“Habitação, Saúde e Alterações climáticas – Hoje e no Futuro”. Este foi o tema que marcou mais uma edição do programa da Rádio Telefonia do Alentejo (RTA) feito em parceria com a Unidade de Saúde Pública (USP) do Agrupamento dos Centros de Saúde (ACES) do Alentejo Central.

A emissão contou com a participação da médica interna de Formação Geral, Patrícia Correia Pinto, e da técnica superior de diagnóstico e terapêutica da área de Saúde Ambiental, Vanda Agulhas.

No início da conversa, Patrícia Correia Pinto referiu que, “apesar de parecer atualmente clara, a relação entre a posição socioeconómica e a saúde é, em simultâneo, a base de um problema persistente”.

Adiantou que “um ponto de partida mais favorecido social e economicamente tem, pelo menos, o potencial de significar mais saúde”, lembrando que “importa ter em consideração a forma como a desigualdade social se reflete na habitação e, consequentemente, origina desigualdade em saúde”.

Na sua opinião, “a maioria das pessoas reconhecerá intuitivamente que a carência socioeconómica pode, inclusive, representar incapacidade de aquisição ou manutenção adequadas de uma habitação”.

No entanto, a mesma médica interna ressalvou que, “de um modo geral, face a stress social e económico, um dos últimos bens dos quais as pessoas abdicam é a sua residência”, constatando que “é de extrema importância que exista sensibilização relativa à forma como a qualidade, segurança e acessibilidade das habitações impactam a saúde das pessoas e das comunidades”.

Por sua vez, Vanda Agulhas recordou que, “com os últimos anos, nos quais vivemos a pandemia da COVID-19, compreendemos a relevância para a saúde de ter uma habitação saudável”, reiterando que “o tempo que passámos nas residências sublinhou a importância de uma habitação com condições adequadas, especialmente considerando o trabalho e a educação em modelo remoto”.

A mesma técnica destacou que “a ventilação e a sobrelotação de espaços foram alguns dos aspetos mais sublinhados desde o aparecimento do vírus SARS-CoV-2, em conjunto com as questões de saúde mental”.

Realçou ainda que “as medidas de confinamento acabaram por expor o quão desigual é o acesso a habitações com qualidade adequada”, frisando que, “apesar de, aparentemente, se ter experienciado globalmente o mesmo evento, tanto a qualidade da construção como a segurança e os meios de assegurar uma habitação, impactaram a forma como diferentes posições socioeconómicas viveram a pandemia”.

A par disso, Patrícia Correia Pinto focou que “o agravamento das condições de vida no contexto atual da guerra na Ucrânia veio acentuar outras preocupações”, revelando que “a literatura indica que, em Portugal, um quarto das pessoas não consegue manter uma temperatura adequada na sua habitação em épocas de temperatura extrema, face à inflação e ao aumento do custo de vida que não se fizeram acompanhar pelo aumento dos rendimentos dos agregados familiares”.

Vanda Agulhas acrescentou que, “juntamente com os custos inerentes à habitação, o aumento do custo de energia veio deixar ao descoberto um menor orçamento para outros gastos, como a alimentação”.

Especificou que, “num país em que 75 por cento do edificado não tem condições de isolamento adequado e um terço dos alojamentos familiares não tem aquecimento de qualquer tipo, a maioria das pessoas privilegia a manutenção da temperatura em detrimento da ventilação, o que acarreta outros riscos como o aparecimento de bolor com consequências conhecidas para a saúde”.

A mesma técnica indicou que “todos estes aspetos agravaram o panorama de problemas associados à habitação, estimando-se que quase um quarto da população viva em situação de pobreza energética extrema, o que se relaciona intimamente com a pobreza socioeconómica, sem se esgotar nela”.

De acordo com Patrícia Correia Pinto, “a sensibilização dos diferentes agentes da sociedade para estas questões é fundamental”, sublinhando que, “para além de uma habitação segura, de qualidade e acessível, para uma melhor vida pessoal e em comunidade, é imprescindível proporcionar acesso a espaços público seguros, inclusivos, acessíveis e verdes”.

Evidenciou também que, “para além de permitir maior bem-estar e saúde, o ordenamento adequado do território melhora de forma significativa a vida em sociedade”, exemplificando que “um bom espaço envolvente, agradável, seguro e com espaços de lazer públicos diminui o tempo que se passa na habitação e faz com que as pessoas tenham mais qualidade de vida”.

A médica interna mencionou que “tem um impacto positivo ao nível da saúde mental e do reforço nos laços sociais que contribuem para maior coesão das comunidades”.

Disse ainda que “o trabalho concertado dos diferentes setores, bem como a integração de políticas públicas pode funcionar enquanto alavanca daquilo que previamente seria apenas uma potencialidade”, sustentando que “um ordenamento do território que tem em conta a saúde e bem-estar da população permite a execução do conceito ‘Comunidades Saudáveis’”.

Patrícia Correia Pinto alertou também que, “se considerarmos um futuro próximo, no qual as alterações climáticas se farão sentir de um modo mais acentuado, mitigar os efeitos deletérios da mesma na habitação, nas cidades, e, consequentemente, na saúde das pessoas e comunidades torna-se uma necessidade ainda mais premente”.

Autor: Redação DS / Marina Pardal
Foto: DS

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