regional e até continental.
Contudo, este potencial está em risco. A sua segunda análise expõe o custo humano e estrutural da dívida externa. Em muitos países africanos, os governos gastam mais no serviço da dívida do que em saúde e educação combinadas. Este cenário é paradoxal: enquanto as cidades florescem e demonstram potencial, os orçamentos que deveriam sustentar o seu crescimento (hospitais e escolas) são esmagados pelos pagamentos de juros.

O caminho a seguir não é rejeitar as finanças globais, mas sim reequilibrar as prioridades. A solução reside em:
- Maior agregação de valor às matérias-primas.
- Condições de comércio mais justas.
- Modelos de financiamento inovadores que não criem novos ciclos de dependência.
A questão central deve deixar de ser “quanto a África deve” para passar a ser “como a África cresce”. O futuro de África será forjado nos corredores entre as suas 25 cidades estratégicas. Contudo, esse futuro só será próspero se o peso da dívida for aliviado, permitindo que o investimento em capital humano e nas infraestruturas necessárias aconteça. As cidades, como verdadeiros motores, precisam de combustível para funcionar, e a dívida tem-se mostrado, até agora, como um travão.
Qual destas duas perspetivas — o potencial das cidades ou o desafio da dívida — considera mais urgente para a discussão sobre o futuro de África?
”A divida não pode ser paga, primeiro porque se não pagarmos os credores não vão morrer, isso é certo. Mas nos se pagarmos acabaremos por morrer”, Thomas Sankara antigo presidente do Burkina Faso (1983/1987)
Edição e adaptação com IA de João Palmeiro com Dishant Shah