“Do Entusiasmo ao Burnout? A situação social e laboral dos professores em Portugal hoje”. Este foi o livro apresentado na Universidade de Évora (UÉ), a 13 de abril, que resulta de um estudo efetuado pelos investigadores Raquel Varela (FCSH UNL), João Areosa (IPS e CICS.NOVA) e Roberto della Santa (DCS UNIV.AVEIRO).

A iniciativa foi promovida pelos Serviços de Biblioteca e Informação Documental (SBID) da UÉ, tendo a sessão decorrido na Sala das Bellas Artes, com a presença de dois dos autores, Raquel Varela e Roberto della Santa.

Para Rute Marchante Pardal, do Serviço de Dinamização Cultural dos SBID/UÉ, “este estudo é um valiosíssimo contributo para o debate das relações laborais na educação, em Portugal”, constatando que, “à luz dos acontecimentos que vivemos hoje nas escolas e nas instituições de ensino público, poderá contribuir para esse grande desafio, o de encaminhar as escolas para novas interpretações”.

Explicou ainda que “as questões levantadas neste estudo são o resultado de um trabalho de pesquisa, que fundamentou o Inquérito Nacional sobre as Condições de Vida e Trabalho na Educação em Portugal realizado em 2018 por um grupo amplo de académicos e profissionais de áreas bastantes diferentes”.

Na sua opinião, “é, no fundo, uma tentativa para procurar compreender e explicar como o mal-estar, tantas vezes difuso e generalizado nas funções dos professores, e nas estruturas escolares, se difunde e se manifesta na capacidade de trabalho dos professores, e como isso condiciona depois tudo o resto, condicionando, por sua vez, toda a estrutura, e os pilares da própria pedagogia e da educação”.

Em declarações ao Diário do Sul, Raquel Varela explicou que “neste estudo analisámos as condições laborais, sociais e de vida dos professores em Portugal, desde a pré-primária até ao 12.º ano”.

Quanto a conclusões, destacou que “ficou absolutamente claro que mais de metade dos professores está em exaustão emocional”, evidenciando ainda “o envelhecimento da profissão”.

A autora focou que, “na nossa perspetiva, as razões fundamentais desta situação prendem-se com a perda de autonomia do sentido da profissão, que se vê num excesso de burocracia; na ausência de progressão de carreiras; nos baixos salários; no sobretrabalho, pois há um trabalho burocrático gigante que é feito fora de horas; no cada vez maior esfacelamento do currículo, já que cada vez mais há um empobrecimento dos próprios conteúdos que são lecionados dentro da sala de aula”.

Os investigadores consideram que “tudo isto leva a que a profissão de professor, que devia acarretar uma enorme alegria, venha associada a um enorme sofrimento”, reforçando que “o entusiasmo acabou por se revelar numa grande desrealização na profissão”.

Raquel Varela adiantou também algumas soluções. “Acreditamos que a gestão democrática dentro das salas de aula; um redesenhar dos currículos no sentido de se tornarem mais científicos, mais agarrados ao conhecimento e não à adaptação ao mercado de trabalho; ou a absoluta necessidade uma carreira com progressão, acabando-se com a avaliação individual de desempenho, que visa de facto introduzir a competição entre os professores, desgarrando-os completamente das suas relações sociais”, são possível caminhos, disse a investigadora.

Na sua opinião, “com este estudo conseguimos antever aquilo que ia acontecer hoje”, sublinhando que “parece-nos que agora também vem o agravante da automação, da digitalização e do chamado ensino online”.

Comentou ainda que “o ensino implica sempre uma relação entre o professor e o aluno, é uma relação que acontece no mesmo espaço, não existe essa transformação em ensino online”, frisando que “isso foi uma exceção durante a pandemia, mas que agora se está a querer tornar um padrão e isso vai tornar os professores como meros operadores de máquinas”.

Autor: Redação DS / Marina Pardal
Foto: DS

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