“Quem és tu? — Um teatro nacional a olhar para o país”. É com uma frase icónica da dramaturgia portuguesa que esta exposição do Teatro Nacional D. Maria II ganha vida, chegando agora a Évora.

É no Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, que encontramos a expressão “Romeiro, romeiro, quem és tu?” que acaba por ser o mote para esta mostra que pode ser vista na cidade alentejana até 21 de outubro. A mesma foi inaugurada no dia 30 de setembro e está patente na Galeria da Casa de Burgos, da Direção Regional da Cultura do Alentejo (DRCAlentejo), e na Biblioteca Pública de Évora (BPE).

Esta exposição acontece no âmbito da Odisseia Nacional, promovida pelo Teatro Nacional D. Maria II, enquanto o seu edifício está em obras de reabilitação. Segundo os organizadores, “surge de uma parceria com a Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril e o Museu Nacional do Teatro e da Dança, contando em Évora com o envolvimento da DRCAlentejo, Câmara de Évora e BPE”.

Quanto ao tema, é realçado que “a concessão do Teatro Nacional D. Maria II à Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro acompanhou 45 dos 48 anos da ditadura do Estado Novo, tendo-se iniciado em 1929 (três anos depois da instauração da ditadura militar), e sido continuamente renovada, incluindo em 1964, após o incêndio que encerrou o edifício”, acrescentando que “só a revolução levaria ao fim do contrato, em 1974”.

Nesse sentido, os promotores destacaram que “a exposição passa por quase 100 anos de espetáculos, diferentes geografias e composições”, salientando que “a partir de palavras-conceito que recuperam nomes de espetáculos para, teórica e propositadamente, testar de que modo se pode olhar para a história contemporânea e nelas ver o lugar que o teatro ocupa”.

“Quem és tu? — Um teatro nacional a olhar para o país” conta com curadoria de Tiago Bartolomeu Costa, explicando o Teatro Nacional D. Maria II que “através de linhas temáticas comuns, propõem-se leituras que aprofundem a prática artística e a implementação de políticas, num trabalho que identifica princípios de resistência, mas também de participação nas atividades e ações do regime”.

De salientar ainda que, “no dia 21 de outubro, entre outras atividades, terá lugar, às 17 horas, o debate ‘A sátira e censura, o poder e o humor’, com a participação de Cristina Carvalhal e Júlia Leitão de Barros, e moderação do curador da exposição”, referindo a mesma fonte que, “durante todo o período expositivo serão realizadas visitas guiadas para as escolas, mediante marcação”.

Em entrevista ao Diário do Sul (DS), Pedro Penim, diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, adiantou que “a exposição surge para dar uma ideia do que são os últimos 100 anos da história do Teatro Nacional D. Maria II, que não são alheios à história contemporânea de Portugal”.

Evidenciou que, “neste ano, em que estamos fora de Lisboa, pois o nosso edifício está em obras e estamos em Odisseia Nacional, que é o nome que arranjámos para esta enorme digressão por todo o país, em mais de 90 municípios, achámos que era importante realizar esta exposição, para dar conta desta realidade tão rica da história do Teatro Nacional”.

A par disso, frisou que, “ao mesmo tempo, permite perceber onde é que ela se aproxima e se distancia daquilo que ia acontecendo socialmente, culturalmente e politicamente em Portugal”.

De acordo com Pedro Penim, “quando se pensa neste título ‘Quem és tu?’, uma das frases emblemáticas de Frei Luís de Sousa, uma das peças mais conhecidas da nossa dramaturgia, ela, de alguma forma, devolve-nos essa ideia de pensarmos a nossa identidade nacional através de um teatro nacional”.

Relativamente a esta presença em Évora, constatou que, “pensando que é um teatro nacional, ele não se resume a Lisboa e obviamente é importante estarmos em várias capitais de distrito e também noutras cidades”.

A esse nível, o mesmo responsável focou que “esta Odisseia Nacional é um projeto de coesão territorial, liderado pelo teatro, e seria impossível não estar em Évora”.

Revelou ainda que “vamos estrear no dia 20 deste mês um espetáculo do Teatro Nacional D. Maria II no Teatro Garcia de Resende”, ressalvando que “em vez de ser em Lisboa acontece aqui em Évora”.

Pedro Penim avançou que trata-se da “Farsa de Inês Pereira, uma peça de Gil Vicente que faz 500 anos e que foi reescrita por mim”, assegurando que “quem conhece a peça reconhecerá as personagens, mas de alguma forma os temas serão atualizados”.

Também em declarações ao DS, José Conde, diretor do Departamento Sociocultural na Câmara de Évora, frisou que “esta exposição, para além da visão cronológica do teatro, aborda de uma perspetiva muito mais abrangente aquilo que é a realidade cultural, social, económica e política do país a partir do teatro”.

Considerou que “para o município é uma oportunidade ter aqui esta exposição”, reiterando que “a dimensão da mesma e a data que nos foi proposta já não nos permitia encontrar um espaço municipal para ela porque já havia compromissos assumidos”.

Nesse sentido, José Conde congratulou-se “por a DRCAlentejo e a BPE se terem juntado à câmara num processo que permitiu acolher a exposição”, reforçando que “esta parceria permitiu juntar as capacidades e as possibilidades de cada uma destas instituições, tornando possível a exposição em Évora”.

Por sua vez, Eduardo Eugénio, diretor de Serviços de Bens Culturais da DRCAlentejo, salientou que “esta é uma exposição de extrema importância, não só para Évora, como para todo o Alentejo”, comentando que “estamos a tirar partido da obra do Teatro Nacional D. Maria II e da própria história do teatro e é com muito agrado que conseguimos acolhê-la através desta parceria”.

Já Zélia Parreira, diretora da BPE, lembrou que “tentamos abrir a biblioteca ao máximo, tendo como critério que as atividades que ali realizamos signifiquem um enriquecimento para quem lá vai”, atestando que “esta exposição cumpria plenamente esse critério e quando essa possibilidade se colocou decidimos logo aceitar”.

Na sua opinião, “este título que a exposição tem ‘Um teatro nacional a olhar para o país’ é especialmente feliz porque representa não só uma oportunidade que é dada aos cidadãos, que por dificuldades diversas não possam frequentar o Teatro Nacional D. Maria II, mas também permite que um teatro percorra o país e tome contacto com outras realidades”, concluindo que “esta Odisseia Nacional é uma experiência que enriquece quem a recebe, mas também o teatro com todo este conhecimento que leva daqui”.

Texto: Redação DS / Marina Pardal
Fotos: DS

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