Em junho, o programa da Rádio Telefonia do Alentejo feito em parceria com a Unidade de Saúde Pública do Alentejo Central teve como foco as “Alterações Climáticas, Cidades Resilientes e Saúde”.
A sessão contou com as intervenções de Patrícia Correia Rico, médica interna de Saúde Pública, e de Ana Patrícia Gabriel, médica interna de Formação Geral.
O primeiro momento desta conversa teve como objetivo explicar que “as alterações climáticas referem-se a mudanças de longo prazo nas temperaturas e nos padrões climáticos”, reiterando que “essas mudanças podem ser naturais, devido a mudanças na atividade do sol ou até devido a grandes erupções vulcânicas”, adiantou Ana Gabriel.
Não obstante, disse ainda que, “desde os anos de 1800, que as atividades humanas têm sido o principal motor para as alterações climáticas, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis, como o carvão, o petróleo e o gás natural”.
Por sua vez, Patrícia Rico acrescentou que “o desequilíbrio resultante deste aumento das emissões levou mais tarde a alterações nos diferentes subsistemas terrestres, algumas com impacto significativo e até mesmo irreversível”.
Segundo Ana Gabriel, “as alterações climáticas podem afetar a nossa saúde, a capacidade de produzir alimentos, a nossa habitação, segurança e o nosso trabalho”, exemplificando que “alguns de nós já somos mais vulneráveis aos impactos climáticos, como é o caso das pessoas que vivem em pequenas nações insulares e noutros países em desenvolvimento”.
A par disso, referiu que “dentro de cada país há subgrupos da população que são mais vulneráveis que outros”.

A esse nível, Patrícia Rico realçou que “as alterações climáticas e as suas consequências vão afetar pessoas diferentes de forma desigual, mediante os recursos que têm disponíveis e condicionando uma resiliência e capacidade de resposta diferentes”.
Ana Gabriel evidenciou que “os dados da ONU, da comunidade científica e de outras organizações levaram à compreensão com relativa unanimidade entre decisores políticos que o aumento da temperatura global não deveria exceder os 1,5ºC de modo a contornar os impactos climáticos e a preservar a habitabilidade do planeta”, constatando que, “apesar dos objetivos gerais e específicos que têm vindo a ser delineados, as perspetivas apontam para um aumento da temperatura na ordem dos 3,0ºC até a final de 2100”.
A médica interna de Formação Geral deu ainda conta de que “as medidas de ação climática assentam normalmente em três categorias, nomeadamente a redução de emissões, a adaptação aos impactos climáticos e o financiamento dos ajustamentos necessários”.
Quanto a Portugal, revelou que “encontra-se entre os países europeus com maior vulnerabilidade aos impactos das alterações climáticas”, dando como exemplos que “Portugal já perdeu 15 km2 de território, engolido pelo mar nos últimos anos; têm-se verificado temperaturas acima dos 20 graus em meados de outubro; e existem cada vez mais longos períodos de seca, vagas de calor ou tempestades e chuvas mais fortes”.
Em relação às medidas de combate a este cenário no nosso país, Patrício Rico salientou que “existe a Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas 2020, que agora foi estendida até 31 de dezembro de 2025, que tem como intuito estabelecer objetivos e um modelo para a implementação de soluções para a adaptação de diferentes setores aos efeitos das alterações climáticas”.
Relativamente ao nosso território, a médica interna de Saúde Pública frisou que “promoveu-se a elaboração do ‘Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas do Alentejo Central’, no qual participam os 14 concelhos do Alentejo Central”.
Ana Gabriel especificou que “o Alentejo Central é uma das regiões mais afetadas pelas alterações climáticas através do efeito combinado da redução da precipitação e do acentuar dos extremos de temperatura”.
Avançou ainda que “na região, a economia local tem forte dependência de setores vulneráveis às alterações climáticas, como o setor primário e o setor do turismo condicionando constrangimentos à capacidade adaptativa local numa situação de relativa fragilidade do tecido socioeconómico”.
A mesma médica interna ressalvou que, “apesar disso, existem aspetos nos diferentes concelhos que atuam enquanto potenciais janelas de oportunidade na integração para a resiliência no Alentejo, nomeadamente a motivação e o espaço para mudança num sentido compatível com o desenvolvimento local”.
No que diz respeito à importância deste tema para a área da saúde pública, Patrícia Rico sublinhou que “pode ajudar no diagnóstico das vulnerabilidades da população e seus subgrupos a nível local, como por exemplo a sua caracterização ou quantas habitações estão pouco adaptadas às consequências das alterações climáticas e porquê”.
Comentou ainda que “adicionalmente pode ser planeada a organização dos serviços de saúde para uma resposta adequada aos cenários mais prováveis”, considerando que “o mais importante é a participação ativa dos diferentes setores e da comunidade local na construção de estratégias que sejam adequadas às especificidades do Alentejo Central e que permitam construir cidades com a melhor capacidade de resposta e de recuperação possível”.
Texto: Redação DS / Marina Pardal
Foto: DS