O mês de setembro teve início com um programa extra de saúde pública na Rádio Telefonia do Alentejo, dedicado à temática “MPox”.
Como habitualmente, a iniciativa contou com a parceria da Unidade de Saúde Pública (USP) do Alentejo Central, tendo decorrido no dia 5 deste mês.
A conversa foi conduzida por Vera Leal Pessoa, médica especialista em Saúde Pública, contando com a intervenção de Patrícia Correia Rico, médica interna de Saúde Pública.
O tema foi introduzido com a explicação do que é a “MPox”. Segundo Patrícia Correia Rico, “é a infeção pelo vírus Monkeypox”, acrescentando que “é uma zoonose, o que significa que é uma doença que se pode transmitir de animais para humanos, além de também se poder transmitir entre pessoas”.
Vera Leal Pessoa recordou que “quando surgiu o primeiro aumento de casos, em 2022, passou despercebido a muitas pessoas porque ainda se falava muito na pandemia de Covid-19 e nas suas consequências, mas também porque era frequentemente abordada pela comunicação social enquanto ‘varíola dos macacos’, que não quer dizer exatamente o mesmo”.
A esse respeito, Patrícia Correia Rico esclareceu que “o termo ‘varíola dos macacos’ não se refere à infeção humana, mas sim à infeção nos animais”, apontando que “não se trata de varíola, doença humana que foi erradicada em 1980”.
Deu ainda conta de que a infeção humana por vírus Monkeypox “trata-se de uma doença autolimitada na maioria dos casos, mas que pode resultar também em doença grave ou mesmo ter desfecho fatal num número mais restrito de pessoas”.
A médica interna adiantou que “resulta em doença de início súbito marcada pelo aparecimento de pelo menos um dos seguintes sinais e sintomas”, descrevendo “exantema (lesões na pele ou mucosas); queixas na zona genital e do ânus (incluindo úlceras); febre com temperatura a ultrapassar os 38.º C; sintomas inespecíficos, como dores de cabeça, cansaço, dores musculares; ou gânglios linfáticos aumentados, poucos dias antes ou em simultâneo ao aparecimento da erupção cutânea”.
Explicitou também que “as lesões na pele ou mucosas começam por ser manchas planas (máculas), depois com relevo (pápulas), tornam-se vesículas com conteúdo líquido, pústulas geralmente umbilicadas e, finalmente, formam-se úlceras e crostas que acabam por cair”.
De acordo com Patrícia Correia Rico, “de um modo geral, este processo leva duas a quatro semanas, mas em doentes imunocomprometidos podem levar mais tempo até melhorar”.
Referiu ainda que “o tratamento é exclusivamente direcionado para o alívio de sintomas no curso temporal da doença, não existindo tratamento específico que tenha uma intervenção no sentido de alterar a evolução da doença ou reduzir o tempo da mesma, sendo orientada para fornecer um maior conforto à pessoa”, reiterando que “nos casos mais graves pode ser necessário o internamento hospitalar”.
Quanto às medidas que visam interromper cadeias de transmissão do vírus perante uma situação epidemiológica que o justifique, a mesma médica interna realçou que “a vacina consiste essencialmente numa vacina de terceira geração contra a varíola”.
Destacou também que, “em Portugal, a estratégia de vacinação contra o vírus Monkeypox prevê a utilização da vacina em grupos identificados enquanto apresentado maior risco para infeção humana pelo vírus Monkeypox, em contexto de vacinação preventiva; e pessoas que tenham tido contacto próximo com um caso confirmado de infeção, isto é, em contexto de vacinação pós-exposição ao vírus”.
Um dos pontos evidenciados durante a conversa foi que “a infeção humana pelo vírus Monkeypox pode ser transmitida de uma pessoa para outra através de contacto físico próximo, incluindo contacto sexual”, disse Patrícia Correia Rico, ressalvando que, “atualmente, não se sabe se o vírus pode ser transmitido através de sémen ou fluidos vaginais”.
Reforçou que “o ponto importante é saber que o contacto direto, pele com pele, com lesões pode transmiti-lo, sendo este aspeto facilitado no contexto de relações sexuais”.
Já no final, a médica interna deixou algumas mensagens-chave, nomeadamente para quem tenha contactado com uma pessoa com MPox diagnosticada.
“Durante 21 dias após a exposição/último contacto deve estar atento ao surgimento de qualquer sintoma geral, lesão cutânea ou mucosa; evitar o contacto físico próximo, incluindo relações sexuais (durante 21 dias); lavar as mãos com mais frequência e reforçar medidas gerais de higiene; e avaliar a temperatura corporal duas vezes por dia”.
A par disso, frisou que, “se tem sintomas (mesmo sem lesões da pele) deve ligar para o SNS 24 (808242424) caso tenha tido contacto físico próximo com alguém com a infeção ou suspeita da mesma e informar os profissionais de saúde; bem como alertar as pessoas que foram seus contactos próximos desde o início dos sintomas”.
Patrícia Correia Rico focou também que “se deve evitar contacto próximo com animais domésticos e outros animais, em especial, roedores”, indicando que, “se precisar de se deslocar a uma unidade de saúde, deverá utilizar máscara facial e cobrir as lesões, o mais possível, com vestuário”.
Texto: Redação DS / Marina Pardal
Foto: DS