Ainda não conhece as Brincas de Carnaval típicas da zona de Évora? Então, entre sábado e terça-feira, há a oportunidade de assistir a uma das 15 apresentações que o Grupo de Brincas do Rancho Folclórico Flor do Alto Alentejo vai fazer. São quase todas no concelho de Évora, havendo espetáculos no centro da cidade, nos bairros e em freguesias rurais.
Segundo os registos do município, já foram mais de 50 os grupos de Brincas Carnavalescas que existiram na zona de Évora. Hoje, são três, nomeadamente o Grupo de Brincas dos Canaviais, o Grupo de Brincas do Rancho Folclórico Flor do Alto Alentejo e a Escolinha de Brincas da Casa do Povo dos Canaviais.
No entanto, a tradição continua bem viva neste território e a prova disso é que nestes dias de folia voltam a acontecer diversas apresentações. Além das atuações previstas por parte do Grupo de Brincas do Rancho Folclórico Flor do Alto Alentejo, a Escolinha de Brincas dos Canaviais também vai “sair à rua”, na segunda e na terça-feira.

Carmen Vizinha é quem escreve os fundamentos do Grupo de Brincas do Rancho Folclórico Flor do Alto Alentejo, sendo também a presidente da Direção do rancho. Em entrevista ao Diário do Sul, contou alguns pormenores sobre esta tradição, mas também sobre o que está a ser preparado para os próximos dias.
“De acordo com o que temos em arquivo na Câmara de Évora, há registos das Brincas por volta de 1920, mas pressupõe-se que anteriormente já existia uma forma de Brinca adequada à época”, revelou Carmen Vizinha.
Sendo as Brincas uma tradição muito própria da zona de Évora, o que é que as caracteriza? “É um teatro de rua que é todo falado em décima e é tocado”, começa por explicar a autora dos fundamentos do grupo, acrescentando que “todos os elementos têm um instrumento para tocar”.

Disse ainda que “o mestre que é quem comanda a Brinca ao som do apito e das fitas”, recordando que, “normalmente, era um grupo que se apresentava nas zonas rurais porque a Brinca era censurada dentro da cidade”.
A mesma responsável frisou que “era feita às escondidas, eram os trabalhadores que se juntavam nos montes e nas herdades e cada um ia dizendo as décimas, formando-se então estes grupos”.
Adiantou que “o que nós apresentamos é uma Brinca construída já nesta atualidade”, lembrando que “nós começámos em parceria com os antigos elementos da extinta Brinca do Bairro de Almeirim em 2010 e fizemos durante dois ou três anos com eles”.

Carmen Vizinha especificou que, “depois, houve uma divergência de opiniões e o Rancho Folclórico Flor do Alto Alentejo passou a fazer as Brincas com elementos do rancho e alguns ainda do Bairro de Almeirim, mas já sob o aval do rancho”.
Destacou que “o programa deste ano conta com 15 apresentações, que acontecem dentro da cidade, em diferentes bairros e também em algumas freguesias rurais”.
A presidente da Direção sublinhou que “desde 2013 que escrevo os fundamentos para o grupo de Brincas do nosso rancho e esta é a primeira vez que vamos apresentar um fundamento feito anteriormente, que adaptámos para esta edição”, justificando que “a minha vida profissional não me permitiu ter tempo para criar um novo”.

Não revelando quase nada do que vão apresentar, confessou que “o segredo da Brinca é não divulgar o tema”, afiançando, contudo, que “as pessoas podem esperar divertimento”.
Carmen Vizinha focou que, “este ano, juntámos um grupo de 16 pessoas, há elementos mais novos e outros mais avançados na idade, mas é tudo pessoal divertido e bem-disposto, sempre com os palhaços a animar”, confidenciando que “esse sentimento que temos pela Brinca é uma coisa que transparece”.
Resumiu ainda que “vão ser uns dias de folia, brincadeira e diversão, também para as pessoas perceberem o que efetivamente existe de tradicional aqui em Évora, que é só nosso”.
Na sua opinião, “temos de zelar pelo que é nosso e há muita gente que não conhece o que temos de património cultural na região, mas temos conseguido perpetuar esta tradição, dando uma nova vida, para que não caia no esquecimento”.
A mesma responsável assegurou que “com o rancho folclórico já temos esse intuito de preservar o antigo e de zelar pelas tradições, os costumes e os trajes, sendo esta mais uma forma de contribuirmos para esse vertente”.
Realçou ainda “o apoio da câmara, das juntas de freguesia e de outros organismos”, frisando que “estas apresentações não são pagas, recebemos os contributos do que a população quiser mandar para dentro da roda, pelo que sem o apoio dessas entidades não era possível ter tantas saídas”.
Relativamente a esta época festiva, Carmen Vizinha deu também conta de que ”promovemos um Baile de Carnaval na nossa sede, no Bairro das Espadas, no sábado, às 22 horas, com a participação de Miguel Oliveira”.
Texto: Redação DS / Marina Pardal