O Auditório 131 do Colégio do Espírito Santo, da Universidade de Évora, foi palco da conferência internacional “A Arte das Iluminuras Renascentistas – António de Holanda, as suas Artes e Ciências”, iniciativa realizada no âmbito do projetoROADMAP – Research On António de Holanda Miniatures Artistic Production, que reuniu especialistas nacionais e internacionais de história da arte, química e ciência da conservação, para debater os resultados de uma investigação pioneira sobre a obra de António de Holanda, iluminador flamengo que se fixou em Portugal no início do século XVI e se destacou como o mais prestigiado miniaturista da corte de D. Manuel I.

Na sessão de abertura, António Candeias, Diretor do Laboratório HERCULES da Universidade de Évora, destacou o espírito de trabalho colaborativo que tanto se identifica nas práticas da unidade de investigação. “Este encontro representa a nossa prática habitual: trabalhar de forma colaborativa, valorizar os inputs dos parceiros envolvidos, com o objetivo de alcançar melhores resultados. Apesar de o HERCULES se apoiar numa estrutura multidisciplinar, isso não nos desmotiva de colaborar constantemente com outras entidades. Colaboração e internacionalização são as palavras-chave do nosso laboratório”. Também Pedro Flor, Professor Auxiliar com Agregação na Universidade Aberta e atualmente Presidente da Associação Portuguesa de Historiadores da Arte e representante de Portugal no Comité International d’Histoire de l’Art (CIHA), sublinhou a relevância do cruzamento de saberes: “Unir história de arte e química, ver a história de arte com outros olhos, cruzar estas fronteiras e unir diversas perspetivas de análise é, sem dúvida, o maior ganho que teremos deste encontro.”

A primeira sessão, subordinada ao tema “HERCULES adventures in the realm of colour”, esteve a cargo de António Candeias, Diretor do Laboratório HERCULES da Universidade de Évora. Criado em 2009, o HERCULES iniciou o seu percurso com o estudo de pinturas murais, privilegiando uma abordagem que, segundo o investigador, assenta em “being, feeling, observing”. Essa metodologia começa pela documentação em fotografia de luz visível e é complementada com o recurso a técnicas avançadas, como fluorescência ultravioleta, reflectografia no infravermelho, imagem hiperespectral e radiografia por raios X, permitindo aceder a diferentes camadas da pintura e obter uma visão única da sua estrutura interna. Aplicadas ao estudo das iluminuras renascentistas de António de Holanda, estas técnicas permitem não apenas identificar a paleta cromática e os pigmentos utilizados, mas também compreender os processos de execução e as sucessivas intervenções ao longo do tempo. Ao revelar detalhes invisíveis a olho nu, os métodos do HERCULES contribuem para a caracterização material e cronológica das obras, reforçando a ligação entre ciência e história da arte e oferecendo novas perspetivas sobre a prática artística no Portugal do século XVI.

Para além da apresentação dos principais resultados do projeto, este encontro teve como objetivo incentivar a participação de especialistas em iluminuras renascentistas e ciência da conservação, promovendo um debate científico sobre o estudo das fontes artísticas e tecnológicas relacionadas com a produção de manuscritos, a caracterização dos materiais e a análise da materialidade destas obras de arte históricas.

Coordenado por Catarina Miguel, investigadora do Laboratório HERCULES e da Cátedra CityUMacau em Património Sustentável da Universidade de Évora, o projeto ROADMAP, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e desenvolvido por um consórcio transnacional de investigação, incidiu sobre oito obras de arte atribuídas ou da autoria de António de Holanda, dispersas por bibliotecas e arquivos europeus, entre as quais o célebre Atlas Miller (1519), considerado uma ferramenta de alta diplomacia do Portugal manuelino.

Esta abordagem trata-se da primeira caracterização cronológica sistemática da obra de um iluminador renascentista, cruzando história da arte e caracterização material. Os estudos permitiram não só identificar a excelência dos materiais utilizados pelo artista, como também desvendar detalhes cartográficos surpreendentes – como a representação de inúmeras povoações na costa brasileira, apenas 19 anos após a sua descoberta, bem como referências aos territórios africanos e asiáticos sob domínio português. Uma das primeiras campanhas científicas do projeto decorreu na Biblioteca Nacional de França. Para além de análises elementares e moleculares, o trabalho integra métodos in situ e não invasivos, exigindo processamento de milhares de dados por equipas multidisciplinares.

Para além dos múltiplos momentos de debate e reflexão, foi também contemplada uma visita à Biblioteca Pública de Évora que acolhe a mostra temporária «Iluminar ao tempo de António de Holanda». A exposição inclui dois códices (livros de coro) e um incunábulo estudados por investigadores do CIDEHUS e do Laboratório HERCULES da Universidade de Évora. O trabalho incidiu sobre os processos de produção das iluminuras atribuídas a António de Holanda.

Fonte: Nota de Imprensa / Universidade de Évora
Fotos oficiais do emissário

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