Habituado a sessões um pouco diferentes, o Tribunal da Relação de Évora (TRE) foi “palco”, no dia 11 de julho, de uma cerimónia de homenagem a José Maria Ramalho Dinis Perdigão (1830-1884). Trata-se de um abastado lavrador da região do século XIX, que mandou construir o edifício situado na Rua da República, frente ao Jardim Público, conhecido como “Palácio Barahona”, onde este tribunal está sediado desde 26 de novembro de 2007.

A cerimónia teve como foco que o TRE passe a ser o “guardião” de um busto de José Maria Ramalho Dinis Perdigão, que estava na posse de um seu familiar, Fernando Fernandes. A par disso, foram também doadas outras peças ligadas à história da família dos fundadores deste palácio.
Além da intervenção da presidente do TRE, juíza desembargadora Albertina Pedroso, o evento contou com uma apresentação do homenageado feita por Paulo Rodrigues, professor do Departamento de História da Universidade de Évora (UÉ).
Decorreu ainda um momento musical protagonizado pelo “Duo Kontrast”, constituído por Sérgio Gladkyy (acordeão) e Diogo Pardal (clarinete), alunos da Escola de Artes da UÉ, e a leitura do poema “Regresso a casa”, por Ricardo Maria Louro, acompanhado musicalmente por Inês Vilas Boas.

No seu discurso, Albertina Pedroso deu conta de como surgiu esta homenagem, realçando “a honra e a responsabilidade de ficar guardião do busto do fundador” deste edifício.
Explicou que “tudo começou na sequência da abertura desta Casa da Justiça à comunidade que serve e com a visita de alunos da Universidade Sénior de Évora, acompanhados pelo professor, Ricardo Maria Louro”.
Nessa ocasião, o referido professor “transmitiu-nos que tinha um exemplar do semanário ‘O Eborense’, com a homenagem prestada em 27 de julho de 1901, dia do seu aniversário, a D. Maria Ignacia Angelica Fernandes de Barahona, que fazia muito gosto em oferecer para que ficasse guardada neste palácio, onde aquela ilustre senhora viveu”.

De acordo com a presidente do TRE, “quando nos reunimos novamente para nos fazer entrega dessa histórica publicação de homenagem, Ricardo Maria Louro trazia-nos a surpreendente notícia de que o senhor Fernando Fernandes gostaria de visitar o palácio e oferecer a escultura que possuía do busto de José Maria Ramalho Perdigão, seu tio-bisavô por afinidade, em virtude do casamento com a D. Maria Ignacia, de quem o seu pai era sobrinho-neto e afilhado”.
Já em declarações ao Diário do Sul (DS), adiantou que na sequência dessa visita de Ricardo Maria Louro “surgiu este encadeamento de doações ao TRE de um espólio que a família tinha e que era apenas desfrutado pelos próprios”, reiterando que “tiveram a generosidade de ceder essas peças ao tribunal”.
Entre esses objetos, há a destacar fotografias de época, um retrato de Maria Ignacia e ainda uma peça em cortiça emoldurada com o rosto de José Maria Perdigão.

A juíza desembargadora recordou ainda alguns factos históricos relacionados com este edifício. “O palácio foi mandado construir por José Maria Perdigão ainda antes do seu casamento com Maria Ignacia, local onde viveram os dois”, referiu.
Acrescentou que “após o falecimento de José Maria Perdigão, a viúva casou com Francisco Barahona, que fez várias melhorias no edifício e que depois acabou por dar nome ao palácio”.
Para Albertina Pedroso, “os tribunais devem estar em edifícios com dignidade e este é um tribunal superior, que serve seis distritos administrativos, por isso, a importância de estar num edifício com a dignidade e a história deste é muito relevante”.
Além disso, evidenciou que, “não deixando obviamente de ser o espaço de trabalho que tem de ser, queremos que o TRE seja um espaço aberto à comunidade, nomeadamente promovendo visitas para conhecer o edifício e o trabalho que aqui é feito”.

Mesmo com 101 anos de idade, Fernando Fernandes marcou presença nesta cerimónia, agradecendo “a grandeza desta manifestação” para com o seu tio-bisavô.
Em “conversa” com o DS, fez notar que “os meus antepassados fizeram muito por Évora e depois deles morrerem ninguém fez caso, não há uma rua ou uma praça que tenha o nome deles, esqueceram-nos completamente”.
Na sua opinião, “o Jardim Público poderia ter o nome de José Maria Perdigão, que foi ele que o fez”, lembrando que “a minha tia-bisavó, Maria Ignacia, já tem o seu nome associado ao Recolhimento Ramalho Barahona”.
Nesse sentido, Fernando Fernandes considerou que esta homenagem feita pelo TRE “tem bastante significado, mostrando que se lembram deste meu antepassado”.
Texto e Fotos: Redação DS / Marina Pardal