Uma pergunta que Elvira Sale-Batista, professora do Departamento de Zootecnia e investigadora do Instituto Mediterrâneo para Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED), da Universidade de Évora, dá resposta apresentando, para tal, cinco aspetos que considera fundamentais.

Para a investigadora da academia alentejana “as raças autóctones, como a mertolenga, são muitas vezes menos corpulentas do que as raças exóticas e têm crescimentos mais lentos. No entanto esta raça autóctone já vem com um livro de instruções para situações de crise”. No mesmo sentido, realça, que “são modelos que foram aperfeiçoados ao longo de séculos para estarem adaptadas ao seu habitat, onde as secas são históricas”.

Elvira Sale-Batista, adianta que “comparativamente com as raças exóticas, as nossas raças autóctones como a mertolenga têm uma fertilidade comprovada, são menos afetadas por temperaturas elevadas (em que uma das consequências é a redução da ingestão e consequentemente da produção) e são mais baratas de alimentar, conseguindo subsistir com alimento disperso e de baixa qualidade”. Na sua opinião, “foram essas características que garantiram que as raças autóctones como a mertolenga sobrevivessem ao longo dos séculos”. Mas afinal quais as vantagens e benefícios da raça mertolenga e da sua carne?

1. As maravilhas da carne de mertolenga

A carne de mertolenga DOP obtém quase os níveis máximos de classificação quando avaliada por paneis de provadores no que respeita às características de tenrura, suculência e intensidade de sabor. A carne de animais criados em extensivo, comendo erva, é muito mais magra do que a dos bovinos criados em sistemas intensificados, com silagem de milho e concentrados.
A carne de mertolenga é também 3 a 6 vezes mais rica em nutrientes essenciais, incluindo antioxidantes, vitaminas e uma gordura benéfica, chamada ácido linoleico conjugado (CLA), que está associada ao aumento da nossa imunidade e da capacidade anti-inflamatória.

2. Como elas comem quando não há que comer

As vacas mertolengas adaptam o consumo de alimento à oferta alimentar. Se a pastagem está curta, fazem mais paragens ao longo do percurso de pastoreio, demorando menos tempo em cada uma delas, assim conseguindo cobrir mais área e procurar alimento de melhor qualidade.
Também as vacas mertolenga se afastam mais umas das outras, deixando mais espaço entre si, e portanto conseguindo mais oferta potencial de alimento para cada uma.
As vacas mertolengas conseguem encontrar o alimento e manter um aporte alimentar constante, sendo assim pouco influenciadas pelos períodos de escassez de quantidade de pastagem.

3. Dar de comer à mão é cada vez mais caro

Apesar da pastagem ser a forma mais barata de alimentar os ruminantes, em situações de seca a pastagem não cresce, quer seja pastagem semeada quer seja espontânea. As plantas fazem ciclos mais curtos e produzem semente mais cedo, afetando negativamente a massa forrageira disponível para os animais.
Em períodos de escassez os animais têm de ser suplementados com fenos e alimentos compostos, frequentemente adquiridos fora da exploração. Para além da seca, aumenta o risco da sobrecarga de custo destes alimentos, nas contas da exploração. Em Portugal, o preço médio da produção agrícola subiu 18% em 2022, em relação ao ano anterior (fertilizantes tiveram um aumento de quase 91%).
Pela sua resiliência, a raça mertolenga adapta o consumo à oferta alimentar, reduzindo substancialmente a necessidade de suplementos.

4. Ser resiliente é aguentar e recuperar do stress

Precisamos de sistemas de pastoreio resilientes. Ter animais, como as vacas mertolengas que sejam resilientes, ou seja que tenham capacidade para serem minimamente afetados por perturbações na sua oferta alimentar e, se forem afetados, que consigam recuperar rapidamente, continuando a produzir crias e a aleitar, é uma vantagem na adaptação às mudanças.

5. Na poupança é que está o ganho

No balançar dos sistemas produtivos entre o ganhar mais ou menos, e/ou gastar mais ou menos, várias alternativas são possíveis. São opções individuais, mas as nossas raças autóctones são uma mais valia, com provas dadas em períodos de crise, como os que previsivelmente se aproximam.
Quando o risco é elevado, a estratégia vencedora a longo prazo pode ser a aposta na maior sustentabilidade e não na rentabilidade imediata.

Fonte: Universidade de Évora

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