Foi há pouco mais de um ano que a atual equipa da Entidade Regional de Turismo (ERT) do Alentejo e Ribatejo tomou posse, sendo presidida por José Manuel Santos.
Durante este período foram muitos os desafios enfrentados, bem como as soluções alcançadas. Precisamente para conhecer um pouco mais deste primeiro ano de mandato (são cinco no total), o Grupo Diário do Sul esteve à conversa com José Manuel Santos.
“Pelo que nos tem sido transmitido pelos nossos parceiros e associados, nomeadamente municípios, empresas, associações, redes de oferta e outras instituições, o balanço deste primeiro ano de mandato é positivo”, admitiu o presidente da ERT do Alentejo e Ribatejo.
Acrescentou que “um desafio que se colocou desde o início tinha a ver com a necessidade de nós regressarmos ao terreno, de sermos uma entidade próxima das pessoas, das empresas, dos municípios”.
De acordo com o mesmo responsável, “o objetivo era haver uma proximidade com eficácia, não é apenas por estar, mas sim identificando problemas, constatando necessidades, ouvindo, por vezes, dificuldades que os empresários têm na sua relação com o setor autárquico ou com o Estado e tentarmos criar algumas respostas e definir projetos”.
Apontou ainda a importância da ERT agora já estar representada em certos organismos em que não estava anteriormente, como “o Conselho Regional de Inovação do Alentejo ou na direção e gestão da estruturação de alguns produtos turísticos, como o produto das estações náuticas”.
Há um ano, na altura da sua tomada de posse, José Manuel Santos defendeu que “precisamos de investir mais nas pessoas”. Nesse sentido, quisemos saber em que patamar está este assunto.
“Começámos por trazer para Évora a Bolsa da Empregabilidade, que não é uma iniciativa nossa, ela já se realizava em vários pontos do país, mas que nunca tinha vindo para o Alentejo”, referiu, salientando que “nós fomos buscá-la e aconteceu no dia 20 de fevereiro, com a presença de 35 empresas que vieram ‘vender’ as suas vagas de emprego e que atraiu muitas pessoas, nomeadamente os jovens”.
Ainda neste domínio, o presidente da ERT destacou “a necessidade de criar mais condições para atrair pessoas para o território”.
Reiterou que “em Évora não se sente tanto a falta de mão-de-obra, mas mais para o interior os problemas são maiores, o que não quer dizer que não tenham sido criados novos projetos nesses locais”, frisando que “os empresários fazem um trabalho incrível para formar equipas e a nossa missão é facilitar-lhes a vida”.
Como tal, José Manuel Santos adiantou que “estamos a preparar um programa mais ambicioso, que tem dois grandes objetivos”.
Por um lado, passa por “fixar as pessoas que já estão a trabalhar cá no nosso turismo e para isso estamos a preparar medidas simbólicas, como receber um email do presidente da ERT a agradecer por estarem no Alentejo ou implementar o voucher ‘Sê turista na tua própria região’”, especificou o mesmo responsável.
Além dessas medidas simbólicas, revelou que “pretendemos ter outras mais tangíveis para que as pessoas se sintam valorizadas e recompensadas, como implementar o prémio ‘Pessoas do Turismo do Alentejo e Ribatejo’”, constatando que “há muitos prémios que reconhecem as empresas, porque não premiar também as pessoas, como ‘melhor chefe de sala de hotel’, ‘melhor rececionista’ ou ‘melhor governanta de andares’”.
Também neste âmbito, destacou que há o objetivo de “criar um projeto de atração das pessoas para virem trabalhar para o turismo do Alentejo, comunicando a esses profissionais que é bom virem para a região porque tem melhor qualidade de vida, há certas majorações que as câmaras municipais oferecem ou há programas do Estado para atrair famílias do litoral para o interior”.
A questão da formação profissional também esteve “em cima da mesa”. Segundo o presidente da ERT, “não temos competências nesta área, nem queremos ser entidade formadora, o que estamos a procurar fazer é influenciar formação e queremos dizer a essas entidades se nos seus cursos estão a colocar as questões que interessam hoje ao turista, por exemplo”.
A esse nível, anunciou que “estamos a dirigir um inquérito ao tecido empresarial da área do turismo perguntando quais são as necessidades ao nível da formação profissional e vamos disponibilizar esses resultados às associações de empresários que vão apresentar candidaturas, nomeadamente a este quadro comunitário, para financiar ações de formação no Alentejo para garantir que essas ações têm impacto”.
