OPINIÃO por João Palmeiro • Promotor e Divulgador Cultural
Haverá três capitais europeias da cultura em 2030. Uma será designado por Chipre, a outra pela Bélgica e a terceira será escolhido entre Nikšić (Montenegro) e Lviv (Ucrânia). Na lista restrita final estão três cidades para a Bélgica, Lovaina, Molenbeek e Namur. Larnaka e Lemesos foram selecionadas para o título de Capital Europeia da Cultura 2030 em Chipre.
Continuamos a jornada para saber mais sobre as cidades pré-selecionadas. Depois de explorar as cidades pré-selecionadas da Bélgica, Namur, Lovaina e ainda Molenbeek e depois de parar em Larnaka continuamos a jornada entre as cidades pré-selecionadas para 2030, explorando a candidatura de Lemesos.
Limassol, também conhecida como Lemesos, é uma cidade na costa sul de Chipre e capital do distrito de Limassol. Limassol é a segunda maior área urbana de Chipre depois de Nicósia, com uma população urbana de 195.139 e uma população distrital de 262.238. O município de Limassol é o mais populoso de Chipre, com uma população de 108.105 habitantes, seguido por Strovolos em Nicósia.
Limassol foi construída entre duas antigas cidades gregas, Amathus e Kourion. O seu centro histórico está localizado em torno do castelo medieval de Limassol e do Porto Velho. Hoje a cidade espalha se ao longo da costa do Mediterrâneo e estende se muito para lá do castelo e do porto, com os seus subúrbios alongando-se pela costa até Amathus. A oeste da cidade está Akrotiri, com Dhekelia os dois territórios ultramarinos britânicos encravados na ilha.
Em 2014, Limassol foi classificada pelo TripAdvisor como o 3º destino promissor do mundo, na sua lista Top 10 Traveler’s Choice na categoria Rise (em crescimento).
Lemesos é a segunda maior cidade de Chipre e uma das mais culturalmente vibrantes. Muitas organizações, manifestações culturais anuais, eventos de pequena e grande escala, iniciativas municipais, privadas e de populares criam uma rica trama de atividade artística e cultural. No entanto, nos últimos anos, Lemesos enfrenta uma mudança rápida e muitas vezes descontrolada, uma transformação urbana e um desenvolvimento desigual que deixa muitas pessoas para trás e leva a uma crescente desigualdade e exclusão. Artistas, minorias, comunidades desfavorecidas e jovens vêem-se cada vez mais empurrados para as franjas, incapazes de pagar o custo de vida na cidade.
Há dois anos a entidade promotora começou a olhar para além da cidade em desenvolvimento, a procurar as histórias alternativas, mais peças de puzzle, mais vozes que pudessem contar a história de Lemesos. A entrada na competição justifica-se como participantes ativos dessa rápida mudança e trabalhar para criar novos caminhos de conexão, capacitar artes e cultura e construir espaços de busca, imaginação e empoderamento compartilhados.

Imagine-se Lemesos como uma cidade verdadeiramente inclusiva, onde múltiplas e diversas histórias não só são ouvidas, mas moldam ativamente a identidade cultural e o futuro da cidade. O objetivo é criar um ecossistema cultural colaborativo que alimente o potencial artístico, desenvolva capacidades e permita que criadores de todas as origens prosperem em infraestruturas renovadas e instituições acessíveis. Olhando para a cidade de duas velocidades em que Lemesos se tornou hoje, o que também é verdade para muitas cidades em expansão na Europa, a candidatura é um processo que lida através da cultura com a gentrificação, a desigualdade e o potencial artístico perdido, tudo centrado na Capital Europeia da Cultura!
Têm sido procurados métodos e processos participativos e visando uma transformação cultural que recupere espaço, narrativa e significado e abrace o pensamento crítico, a imaginação e o diálogo, com o objetivo de colmatar as lacunas atuais entre oportunidade e acesso, tradição e inovação, vozes centrais e marginais, e assim fazer de Lemesos a “cidade simbiótica”, “de coração aberto” que declara ser, onde a cultura se conecta, capacita e sustenta.
Para envolver os cidadãos foram feitas consultas, conversas, discussões interativas, focus groups, questionários, atividades colaborativas… começando por ouvirmos uns e os outros, documentando as falas e, gradualmente, compreender as prioridades a partir de diferentes perspetivas. O livro de propostas de pré-seleção está cheio de citações, pensamentos e intenções que vieram de 1.300 pessoas que dedicaram semanas, dias, de discussão com a equipa principal do Lemesos 2030 que é bem pequena. Felizmente, e com a colaboração de trabalhadores culturais inspirados e cidadãos ativos, foi construído um caminho metódico em que diversas vozes participaram.
Vozes críticas, esperançosas, determinadas, generosas.
A entidade promotora está a trabalhar no caderno de propostas final, tendo em conta todos os comentários do júri no seu relatório de pré-seleção, melhorando e cristalizando a candidatura e tentando manter a calma nessa situação de pressão da segunda volta! Muita coisa tem de acontecer em tão pouco tempo. Olhando para o futuro, também entusiasma a visita do júri no final do ano. Paralelamente a este processo, continua o envolvimento com a cidade, com os seus stakeholders, abrindo algumas novas áreas, dando as boas-vindas a novos membros da equipa enquanto se constrói uma rede de apoio e intercâmbio.
Em Chipre, a Capital Europeia da Cultura é a luz verde que motiva ações e planeamento que dão prioridade à cultura. E é por isso que este processo de longo prazo da competição é benéfico e capacitador, não importa o resultado. Mas o resultado torna-se ainda mais importante num país como Chipre. A escala do investimento na cultura, do trabalho estratégico e criativo, do brilho internacional é incomparável à forma como as coisas normalmente cá se desenvolvem.
Para além das reflexões e propostas que foram articuladas este ano em Chemnitz, no que diz respeito ao futuro do ECoC, é essencial que esta iniciativa continue a ser um forte e relevante motivador de capacitação cultural e permaneça relevante para os crescentes desafios culturais, sociais e políticos da Europa. Dentro da cultura é necessário preservar e proteger o espaço para a liberdade de expressão, pensamento crítico, empatia e inspiração.
Edição e adaptação de João Palmeiro com ECOCMews/Mariateresa Cascino