“Uma peça de teatro dentro do teatro”. É assim que se poderia definir “João Cabral encena Otelo”, a nova produção do Centro Dramático de Évora (Cendrev), que estreou no Teatro Garcia de Resende, a 20 de fevereiro.

Com texto de Fabrice Melquiot, a partir de William Shakespeare, a peça conta com encenação de Georges Guerreiro. A interpretação é de Allex Miranda, Ana Meira, Ivo Luz, Jorge Baião, José Russo, Luís Bonito, Maria Marrafa e Rosário Gonzaga.

Em cena até 16 de março, o espetáculo sobe ao palco de quarta-feira a sábado, às 19 horas, e aos domingos, às 16 horas. De salientar a existência de sessões com tradução em Língua Gestual Portuguesa, nos dias 1 e 8 de março.

E afinal do que trata esta peça? “Conhecido por ser um dos maiores encenadores portugueses em atividade, João Cabral tem de reunir uma equipa artística de alto nível para criar no palco do Teatro Garcia de Resende, em Évora, a lendária peça de Shakespeare”. Este é o ponto de partida que ficamos a conhecer através da sinopse do espetáculo.

Mas há mais. “O teatro está constantemente sujeito a incertezas, constrangimentos e acidentes”, acrescentando a mesma fonte que nos deparamos com “cenas de audições e ensaios, cenas da vida coletiva, conversas, imprevistos, equívocos ou mal-entendidos”.

Segundo a nota de imprensa do Cendrev, “num equilíbrio subtil entre comédia e drama, Fabrice Melquiot apresenta uma peça de teatro dentro do teatro, uma ‘mise en abyme’ ao mesmo tempo corrosiva e séria”, especificando que “a arte do ator é submetida a exame, à luz das notas de encenação de Stanislavski”.

É ainda referido que, “este espetáculo, em estreia mundial, é a oportunidade de ver a companhia do Cendrev dirigida pela primeira vez pelo encenador luso-suíço Georges Guerreiro”.

Para o Cendrev, “construir um novo espetáculo é sempre um desafio intenso e arrebatador, especialmente quando se celebra 50 anos de trabalho neste projeto que nasceu com a liberdade”, adiantando que “este ano ficará marcado por duas novas criações”.

“João Cabral encena Otelo” é uma delas, referindo a companhia que este é “um texto de Fabrice Melquiot, autor de mais de cinquenta peças de teatro traduzidas em muitos países e diretor de vários projetos artísticos na Europa”, sublinhando que “é um amigo que há poucos anos também decidiu escolher Évora para viver”.

Destacou também que “Georges Guerreiro, ator e encenador, é um alentejano que vive na Suíça, evidenciando desde o primeiro momento a vontade e o entusiasmo que alimentaram a construção minuciosa de todo o espetáculo”.

Citado pelo Cendrev, Fabrice Melquiot realçou que, “aqui, através de Otelo, através das cenas da obra de Shakespeare, repetidas, montadas, desmontadas, o teatro é objeto”, constatando que “a ilusão dramática apresenta-se enquanto realidade artesanal”.

Reiterou que “os ensaios são o lugar das paixões, por vezes da falha; por vezes, o tédio; por vezes, a graciosidade”.

Colocou ainda algumas questões. “Como se escreve a espera dos atores no camarim? O instante que antecede a entrada em palco? Como se escreve a cena que ‘patina’? A primeira vez em que dizemos: é isso, isso mesmo? De que modo é que a criação artística nos informa sobre os nossos desejos, as nossas forças e as nossas fraquezas?”.

Por sua vez, Georges Guerreiro, também citado pelo Cendrev, frisou que “Shakespeare é um autor cuja obra resistiu ao teste do tempo”, apontando que “a peça de Fabrice Melquiot adota uma abordagem interessante”.

Especificou que “inspira-se em ‘Otelo’, uma das obras mais famosas de Shakespeare, e explora os seus temas de uma forma cativante”, considerando que “Melquiot não se limita a reproduzir a história de Otelo; adapta-a e reinventa-a para a tornar acessível e relevante para o público moderno”.

Na sua opinião, “o que é particularmente cativante nesta peça é o seu tom lúdico, pois Melquiot consegue tornar a experiência alegre e cativante, ao mesmo tempo que aborda temas sérios”.

Segundo o encenador, “neste projeto decidimos oferecer ao espetador uma experiência imersiva no mundo do teatro, propomos que descubra um lado que não conhece”, assumindo que “estamos a envolvê-lo em todo o processo criativo de uma forma que nunca viu antes”.

Texto: Redação DS / Marina Pardal
Fotos: Cendrev (Carolina Lecoq)

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