Em 2018 a Freguesia de São Martinho das Amoreiras, a Associação de Desenvolvimento de Amoreiras-Gare e a Casa do Povo de São Martinho das Amoreiras, foram desafiadas pelo Município de Odemira para fazer parte do projeto do Centro de Valorização da Viola Campaniça e do Cante de Improviso de São Martinho das Amoreiras. Cientes que não seria tarefa fácil, pois a nossa localização geográfica e a sua baixa população não ajudaria a implementar o projeto, lançámo-nos sem medos e com a convicção que seria importante para a nossa tradição: para a Viola Campaniça e para o Cante de Improviso, o Despique e o Baldão.

O trabalho do Centro tem progredido, com alguns obstáculos, mas os seus objetivos têm sido atingidos conseguindo chegar a muitos alunos, do ensino básico e pós-laboral, nas freguesias de Colos, São Martinho das Amoreiras, Luzíanes-Gare, Santa Clara-a-Velha, Sabóia, Vale de Santiago, Relíquias e São Teotónio, ensinado a todos a técnica tradicional de tocar a Viola Campaniça, com o polegar, aquela técnica que o Ti Manel Bento e o Sr. Francisco António “Bailão”, os mestres, ensinaram ao Pedro Mestre e ao Carlos Loução.

Com o mesmo objetivo de preservar a arte e o saber fazer, o Centro de Valorização da Viola Campaniça e do Cante de Improviso de São Martinho das Amoreiras promoveu uma primeira oficina de construção de Viola Campaniça, dinamizada pelo mestre Daniel Luz, a quem tanto devemos, não só pelo seu saber e pelos seus instrumentos, mas sobretudo pela sua grande disponibilidade para ensinar a sua arte, passando os seus conhecimentos a todos os que querem aprender. Este é um legado que queremos e devemos preservar, a arte do mestre Daniel Luz e do saudoso Sr. Amílcar Silva, de Corte-Malhão, têm continuadores. Hoje o ensino da construção da Viola Campaniça continua no Centro e, cremos, não morrerá, pois muitos são os aprendizes e muitos são os projetos existentes na nossa região que visam preservar a construção da Viola Campaniça.

Claro que toda esta atividade do Centro não poderia acontecer não tivesse sido a iniciativa do Município de Odemira de lançar este desafio. Ao executivo do Eng. José Alberto Guerreiro o devemos, ao executivo do Eng. Helder Guerreiro devemos a insistência na sua continuidade. Sem este apoio, e tendo em conta a região interior onde nos inserimos e os parcos meios financeiros de que dispomos, não teria sido possível a realização deste projeto.

Passados cinco anos, temos, sem dúvida a certeza que é um projeto importante e que, como tem demonstrado, com futuro.

Hoje, em meados de março de 2023, com as emoções mais contidas, já de “volta à terra”, podemos olhar para as últimas semanas e para a participação de um grupo de alunos do Centro de Valorização da Viola Campaniça e do Cante de Improviso de São Martinho das Amoreiras num programa televisivo da RTP1 como o demonstrar que vale a pena lutar por este projeto.

Hoje, olhando para as mensagens e telefonemas recebidos, para os comentários e publicações nas redes sociais, apercebemo-nos que a participação e vitória destes jovens no concurso “Temos Artista – Especial Tradições”, do programa Praça da Alegria, não foi só sobre o trabalho do Centro de Valorização da Viola Campaniça e do Cante de Improviso de São Martinho das Amoreiras, foi também toda uma região, um só Alentejo que se reviu na atuação da Lara Cortes, da Madalena Oliveira, do Sérgio Cortes, do Afonso Silva, do Francisco Coelho, do Francisco Duarte, da Maria Leonor Duarte, do Flávio Guerreiro, do Duarte Guerreiro, da Catarina Silva, da Margarida Silva, do Carlos Loução, do José Diogo Bento e do Pedro Mestre.

Muitos foram os que se arrepiaram e se emocionaram com a atuação na final. A nós, os que os acompanhámos, aconteceu: nos ensaios, nas eliminatórias e na final.

Ai a final!

Aquela “Rapsódia Campaniça” tocou-nos a todos.

Representou-nos a todos nós alentejanos.

Nós tivemos o privilégio de acompanhar estes jovens nesta odisseia. Tivemos o privilégio de viver a sua alegria e a sua cumplicidade.

Hoje, na segunda década do século XXI, podemos dizer que existe toda uma região povoada por irredutíveis tocadores de Viola Campaniça que insiste e persiste na preservação da sua cultura e da sua tradição.

Artigo de Nuno Duarte – Presidente da Junta de São Martinho das Amoreiras – Odemira

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