OPINIÃO por João Palmeiro • Promotor e Divulgador Cultural
Potries (Espanha, Comunidade Valenciana) anunciou a sua candidatura a Capital Europeia da Cultura para 2031. Mas só tem mil habitantes, isto é um risco ou uma oportunidade?
O mundo das capitais culturais na Europa está a tornar-se cada vez mais diversificado. Há as europeias, criadas em 1985 por iniciativa de Melina Mercouri, que se preparam para iniciar um novo ciclo de programação a partir de 2034; há as nacionais, na maioria dos casos criadas como prémio de consolação para cidades que não ganharam o título de Capital Europeia da Cultura (por exemplo, Itália, Portugal e Polónia, para citar apenas algumas); e depois há ainda as regionais. Na verdade, este último título de capital regional da cultura encontra-se principalmente em países onde existe uma diferença historicamente forte entre as identidades locais dentro de um mesmo país. Em Itália, as regiões da Toscana e da Apúlia tentaram, mas com muito pouco sucesso ou atração. As capitais regionais da cultura estão mais profundamente enraizadas em Espanha. Na região de Valência, por exemplo, o título de capital regional da cultura é atribuído desde 2018 a municípios com uma população inferior a 5.000 habitantes.
Uma oportunidade maravilhosa para promover os municípios rurais.
O primeiro a ganhar este título foi Potries, um município com apenas 1.000 habitantes.
Com base nesta experiência, Potries está agora a dar um enorme passo em frente ao candidatar-se a Capital Europeia da Cultura em 2031, altura em que será a vez de Espanha e Malta nomearem uma cidade.

Este desafio promete ser muito complicado. Inicialmente, o título de Capital Europeia da Cultura era atribuído principalmente às cidades de média dimensão. Atenas, Florença, Amesterdão, Berlim e Paris foram as primeiras cidades europeias da cultura. Em seguida, a UE voltou a sua atenção para as pequenas e médias cidades, com uma população residente entre 50 000 e 200 000 habitantes.
Nunca nos 40 anos de história das Capitais Europeias da Cultura o título foi atribuído a um município com menos de 5 000 habitantes. Isto deve-se, em parte, a razões logísticas. Uma das principais consequências deste título é um crescimento exponencial do turismo, o que significa que a cidade deve ser capaz de gerir e acomodar um número significativo dos chamados cidadãos temporários.
Mas Potries está a tentar. Será uma competição complexa para o pequeno município, David contra Golias. De facto, neste momento, um total de 12 cidades espanholas já anunciaram que vão apresentar a sua candidatura até 27 de dezembro deste ano, Granada, Toledo, Las Palmas de Gran Canaria, Burgos, Pamplona, Vitória, Oviedo, Cáceres, Palma de Maiorca, Leão e Jerez de la Frontera.
Nos últimos dias, Potries tornou pública a sua intenção de participar no concurso porque, foi dito: “Os povos do mundo rural também têm direitos culturais e temos de lutar por eles. Potries oferece-se para lutar por estes direitos”.
O Potries tem como objetivo coletar assinaturas de indivíduos e grupos culturais, criadores e promotores de todo o Pais que estão convencidos da importância da cultura no meio rural, através do site potries2031.org.
O presidente da Câmara Municipal de Potries, Sergi Vidal, garantiu que “podemos mudar a história do mundo rural e consolidar o compromisso da nossa cidade com a cultura como motor do desenvolvimento local, demonstrando que mais cultura significa uma melhor qualidade de vida”. Potries e o seu presidente da Câmara são claros neste ponto: “Com esta candidatura, podemos continuar a demonstrar o orgulho que sentimos pelas nossas cidades”. O lema da candidatura Potries 2031 é “Orgulho das Aldeias”.
Edição e adaptação de João Palmeiro com ECOCNews/ Serafino Paternoster