A Rádio Telefonia do Alentejo, através do programa feito em parceria com a Unidade de Saúde Pública (USP) do Alentejo Central, abordou o “Impacto da aplicação de fitofármacos na saúde humana, ambiental e animal”.

Este foi o tema em destaque em setembro, numa edição que contou com a participação da técnica de Saúde Ambiental, Tânia Capitão, e das médicas internas de Formação Geral, Nádia Cavaco e Margarida Pestana Cortes.

A conversa teve início com a definição de fitofármacos ou produtos fitofarmacêuticos. Segundo Margarida Pestana Cortes, “são utilizados para proteger as culturas de outras plantas infestantes, pragas e doenças”, especificando que “podemos entendê-los como aquilo a que a população em geral conhece por pesticidas”.

Referiu também que “só com a sua utilização é possível obter colheitas suficientemente produtivas para satisfazer as enormes necessidades alimentares da imensa população humana”.

Contudo, alertou que “a sua utilização traz preocupações relacionadas com o perigo que pode aportar para as pessoas, animais e ambiente, tanto pela possibilidade de envenenamento por exposição direta ao produto, como pelas consequências negativas que o consumo de alimentos tratados com fitofármacos pode trazer, pelo que a sua utilização deverá, sempre que possível, ser evitada”.

Por sua vez, Nádia Cavaco explicou que “existem vários tipos de fitofármacos, que se classificam consoante o tipo de praga que pretendem atacar”, exemplificando que “existem inseticidas, que eliminam insetos; fungicidas para os fungos; herbicidas para as plantas invasoras (ou ‘ervas daninhas’); moluscicidas para as lesmas e caracóis, entre muitos outros”.

Relativamente à utilização destes produtos, Margarida Pestana Cortes frisou que “existe legislação que determina quais os produtos fitofarmacêuticos que podem ser utilizados na agricultura profissional, quem os pode vender, como devem ser aplicados e quem os pode aplicar”.

A esse respeito, lembrou que “apenas pessoas habilitadas e certificadas poderão, por lei, efetuar a aplicação de fitofármacos nos campos de cultivo que tenham como destino a comercialização”.

A par disso, a médica interna adiantou que “existem outros fitofármacos, também legalmente regulamentados, que podem ser adquiridos e utilizados por qualquer pessoa nas suas plantas interiores, jardins e hortas, desde que esses indivíduos sejam maiores de idade”.

Além dos benefícios já realçados, há também a focar os riscos da utilização destes produtos. De acordo com Nádia Cavaco, “podemos dividi-los entre os relacionados com intoxicações agudas, que estão ligados aos envenenamentos, e os devidos à exposição prolongada”.

Um dos exemplos apontados foi que, “em relação à exposição prolongada, existem estudos que sugerem que o consumo de produtos tratados com fitofármacos ou a exposição aos mesmos pode aumentar o risco de vários tipos de cancro”.

No que diz respeito ao risco ambiental, “os produtos fitofarmacêuticos têm o potencial de se dispersar pelo ambiente, podendo contaminar não só o solo onde são aplicados, mas também disseminar-se para os cursos de água próximos, podendo afetar assim a qualidade da água que consumimos”, disse ainda a mesma médica interna.

Acrescentou também que, “em relação ao risco para os animais, estes podem ser afetados por intoxicações agudas ou exposição prolongada, tal como os humanos”, comentando que “é importante referir que os animais podem acumular no seu corpo os fitofármacos, podendo assim, entrar estes produtos na cadeia alimentar”.

Mas o que podemos fazer no nosso dia-a-dia para diminuir estes riscos? Um dos aspetos evidenciados por Margarida Pestana Cortes foi que “podemos tentar preferir produtos biológicos, que são tratados com menos produtos químicos, mas que têm a desvantagem de serem mais caros”, aconselhando ainda que, “a nível dos nossos cultivos domésticos, devemos procurar alternativas o mais naturais possíveis para lidar com pragas e doenças das plantas”.

Alertou ainda que “é essencial ter um enorme cuidado no manuseamento e armazenamento dos fitofármacos, sendo que devemos ter especial atenção a crianças e animais”.

No que se refere à Saúde Pública, Tânia Capitão esclareceu que “a questão do impacto da aplicação dos fitofármacos ainda está pouco aprofundada”, sublinhando que “é um tema que seria bastante interessante abordar e aprofundar futuramente, dado os riscos que estão associados à sua utilização”.

Na sua perspetiva, “será importante a Saúde Pública atuar na informação e sensibilização à população em geral, numa questão de literacia para a saúde, aprofundar e conhecer melhor os riscos associados ao uso de fitofármacos na saúde humana e na saúde ambiental”.

A técnica de Saúde Ambiental destacou ainda a importância de “reforçar a vigilância e monitorização no caso de várias situações de intoxicação aguda e reforçar a vigilância sanitária de água para consumo humano através da pesquisa da presença ou não de fitofármacos na água”.

Texto: Redação DS / Marina Pardal
Foto: DS

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