OPINIÃO por João Palmeiro • Promotor e Divulgador Cultural
Haverá três capitais europeias da cultura em 2030. Uma será designada por Chipre, outra pela Bélgica e a terceira será escolhida entre Nikšić (Montenegro) e Lviv (Ucrânia).
A Bélgica acolherá pela quinta vez uma Capital Europeia da Cultura, depois de Antuérpia em 1993, Bruxelas em 2000, Bruges em 2002 e Mons em 2015. Na lista final estão três cidades: Lovaina, Molenbeek e Namur. Larnaka e Lemesos foram selecionadas para o título de Capital Europeia da Cultura 2030 em Chipre.
Começamos hoje com Lovaina uma viagem entre as cidades da Bélgica e Chipre para aprender através das suas respostas a cinco perguntas sobre o trabalho que estão fazendo para alcançar o objetivo de Capital Europeia da Cultura.
Lovaina é uma cidade a leste de Bruxelas, Bélgica, conhecida pelas suas cervejarias. N praça central está a Camara Municipal do século 15, com suas torres altas. O edifício está decorado com centenas de estátuas de figuras locais, personagens bíblicos e santos. Em frente, a Igreja de São Pedro gótica tardia abriga uma “Última Ceia” do pintor primitivo flamengo Dieric Bouts. Perto dali Oude Markt é uma longa praça repleta de bares e cafés.
Porque decidiu a sua cidade candidatar-se a Capital Europeia da Cultura?
A polarização está se espalhando na nossa sociedade. A democracia está sob pressão em toda a Europa. Na Bélgica – um membro fundador da UE – os partidos extremistas estão sempre a crescer. O Parlamento Europeu também terá um aspeto completamente diferente nos próximos anos.
É nossa convicção que podemos começar a resolver os desafios que se colocam a Lovaina, por um lado, e à região, por outro, ligando-os radicalmente, estabelecendo relações mais próximas, pessoa a pessoa. Os problemas e desafios que aqui se apresentam também ocorrem em muitos locais da Europa. Por isso, pretendemos também usar a nossa candidatura para nos tornarmos uma fábrica do futuro, para testar projetos e estratégias e depois transmiti-los a outras partes da Europa.
Quais são as palavras-chave da vossa proposta?
LOV2030 é o nome da candidatura de Lovaina a Capital Europeia da Cultura em 2030. Não escolhemos este nome por acaso, pois o amor é essencial para cumprir a nossa missão: lutar juntos por um futuro melhor para Lovaina e toda a região, criando novas ligações radicais.
LOV significa procurar o que não vemos, os nossos pontos cegos, para que possamos romper as bolhas em que vivemos. LOV significa radical samenleven (viver juntos), por abraçar atritos e incertezas. LOV conecta ricos e pobres, muito e pouco instruídos, cidade e campo. Combina cultura com educação, inovação e sustentabilidade e colmata lacunas que talvez nem conheçamos ainda. LOV significa trabalhar em conjunto como uma única região e chegar à Europa e muito mais além. LOV não é apenas Lovaina, é sinceramente Lovaina e Além.
Como estão a envolver os cidadãos nesta proposta?
Em dezembro de 2017, num Teatro Municipal cheio, durante uma grande confraternização do amplo setor cultural e criativo, Lovaina anunciou a sua candidatura ao CEC. Essa ambição foi prontamente apoiada por uma série de atores, desde o conselho municipal e o CCI em geral até a Universidade e a sociedade civil.
Entre 2018 e 2022 (período marcado pela Covid 19), ocorreram as primeiras discussões com a região. Em 2019, a cidade organizou Leuven, Maak Het me, uma sondagem em grande escala na qual os leuveners podiam partilhar ideias, colocar questões e propor projetos para a Lovaina do futuro. Quase 3.000 pessoas participaram. Entre 2020 e 2022 acompanhámos um processo que envolveu os amplos domínios cultural e social, bem como os setores do património e das artes, para averiguar, através de sessões públicas, como se encontrava a terra, registar a situação existente e também formular objetivos para 2035.
A partir do início de 2023, organizámos uma série de eventos de grande escala, bem como muitos ‘LOV-cafés’ de pequena escala, nos quais reunimos diferentes atores sociais de Lovaina e da região em geral. Como você nunca sonha sozinho, rapidamente surgiu a ideia de ter um grupo de moradores locais para trocar ideias. Num dos nossos primeiros eventos foi lançado um convite para nomeações de potenciais membros para a equipa Dreamers2030 – a única condição é que não pudesse nomear-se a si próprio. A resposta foi tremenda. Das 300 nomeações, 30 perfis muito diversos foram reunidos e, desde então, têm funcionado como uma caixa de ressonância muito honesta, franca e valiosa. Os 30 ‘dreamers’ partilham o convite para colaborar com a sua rede. Assim, círculos concêntricos cada vez mais amplos repercutem na sociedade civil.
Na primavera de 2024, enviámos um convite aberto à apresentação de ideias de projetos, incentivando a sociedade civil a conceber e apresentar novos projetos culturais sociais. Para o efeito, foram organizadas várias sessões de trabalho. Foram apresentados cerca de 140 projetos. Organizamos mesas de escrita, sessões de diálogo e diferentes laboratórios cocriativos em torno da educação, gerações futuras, descolonização, digitalização, etc. estão sendo criados.
Quais são os próximos passos da jornada?
Ainda há muito a fazer. Digamos que estamos a planear correr duas maratonas patrocinadas por LOV2030: uma é uma corrida real que terá lugar no dia 13 de abril entre Bruxelas e Lovaina, na qual muitos corredores vestirão uma t-shirt da LOV e correrão pela LOV.
A segunda maratona é, na verdade, finalizar o programa e escrever o segundo livro de candidaturas até o dia 15 de julho. Estamos ansiosos por ambos. Estamos também a preparar a visita do júri em setembro e a apresentação. Entretanto, estamos a trabalhar com todas as partes interessadas, viajando por toda a região, com os nossos LOV-cafés e workshops móveis.
E, finalmente, no dia da Europa, 9 de maio, todos os 31 municípios do Brabante Oriental e da própria Lovaina levantarão a bandeira LOV2030 para que todos possam ser vistos. Vamos espalhar o LOV!
Edição e adaptação de João Palmeiro com Serafino Paternoster/ECOCNews
Foto: Dirk Leemans
