O tempo quente tem pautado as últimas semanas e, para muitos, esta é uma das épocas preferidas do ano. Não obstante, há também uma série de cuidados e recomendações que é preciso ter em conta para viver estes dias com maior tranquilidade e bem-estar.
O programa da Rádio Telefonia do Alentejo feito em parceria com a Unidade de Saúde Pública (USP) do Alentejo Central abordou precisamente este tema na edição de julho.
“A temperatura elevada extrema e o seu impacto na saúde” foi a temática debatida por Raquel Vareda, médica especialista em Saúde Pública, e Patrícia Correia Rico, médica interna de Saúde Pública.
O programa começou com a definição de ondas de calor. Segundo Raquel Vareda, “a definição técnica de onda de calor pode variar com a organização que declara essa onda de calor, mas a definição que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera aplica em Portugal é a mesma que a Organização Meteorológica Mundial, em que consideramos que ocorre uma onda de calor quando, num intervalo de pelo menos seis dias consecutivos, a temperatura máxima diária é superior em 5.ºC ao valor médio diário no período de referência”.
Esclareceu também que, “neste momento, o período de referência que se utiliza para estudar este tipo de eventos climáticos é o período entre 1961 e 1990”.
A esse respeito, Patrícia Correia Rico acrescentou que “esta definição está mais relacionada com o estudo e análise da variabilidade climática do que propriamente com os impactos na saúde pública das temperaturas extremas”, exemplificando que “a ocorrência de três dias em que a temperatura seja 10.°C acima da média terá certamente mais impacto na saúde do que sete dias com temperatura 5.°C acima da média”.
Nesse sentido, Raquel Vareda explicou “é por isso que atualmente utilizamos muito mais o conceito de ‘temperaturas não-ótimas’, que nos ajuda a descrever tudo o que sejam temperaturas fora do recomendado para a saúde do ser humano porque essas temperaturas são um fator de risco conhecido para mortalidade e para perda de anos de vida saudável, especialmente em grupos de risco”.
Ainda neste enquadramento, Patrícia Correia Rico deu conta “dos grupos mais vulneráveis ao calor, nomeadamente os idosos, crianças pequenas e bebés, pessoas com doenças crónicas, grávidas, pessoas com mobilidade reduzida ou incapacitadas, trabalhadores ao ar livre e indivíduos em situações de vulnerabilidade social”.
Quanto aos principais impactos das ondas de calor na saúde da população, Raquel Vareda adiantou que “quando estamos expostos ao calor, há mecanismos que o ser humano tem para libertar calor, como a radiação e a evaporação, mas podem não funcionar devidamente para reduzir a temperatura interna”.
Especificou que, “nesse caso, a temperatura do nosso organismo aumenta demasiado e podemos desenvolver uma insolação ou, se não forem tomadas quaisquer medidas para reduzir a temperatura, um choque de calor”.
De acordo com Patrícia Correia Rico, “a insolação é uma condição menos grave que o choque de calor, mas ainda assim preocupante, e acontece quando o corpo perde uma quantidade excessiva de água e sal através do suor porque esse mecanismo está a tentar trabalhar demasiado para baixar a temperatura do corpo”.
Revelou que “os principais sintomas são fadiga/cansaço intenso, sudorese intensa, pele pálida e húmida, taquicárdia ligeira, cãibras musculares, tonturas/desmaios, dor de cabeça ou náuseas/vómitos”.
Por outro lado, a médica interna realçou que “o choque de calor é uma emergência médica e ocorre quando a temperatura corporal aumenta rapidamente, num curto espaço de tempo, podendo evoluir a partir de uma insolação que foi ignorada”.
Sublinhou que, “neste caso, existe uma falha na regulação da temperatura pelo hipotálamo, um dos nossos centros cerebrais de controlo da temperatura, e isto faz com que a nossa temperatura interna ascenda acima de 40.°C, o que é muito perigoso e pode resultar em danos aos órgãos e até mesmo morte, se não for tratado rapidamente”.
Em relação aos sinais de alarme, Patrícia Correia Rico indicou que são “pele quente, vermelha e seca (ausência de suor); taquicardia intensa; dor de cabeça intensa; confusão, desorientação ou até perda de consciência; náuseas e vómitos; ou convulsões”.
Durante o programa também foram destacadas as medidas a praticar nestas situações, que passam, por exemplo, por diminuir a temperatura corporal e reidratar a pessoa, mas também por contactar a linha SNS24. No caso do choque de calor, “a primeira coisa a fazer é telefonar imediatamente para o 112”, referiu Raquel Vareda, fazendo depois os outros procedimentos referidos.
Relativamente aos cuidados a ter para evitar estas situações, Patrícia Correia Rico disse que “duas estratégias essenciais passam pela hidratação e alimentação adequadas ao calor extremo”.
Por sua vez, Raquel Vareda constatou que “também é importante termos atenção ao vestuário, aplicação de protetor solar com fator de proteção solar 50, evitar exercício físico moderado a intenso em dias de maior calor ou à temperatura no interior da casa”.
Em jeito de resumo, Raquel Vareda destacou que “o impacto do calor extremo é crucial para a saúde da população e para as USP porque este impacto influencia as nossas funções como serviços que protegem e promovem a saúde das populações que servimos”.
Reiterou ainda que “aquilo que pretendemos é a prevenção de doenças e mortes, a proteção dos grupos de risco e a promoção de comportamentos saudáveis”, reforçando que “pretendemos que a população se sinta capacitada para se proteger nos dias de mais calor e para proteger as pessoas à sua volta, particularmente se conviverem com grupos de risco”.
A esse nível, Patrícia Correia Rico frisou que “importa que os serviços de saúde estejam preparados para as ondas de calor, com resposta mais eficaz e coordenada”.
Concluiu que “este aspeto é facilitado num contexto em que a população está melhor informada, sendo a estratégia e planeamento mais eficazes com distribuição dos recursos disponíveis para onde são mais necessários”.
Texto: Redação DS / Marina Pardal
Foto: DS