Nos últimos dias, passou a falar-se de uma outra possível localização para o novo aeroporto, complementar ao de Lisboa. Vendas Novas apresenta-se como uma opção competitiva a vários níveis, numa lista que também é encabeçada por Alcochete e Santarém.
Em entrevista ao Diário do Sul, o presidente da Câmara de Vendas Novas, Luís Dias, explicou em que ponto se encontra todo o processo.
“A opção Vendas Novas surge motivada por um bloco de associações ambientalistas que fazem parte da Comissão Técnica Independente e que na fase inicial em que se pode propor qualquer localização nos ligaram a perguntar se tínhamos alguma oposição e, nós dissemos claramente que não”, explicou, sublinhando que, “para eles, Vendas Novas era a melhor localização do ponto de vista ambiental”.
De acordo com o autarca, “a localização escolhida, junto à povoação de Piçarras, não tinha nem do ponto de vista da fauna, nem da flora um impacto muito negativo naquilo que era a fixação do aeroporto”, lembrando que “não temos corredores migratórios de aves, não temos espécies protegidas naquela zona e é, sobretudo, uma área de pinhal e de eucaliptal”.
Nesse sentido, referiu que “surgiu a hipótese de Vendas Novas, que começou a ser avaliada pela Comissão Técnica Independente e que com o evoluir do processo chega agora a esta fase final”.
Luís Dias especificou que “estamos à espera, na segunda semana de novembro, do relatório final da Comissão Técnica Independente que, tendo em conta 21 parâmetros analisados, vai classificar as soluções em ‘cima da mesa’, sobretudo as três que estão mais avançadas e que têm mais possibilidades de ser escolhidas, que são Santarém, Alcochete e Vendas Novas”.
O edil realçou que, “de alguma forma, apercebemo-nos de que há de facto um conjunto de mais-valias da opção Vendas Novas que os outros não têm”.
Evidenciou que “uma tem a ver com os custos da infraestrutura, havendo aqui já as ligações ferroviárias e rodoviárias para a intermodalidade de transportes”, apontando que “conseguíamos facilmente construir uma estação de comboios junto ao aeroporto porque temos aqui o troço de linha ferroviária que liga a Lisboa e ao sul do país e, quem sabe, voltar a ter a linha do Setil, a ligação norte via Entroncamento”.
A par disso, o presidente da câmara anunciou que “sabemos que há um investimento que já está a ser feito para duplicar a linha ferroviária no troço Poceirão-Bombel e vai criar todas as condições para a ligação entre o terminal do aeroporto e o terminal ferroviário se vier a ser aqui construído”, resumindo que “a grande vantagem do comboio é que estamos a falar de 30 minutos até à capital”.
Por outro lado, recordou que “temos também o nó da Marateca que faz a ligação via rodoviária, quer a sul, quer a Lisboa”, constatando que “é um nó de autoestradas que nos permite ligar a qualquer ponto do país rapidamente”.
Segundo Luís Dias, “outra vantagem imediata que nós temos e que, por exemplo Santarém não tem, é termos aqui o oleoduto que permitia que o abastecimento dos aviões não carecesse de transporte rodoviário, ou seja, representa uma redução do custo e das emissões de dióxido de carbono”.
Associando a isto tudo, o autarca salientou que “há o facto de estarmos no Alentejo, numa região de convergência onde podíamos alavancar tudo o que são os investimentos necessários à volta do aeroporto com um quadro comunitário para nos colocar na região de convergência, com uma potenciação muito grande do distrito de Évora que a ir para qualquer outra localização não é possível”.
Aludindo à importância da coesão territorial, sustentou que “o aeroporto seria um contributo determinante, quer para a economia da região Alentejo, quer para alavancar muitos setores”.
Na sua perspetiva, “a localização Vendas Novas ia mudar completamente a face do Alentejo Central e íamos ter de facto um potencial que hoje não temos”.
Entre a população, há vozes contra e outras a favor, como é natural, mas Luís Dias reforçou que “estamos a falar de uma revolução daquilo que é o concelho de Vendas Novas, a nível de progresso, da capacidade de atração de empresas, da potenciação da massa salarial do nosso concelho ou de mais e melhores serviços públicos”.
Deu ainda nota de que “o corredor de aproximação faz-se de Canha para Setúbal e, portanto, não há aviões sobre Vendas Novas, o que de alguma forma tranquiliza a maioria da população”.
Para o autarca, “a única desvantagem é a distância à capital, cerca 70 quilómetros, mas mesmo assim estamos a falar de 25 quilómetros em relação à opção de Alcochete”, recordando, contudo, que “esse ponto mais negativo fica atenuado com a questão ferroviária”.
Fez ainda questão de frisar que “Vendas Novas é a única localização que não tem um lobby instalado”, considerando que, “se estamos nesta fase mesmo sem lobby, isso significa que temos um grande potencial”.
Agora é aguardar pela segunda semana de novembro, altura em que “a Comissão Técnica Independente, face aos 21 critérios, vai indicar que a localização que tem mais peso em termos pontual nesta análise é a opção x”, destacou Luís Dias.
Acrescentou que “a posição é entregue ao Governo e tornada pública, tendo assumido o Governo que até ao final do ano ou início do próximo tem uma decisão tomada”.
A esse respeito, o autarca relembrou que “essa decisão vai ser tomada em acordo com o PSD, segundo o que foi anunciado pelo nosso primeiro-ministro, por ser um investimento estratégico e para que, algum dia, não haja alternâncias de Governo que possam de alguma forma parar novamente todo este processo”.
Texto: Redação DS / Marina Pardal
Foto: Arquivo DS