Em 2025, o Prémio Vergílio Ferreira, instituído pela Universidade de Évora (UÉ), foi atribuído a Djaimilia Pereira de Almeida. A escritora, nascida em 1982, é a mais nova homenageada de sempre com este galardão.
Este é “um reconhecimento que me incentiva a continuar”, confessou a autora à margem da cerimónia de entrega do prémio que decorreu na academia alentejana, no dia 5 de março.
A sessão contou também com a presença da reitora da UÉ, Hermínia Vasconcelos Vilar, e do presidente do júri do Prémio Vergílio Ferreira 2025, Antonio Sáez Delgado. A apresentação da galardoada coube à professora universitária Cristina Firmino Santos.

Segundo a UÉ, “o júri decidiu, por maioria, atribuir o Prémio Vergílio Ferreira a Djaimilia Pereira de Almeida ‘pelo papel decisivo que tem desempenhado na revitalização da narrativa portuguesa contemporânea, construindo enredos e compondo personagens que problematizam questões de identidade, deslocamento e colonialismo, distanciando-se de e dialogando, num registo singular, com a tradição literária portuguesa’”.
Na nota de imprensa é ainda referido que “é considerada uma das vozes contemporâneas mais importantes da literatura em língua portuguesa e tem-se destacado pela forma como aborda questões de identidade, memória e pertença nos seus livros, amplamente premiados e traduzidos em dez línguas”.
De acordo com a mesma fonte, “Djaimilia Pereira de Almeida, escritora portuguesa nascida em Angola, estreou-se no romance em 2015, com Esse Cabelo”, realçando ainda outras das suas obras, como “Luanda, Lisboa, Paraíso, As Telefones, Três Histórias de Esquecimento, Ferry, Toda a Ferida é uma Beleza ou O Livro da Doença”.

Em declarações aos jornalistas, a homenageada confidenciou que “sinto-me profundamente honrada e muito alegre, sobretudo, tendo em conta os escritores que já receberam este prémio”.
Na sua opinião, “um prémio é tão mais importante quanto os escritores que o receberam” e constatou que “receber o Prémio Vergílio Ferreira é uma grande honra para mim, contemplando essa lista de anteriores premiados”.
Questionada sobre ser a escritora mais nova a receber este prémio, Djaimilia Pereira de Almeida admitiu que “dá-me um sentido de responsabilidade”, reiterando que “acho que tenho todo o tempo pela frente, os meus livros estão todos por fazer e, por isso, é um reconhecimento que me incentiva a continuar”.

Quanto ao que tenta transmitir com as suas obras, a escritora disse que, “através dos livros, posso ajudar as pessoas e ajudar-me a mim antes de mais e, através disso, impelir os leitores a reparar nas pessoas à nossa volta”, confirmando que “talvez seja essa uma das minhas ambições “.
Para o presidente do júri do Prémio Vergílio Ferreira 2025, “Djaimilia Pereira de Almeida é uma das maiores escritoras portuguesas da atualidade”.
Na perspetiva de Antonio Sáez Delgado, “ela consegue fazer como nenhum outro autor uma espécie de ‘radiografia’ sentimental do Portugal atual, que é ao mesmo tempo uma revisitação das páginas mais necessárias da história”, sublinhando que “essa espécie de articulação entre o presente e o passado faz dela uma escritora completamente singular”.

Também em entrevista à comunicação social, a reitora da UÉ começou por destacar “a continuidade deste prémio, que já vai na 29.ª edição”, comentando que “é um prémio que já tem uma identidade que vale a pena assinalar”.
Acrescentou que, “em relação a esta autora, de descendência afro-portuguesa, que tem uma escrita muito particular que, de certa maneira, também vem do espaço onde ela se situa, parece-me particularmente importante porque é uma jovem escritora e isso mostra a vivacidade da nossa literatura”.
Hermínia Vasconcelos Vilar referiu que “coloca-nos perante estes desafios da inclusão, da integração, de dar atenção àqueles que não damos atenção no dia-a-dia, como ela dizia no seu discurso”.

Evidenciou também que “traz para a literatura a presença dessas personagens que muitas vezes passam no nosso quotidiano e às quais não damos atenção”.
A reitora da UÉ mencionou ainda “a riqueza da literatura em língua portuguesa que se reflete cada vez mais nestes prémios que temos vindo a dar”, focando que este galardão “tem premiado grandes escritores”.
Recordou que “a mensagem principal deste prémio continua a ser a mesma, homenagear a literatura em língua portuguesa, na linha do autor que lhe dá nome”.
A esse respeito, Hermínia Vasconcelos Vilar frisou que “é óbvio que os premiados têm evoluído, são representativos de diferentes perfis, que também refletem essa riqueza do que é a literatura em língua portuguesa”.
Na sua ótica, “continua a ser importante defender o lugar da literatura, o lugar da ficção na construção da cultura e na cultura em geral”, concluindo que “essa mensagem continua a ser intemporal”.
Texto e Fotos: Redação DS / Marina Pardal