O frio extremo foi a temática debatida na Rádio Telefonia do Alentejo (RTA) durante o programa feito em parceria com a Unidade de Saúde Pública (USP) do Alentejo Central.

Esta emissão, realizada na última quinta-feira do ano, contou com a participação de Vera Leal Pessoa, médica especialista em Saúde Pública, que conduziu a conversa, e de Patrícia Correia Rico, médica interna de Saúde Pública.

Para contextualizar o tema, Vera Leal Pessoa recordou que “dezembro, janeiro e fevereiro são os meses mais frios do ano em Portugal continental”, sublinhando que “a exposição ao frio extremo pode ter repercussões negativas na morbilidade e mortalidade, além das temperaturas muito baixas gerarem múltiplas preocupações para a população”.

A este respeito, Patrícia Correia Rico lembrou que “os países do Sul da Europa, como Portugal, nos quais os invernos são mais amenos, são os que apresentam maior risco relacionado com as habitações mais frias e, muitas vezes, hábitos de vestuários menos adaptados a temperaturas baixas”.

Nesse sentido, realçou que “a exposição ao frio extremo, mesmo quando o inverno não é rigoroso, quando comparado com outros países, pode assim ter impacto maior na saúde e na segurança das pessoas”.

Vera Leal Pessoa acrescentou que “este impacto pode ocorrer por múltiplas vias”, começando por abordar “as infeções que nos preocupam nesta fase do ano, maioritariamente infeções respiratórias de natureza viral, das quais a gripe e a Covid-19 são exemplos”.

Patrícia Correia Rico focou que “durante os meses mais frios do outono e do inverno é expectável que aumente a incidência de doença aguda por vírus respiratório, que são, normalmente, infeções causadas por vírus com padrão sazonal e que circulam e se transmitem mais nestas estações”.

Explicou ainda que, “adicionalmente, as baixas temperaturas levam ao aumento do tempo de permanência em lugares fechados, o que leva a que os próprios comportamentos das pessoas sejam facilitadores da transmissão”.

A esse nível, a médica interna apontou que “estas condições propícias à transmissão podem ser minimizadas com medidas preventivas gerais, nomeadamente higienização das mãos, desinfeção dos objetos nos espaços de permanência, etiqueta respiratória e uso de máscara ou isolamento, caso justificado”, evidenciando que “para grupos de risco é ainda aconselhada a vacinação de pessoas elegíveis”.

Por sua vez, Vera Leal Pessoa frisou que “o frio pode ainda ter um impacto significativo na exacerbação de doenças crónicas em pessoas com antecedentes conhecidos de doença respiratória ou cardíaca, entre outras”, reiterando que “o frio extremo é, em algumas circunstâncias, um fator de risco direto para a saúde mesmo em pessoas saudáveis ou sem doença crónica grave associada, uma vez que a exposição pode causar hipotermia”.

Reforçou que “quando existe exposição a temperaturas baixas, dentro ou fora de casa, sem que as condições para regulação adequada da temperatura do organismo estejam reunidas, a vida da pessoa pode ficar em risco, especialmente quando já existe vulnerabilidade de base”.

Nesse contexto, Patrícia Correia Rico esclareceu que “a hipotermia consiste numa descida da temperatura corporal para valores abaixo dos 35.ºC.”, lembrando que “pode ser ligeira, e revertida com aumento da temperatura do ambiente e cuidados básicos que não requerem assistência médica, ou grave, sendo necessária observação e intervenção médica urgentes por risco de coma e risco de vida”.

Especificou ainda que “a diminuição da temperatura corporal na hipotermia pode ser muito brusca, por exemplo quando há exposição à chuva ou em caso de queda para água gelada, mas também pode ocorrer quando a pessoa permanece em ambientes frios por longos períodos, mesmo em ambientes interiores, como a habitação”.

A mesma médica interna avançou também que “em Portugal continental, como noutros países com invernos menos rigorosos, a vulnerabilidade energética e a pobreza energética extrema das habitações representam um problema, uma vez que dificulta a capacidade de manutenção de uma temperatura adequada em épocas de temperatura extrema”.

Já Vera Leal Pessoa adiantou que, “nesta fase do ano, em que as temperaturas são mais rigorosas, importa reforçar que quando recorremos a sistemas de aquecimento para aumentar a temperatura das habitações, a utilização correta destes equipamentos é fundamental”.

De acordo com Patrícia Correia Rico, “em sistema de aquecimento com chama, como é o caso das braseiras, fogareiros, aquecedores a gás ou lareiras, é necessário oxigénio para que estes funcionem”, constatando que “o consumo de oxigénio na zona da casa onde se encontram na combustão origina monóxido de carbono que, quando não libertado, pode ser letal”.

Nesse âmbito, alertou que “para evitar situações de intoxicação por monóxido de carbono deve manter-se a ventilação adequada dos espaços, apesar da dificuldade acrescida na capacidade de manutenção de temperatura no espaço”.

Vera Leal Pessoa deixou ainda a indicação de “evitar a aproximação de têxteis, mobílias e outros objetos das fontes de calor, de modo a evitar o risco de incêndio”, recomendando também “a utilização de vestuário adequado com várias camadas de roupa e luvas ou gorros para cobrir as extremidades, especialmente se tiver de deslocar-se no exterior, bem como manter os pés quentes e confortáveis, com a utilização de meias e calçado apropriado”.

Texto: Redação DS / Marina Pardal
Foto: DS

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