Faturas do supermercado, boletins de jogo, caixas de medicamentos ou cartas de um baralho são alguns dos elementos que se juntam às tintas nos quadros de Jorge Serafim, que estão expostos no Museu da Misericórdia de Évora.

Inaugurada no dia 7 de julho, esta exposição temporária designa-se por “A palavra não confina” e pode ser visitada de segunda-feira a sábado, das 10 às 17h30.

Jorge Serafim, natural de Beja, e mais conhecido pelo seu percurso como contador de histórias, mostra aqui outra das suas facetas. Esta vertente ligada às artes plásticas surgiu ao ilustrar dois dos livros infantis que escreveu, “O Afinador de Memórias” e “Amar à Vista”.

Segundo a Santa Casa da Misericórdia de Évora (SCME), “com recurso à técnica mista, o autor constrói obras onde imagem e palavra se fundem num manifesto visual”.

A mesma fonte adiantou que “esta exposição propõe uma reflexão crítica e poética do quotidiano, questionando fronteiras do conformismo através de composições que narram histórias, emoções e inquietações humanas”.

Em declarações ao Diário do Sul, o provedor da SCME, Francisco Lopes Figueira, destacou que “o Jorge Serafim é uma personagem importante no contexto alentejano”, sublinhando que “é um artista com várias facetas e mostrou interesse em que esta mais ligada às artes plásticas pudesse ser apresentada aqui, o que é para nós uma honra”.

Frisou que as obras “têm técnicas e temas muito próprios e retratam de certa forma a maneira do Jorge Serafim ver o mundo, neste caso em imagem”.

Segundo Francisco Lopes Figueira, “fazemos exposições temporárias no museu e esta é mais uma, que há-de estar aqui uns meses”, reiterando que “ainda não temos definida a data em que termina, mas em princípio na época do Natal teremos outra exposição”.

“O tempo devia ser vida”

Em conversa com Jorge Serafim, ficámos a conhecer como começou o seu caminho no mundo das artes plásticas.

“Como trabalhei muitos anos na Biblioteca Municipal de Beja sempre fui um apaixonado pela literatura infantil e a ilustração”, confessou, admitindo que “comecei a dedicar-me a fazer ilustrações muito inspirado nesse universo da literatura infantil”.

A par disso, o humorista confidenciou que foi por “irritação” que tudo começou. “Já tenho vários livros infantis publicados, dois deles ilustrados por um colega que trabalhava na biblioteca, mas só que ele levava um, dois anos a fazer a ilustração para um texto”, recordou.

Acrescentou ainda que “um dia, irritado, disse que não podia estar à espera e pensei se não seria possível eu fazer a ilustração”, explicando que “com a técnica mista comecei a fazer ilustração e já fiz para dois dos meus livros”.

Assumindo que “é uma terapia”, Jorge Serafim contou que “passei a dedicar-me mais à ilustração, também no sentido de dizer alguma coisa, daí o título ‘A palavra não confina’”.

Especificou que “uso a técnica da colagem, tintas e muitos materiais do dia-a-dia, como boletins do Euromilhões, bulas dos medicamentos ou faturas”, focando que “o tempo está sempre presente em qualquer quadro, pois diz-se que ‘o tempo é dinheiro’, mas o tempo devia ser vida”.

Para o autor, “no fundo é um sinal de alerta e cada vez mais tem todo o sentido, pois as necessárias palavras não podem confinar, já as mentirosas não interessam a ninguém”.

Evidenciou ainda que “influenciado pela ilustração comecei a fazer quadros e há cerca de dois ou três anos que esta exposição tem circulado pelo país, nomeadamente por bibliotecas”, apontando que “há quadros que se vão vendendo e vou fazendo quadros novos”.

Quanto à mostra no Museu da Misericórdia de Évora, Jorge Serafim salientou que “é um espaço diferente e temos a arte contemporânea misturada com a arte sacra, mas é um contraste muito interessante”.

Revelou que “são cerca de 20 obras, algumas são referentes aos meus dois livros infantis que eu ilustrei, as outras são ilustrações livres”, comentando que “tenho cerca de dez livros publicados, não só infantis, mas também romance e poesia”.

O autor referiu também que “há um texto novo que já ilustrei e vai sair em breve”, anunciando que, “possivelmente, vai chamar-se ‘Nos corações abandonados vivem borboletas coloridas’, uma história inspirada nos sem-abrigo que vi em São Paulo”.

Texto e Fotos: Redação DS / Marina Pardal

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