O verão é sinónimo de tempo quente. No entanto, há períodos em que as temperaturas se mantêm mais elevadas durante vários dias, deixando em alerta a população e as instituições.

O fenómeno das ondas de calor começa a ser habitual, sobretudo em zonas como o Alentejo, e as recomendações para estas situações já são conhecidas. Ainda assim, no programa de junho, a Unidade de Saúde Pública (USP) do Alentejo Central levou este tema à Rádio Telefonia do Alentejo (RTA), reforçando alguns cuidados que se devem ter.

Para falar sobre esta temática estiveram presentes Beatriz de Aranha, médica interna de Saúde Pública (SP), João Barrigó e Diogo Santos, ambos médicos internos de Formação Geral (FG).

Para explicar o que é uma onda de calor, Beatriz de Aranha apresentou este cenário: “imagine que já está calor (como é normal no verão), mas, de repente, começa a fazer ainda mais calor e durante vários dias seguidos”, revelando que, “hoje em dia, dizemos que são dias com temperaturas adversas para a saúde, ou seja, o calor é tanto que o corpo já não consegue funcionar bem”.

Diogo Santos acrescentou que “as ondas de calor são mais agravadas nas cidades, onde o calor pode ser até 10.ºC mais quente do que no campo”, explicitando que “isto acontece porque o asfalto, os prédios e o betão guardam o calor, como se fosse uma estufa”.

Quanto aos cuidados que podemos, “beber mais de 1,5 litro de água por dia” é desde logo a primeira recomendação, salientando Diogo Santos que “com o avançar da idade, o corpo perde a sensação de ter sede” e alertou que “se a urina estiver muito amarela é sinal de que precisa de beber mais água”.

Já na alimentação, João Barrigó frisou que “devemos comer coisas leves e frescas, como fruta, saladas ou sopas frias, e evitar comidas quentes, pesadas, muito salgadas ou doces”, reforçando que “importa beber água, não é álcool ou refrigerante e deve evitar-se levar comida que se possa estragar com temperaturas altas”.

Por sua vez, Diogo Santos também deixou um alerta sobre o vestuário. “Use roupa leve, larga, de cores claras, de algodão ou linho, evitando botões metálicos e estampas em plástico que aquecem ao sol e podem queimar a pele”.

João Barrigó relembrou ainda que “devemos evitar sair entre as 11 e as 17 horas, mas, se for necessário fazê-lo, é importante andar à sombra e levar chapéu e água, além de usar protetor solar de fator 50, evitando o exercício físico nestas horas”.

Durante o programa também foram destacadas algumas considerações a respeito das habitações. De acordo com Diogo Santos, “o objetivo é manter a casa o mais fresca possível, por isso, durante o dia, o ideal é manter tudo fechado (janelas, cortinas, estores) e, mesmo que fique escuro, o importante é evitar que o calor entre”.

Depois, João Barrigó apontou que, “à noite, quando a temperatura desce, podem abrir-se as janelas para deixar entrar o ar fresco”.

Beatriz Aranha falou ainda “dos grupos de risco que são mais afetados por uma onda de calor, nomeadamente os idosos e as crianças, mas também as pessoas com doenças crónicas (como a diabetes e problemas cardíacos), pessoas com mobilidade reduzida ou grávidas”, evidenciando também “os trabalhos com exposição direta ao sol, como é o caso da construção ou da agricultura”.

Relativamente aos perigos de uma onda de calor, João Barrigó esclareceu que “o nosso corpo tenta manter-se sempre à mesma temperatura, por isso, quando está calor, começamos a suar”, constatando que “quando o calor é muito forte, ou o ar está húmido, o corpo perde a capacidade de regulação e podemos ter um insolação ou até um choque de calor, que é muito grave”.

Diogo Santos adiantou que “a insolação dá sinais como muito suor, tonturas, dores de cabeça, náuseas, vómitos e até desmaios”, sustentando que, “no choque de calor, a pessoa já nem sua mais, a pele fica seca, a pessoa pode alucinar, desmaiar ou até ter convulsões, o que é uma emergência e deve ligar-se para o 112”.

Foram também partilhados alguns números relativos a esta temática. João Barrigó recordou que, “em 2003, mais de 70 mil pessoas morreram na Europa por causa do calor”, focando que, “entre 1980 e 2015, morreram mais de cinco mil pessoas no Alentejo por essa mesma razão”.

Já para o final, Beatriz Aranha ressalvou também que “uma onda de calor não é um incentivo a ir à praia”, questionando o porquê “de continuamos a ver notícias que mostram imagens de arquivo com pessoas na praia quando se fala de ondas de calor”.

Na sua opinião, “é importante haver um alinhamento entre o que se diz e o que se mostra”, considerando que “seria importante reforçar essa mensagem mostrando pessoas em sítios frescos, na sombra ou com ar condicionado”.

Concluiu que “se mostrarmos pessoas na praia, não só passa uma ideia positiva de algo bom, como ainda contraria a mensagem principal de que durante as ondas de calor deve evitar-se ir à praia, pois há um risco elevado de desidratação, insolação, queimaduras na pele e até mal-estar grave”.

Texto: Redação DS / Marina Pardal
Foto: DS

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