Turismo no Alentejo continua a crescer
“No ano passado, fomos a região que mais cresceu no mercado nacional, com 8,5 por cento, enquanto a média nacional foi de 2,5 por cento”, realçou José Manuel Santos e focou que também em 2023 “crescemos 11,5 por cento na procura global e chegámos a uma taxa de ocupação de quase 60 por cento, sendo que estamos a falar da média da região”.
Deu conta também de outros números. “O ano passado, o Alentejo foi a terceira região do país com a tarifa média por quarto mais alta”, sublinhou, mencionando que “começa a conquistar segmentos do mercado de maior valor”.
A esse respeito, o presidente da ERT evidenciou que “o mercado norte-americano já é o segundo maior mercado estrangeiro do Alentejo”, considerando que “é um mercado muito interessante porque se distende muito ao longo do ano, o que é importante para reduzir a sazonalidade”.
Ressalvou que, “o ano passado, a taxa de sazonalidade do Alentejo foi de 38 por cento, menos 1,7 pontos percentuais do que em 2022, sendo que no interior ainda é menor”.
O mesmo responsável indicou também que, “em 2023, as dormidas cresceram 11,1 por cento e os proveitos cresceram 16,5 por cento”.
Admitindo que “não é fácil continuar a crescer a dois dígitos”, garantiu que “temos procurado reforçar o trabalho de promoção e nestes primeiros meses do ano estivemos em três feiras”.
José Manuel Santos recordou que “estivemos na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), onde ganhámos uma menção honrosa pelo nosso stand; estivemos na Nauticampo, com as estações náuticas; e na Feira Internacional de Artesanato de Lisboa, com artesãos a trabalhar ao vivo, um certame onde nunca tínhamos estado, o que para mim não fazia sentido nenhum, já que o Alentejo e o Ribatejo têm um potencial ligado ao artesanato”.
A par disso, comentou que “temos feito um trabalho muito forte em termos de redes sociais, em diferentes áreas”.
O mesmo responsável salientou que “lançámos uma pequena campanha digital no dia 1 de agosto para tentar aproveitar a decisão de última hora dos portugueses, que estão à espera das melhores condições para poder reservar e também por impulso”.
Assegurou que “temos apoiado muitos eventos, sempre com verbas próprias, porque só agora começamos a ter as primeiras candidaturas apoiadas com fundos europeus”, explicando que, “desse ponto de vista, tem sido um ano muito difícil, pois temos trabalhado com condições orçamentais e financeiras muito adversas porque só temos trabalhado com verbas nacionais”.
Projetos em marcha
Durante a entrevista, José Manuel Santos afiançou que “vamos intensificar o trabalho de promoção, até porque passamos a ter outro músculo financeiro”, exemplificando que “somos destino convidado da BTL de 2025 e há dez anos que isso não acontecia”.
Outro exemplo apontado foi que “vamos também implementar uma campanha de promoção no mercado transfronteiriço com Espanha, pois temos perfeitas condições para ter mais espanhóis no Alentejo, que são o nosso principal mercado estrangeiro”.
A esse respeito, disse que “o único mercado estrangeiro que ultrapassa as 200 mil dormidas é o espanhol; depois temos dois mercados entre as 100 mil e as 200 mil dormidas, que são o norte-americano e o alemão; e todos os outros mercados estrangeiros estão abaixo das 100 mil dormidas”.
Não obstante, o mesmo responsável reiterou que “o mercado espanhol não tem crescido tanto e até há uma ligeira redução este ano no Alentejo, pelo que vamos fazer promoção em Espanha como fazemos em Portugal”.
Outro projeto em curso é o de “recuperação do território (após o incêndio do ano passado) e de requalificação da oferta na Rota Vicentina e do Sudoeste Alentejano”, adiantou, anunciando mais eventos que também vão ser implementados noutros pontos da região como “um festival de caminhadas ou um festival de turismo literário”.
O presidente da ERT ressalvou que, “numa ótica de médio prazo, temos claramente uma aposta no enoturismo, nomeadamente o nosso programa PROVERE que foi aprovado e que vai possibilitar estarmos nos próximos três anos numa ligação muito forte com o setor privado a trabalhar a valorização do enoturismo”.
Já na reta final, deu conta de que “temos um programa para a Serra d’Ossa, no sentido de transformá-la num destino premium de turismo de natureza e vamos apoiá-la como Cidade do Vinho 2025; estamos a coordenar com a Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo a candidatura do Baixo Alentejo a Cidade Europeia do Vinho em 2026; e estamos a promover um programa para atrair nómadas digitais para o Alentejo; além de estarmos a desenvolver o programa de acolhimento e de hospitalidade para a Capital Europeia da Cultura em 2027”.
Texto e Fotos: Redação DS / Marina Pardal