A construção de duas centrais fotovoltaicas de grandes dimensões no concelho de Évora, mais concretamente na freguesia da Graça do Divor, tem suscitado críticas e muitas dúvidas.
Apesar de se reconhecer a importância das energias renováveis, estes projetos, por ocuparem uma área bastante extensa, têm gerado controvérsia. No total, são cerca de 650 hectares que vão ser ocupados, o que já levou algumas pessoas a alertar que esta zona vai ficar uma “floresta de vidro”.
Foi precisamente para contribuir para o esclarecimento de questões ligadas ao projeto que a Delegação de Évora da Associação de Solidariedade Social dos Professores (ASSP) promoveu o debate “Centrais Fotovoltaicas do Divor: Vantagens? … Desvantagens?”.
A iniciativa decorreu no dia 24 de janeiro, no auditório da Escola Secundária Gabriel Pereira, em Évora, contando com a presença de representantes de várias entidades.
Em declarações ao Diário do Sul, Maria Antónia Sim-Sim, da Delegação de Évora da ASSP, explicou os motivos que levaram à realização deste evento.
“A Delegação de Évora da ASSP tem uma ampla atividade cultural e cívica”, referiu, acrescentando que “preocupamo-nos com o esclarecimento de questões que afetam toda a comunidade”.

A mesma dirigente sublinhou que, “neste caso, a construção de duas grandes centrais fotovoltaicas no nosso concelho é uma questão de enorme pertinência e decidimos promover esta sessão”, afirmando que “moveu-nos a intenção pedagógica de contribuir para elucidar de uma forma serena e construtiva”.
Garantiu também que “tivemos a preocupação de convidar várias entidades com diferentes perspetivas sobre o problema, embora nem todas tenham aceitado participar”, destacando que os oradores presentes no debate foram “o presidente da Câmara de Évora, Carlos Pinto de Sá; o presidente da Turismo do Alentejo e Ribatejo, José Manuel Santos; e dois representantes da Plataforma Cívica Juntos pelo Divor / Paisagem e Património, Ana Barbosa e Marcial Rodrigues, também do Grupo Pro Évora”. A conversa foi moderada pela jornalista Ana Teresa Machado.
Maria Antónia Sim-Sim deu conta das principais ideias partilhadas pelos participantes. Adiantou que Ana Barbosa mencionou que “a plataforma é a favor das energias renováveis, mas defende que a implementação destas medidas tem que ser objeto de um plano de ordenamento que permita a sua implantação minorando ao máximo os seus impactos ambientais, patrimoniais, paisagísticos, económicos, sociais e culturais”.

Comentou também que foi mencionado que “tal não acontece com a instalação na zona da Graça do Divor de duas centrais fotovoltaicas de grandes dimensões, contíguas, ocupando uma área total de cerca de 650 hectares”, revelando que “numa serão implantados 362 076 painéis fotovoltaicos, na outra 394 mil”.
A mesma professora, citando Ana Barbosa, realçou que “os próprios relatórios da Comissão de Avaliação Ambiental, promovida pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), referem que ambas as centrais solares provocarão danos irreversíveis na fauna, na flora, no solo e no enquadramento do património histórico e arqueológico”.
Constatou ainda que “a aprovação dos projetos no relatório de impacto ambiental é feita obrigando ao cumprimento de dezenas e dezenas de medidas condicionantes que são, à partida, impossíveis de cumprir”.
De acordo com a mesma dirigente, foi também evidenciado que “a concretização das centrais vai colidir com projetos turísticos já criados e outros que estão previstos para aquela zona e inviabilizar o aproveitamento turístico daquela zona”, considerando-se que “é imperioso que se repensem estes projetos, de forma a evitar os terríveis danos ambientais que a sua construção, tal como está prevista, irá provocar”.
Nesse sentido, foi “reafirmada a necessidade de um forte movimento cívico que evite este desastre ambiental”, frisou Maria Antónia Sim-Sim, apelando também a plataforma “a que mais pessoas assinem o abaixo assinado que está na internet”.

A representante da ASSP indicou ainda que José Manuel Santos defendeu que, “sendo o turismo uma das áreas estratégicas de desenvolvimento da região, a instalação destes empreendimentos não pode ser feita em zonas de aptidão turística”, lembrando que “os turistas não vêm ver ‘florestas de vidro’ e que o Alentejo vende paisagem, o seu maior valor”.
Mostrou-se favorável “às energias renováveis, mas em articulação com a paisagem e respeitando o património natural e cultural”, considerando que “a profusão de projetos de centrais fotovoltaicas prevista para o Alentejo vai provocar danos irreversíveis”.
Maria Antónia Sim-Sim partilhou também as mensagens destacadas por Carlos Pinto de Sá, nomeadamente que “a Câmara de Évora não pode estar contra a implementação de parques fotovoltaicos ou de outras energias renováveis no concelho, mas que aqueles devem ser compatibilizados e respeitar os valores naturais e culturais que integram a identidade da região”.
Foi ainda recordado que “os municípios não têm qualquer intervenção no licenciamento”, reiterando que “as entidades responsáveis, nomeadamente a APA, licenciam sempre de forma condicionada”.
A mesma dirigente disse que o autarca assegurou que “a câmara acha fundamental preservar a paisagem da Graça do Divor e fará o que estiver ao seu alcance, em termos de licenciamentos que dela dependam e em termos de poder de influência, para defender o património natural desta região”.
Texto: Redação DS / Marina Pardal
Fotos: ASSP