A arte eletrônica de Maite Cajaraville (Llerena, Badajoz, 1967) apertura exposição individual no Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida (CAC–FEA), na cidade de Évora, na região Alentejo, a mais despovoada –ou vaciada– de Portugal. A exposição, que recebe o título de ALVEX, é uma coprodução da entidade social e cultural alentejana e o Museu Extremenho e Ibero-americano de Arte Contemporânea (MEIAC) de Badajoz, Com curadoria de Natalia Piñuel Martín e co-curadoria de José Alberto Ferreira, diretor artístico do Centro de Arte e Cultura hospedeiro.
Será no próximo sábado, 19 de fevereiro, às 10h00, que a ALVEX abre as suas portas ao público, que poderá ver pela primeira vez duas esculturas tridimensionais, uma física e outra virtual, desenvolvidas a partir de uma grande variedade de dados socioeconómicos atualizados de todos os concelhos do Alentejo. A peça física é gerada em cerâmica impressa em 3D e a virtual é apresentada em realidade aumentada ou expandida.
Os dados, normalizados segundo critérios estatísticos, dão origem a elevações e depressões na superfície de ambas as peças. Os aumentos representam coeficientes positivos, como maior taxa de atividade econômica, alta taxa de emprego, maior PIB per capita, aumento da natalidade, presença de serviços educacionais, financeiros e de saúde, ou disponibilidade de transporte ferroviário, entre outros. Já as depressões representam municípios com variáveis negativas, tanto econômicas quanto sociais, como perda populacional, desemprego feminino, falta de tecido empresarial ou falta de infraestrutura básica.
Atribuindo pontuações a cada concelho com base em critérios matemáticos padronizados, é gerado o terceiro plano das esculturas, que lhes confere um conjunto estético e arquitetónico de volumes, de modo que pode-se dizer que ALVEX combina a beleza da arte com o conhecimento preciso que fornece os dados.
Oráculos
O proprio sábado 19, ás 16h00, acontecerá a sessão de abertura da exposição, embora Maite Cajaraville e sua equipe técnica estejam no Centro de Arte e Cultura nos dias 16, 17 e 18, imprimindo a escultura cerâmica in loco e interagindo com diferentes turmas de estudantes e agentes culturais da região.
A abertura inaugural, planeada como uma conversa, contará com a participação de Maite Cajaraville, que se fará acompanhar por José Alberto Ferreira, Catalina Pulido, diretora do MEIAC, e Jorge Gaspar, professor emérito da Universidade de Évora e um dos geógrafos de mais renome em Portugal, conhecido pela sua incansável vontade de levar a sua disciplina para o campo aplicado, que encontrou no ordenamento do território uma das suas principais linhas de trabalho.
Tanto a abordagem do território de Jorge Gaspar como a proposta expositiva de José Alberto Ferreira para o Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida ligam-se à visão e intenção artística de Maite Cajaraville.
Em seu texto curatorial, Oráculos, Ferreira explica perfeitamente: “Podemos dizer com segurança que a escultura (ALVEX) se apresenta como uma voz oracular. Críptica como o oráculo de outros tempos, fala das matérias-primas da região, das razões, limitações econômicas, apresentando o território em uma tradução 3D eloquente. E, como um oráculo, não são as respostas que importam, mas o que fazemos com elas. Em primeiro lugar, para o espectador a possibilidade de desmantelar estereótipos e ideias preconcebidas sobre o território configuram uma notável eficácia política”.
VEXTRE e ALVEX, Aumentando a Realidade Rural ALVEX, acrônimo de Alentejo Virtual Extremadura, faz parte de um projeto maior de arte eletrônica interoperável: VEXTRE, Aumentando a Realidade Rural. A nível conceptual, tudo começou em 2017 com uma instalação e uma escultura cerâmica tridimensional, apresentada em Cáceres Abierto sob o nome de A Virgem de Guadalupe não Vem me Ver. Ambos transformaram em arte uma exaustiva investigação de dados socioeconômicos, do período 2014-2017, de todos os municípios da Extremadura.
Em 2021, o projeto cresceu com a criação de uma escultura virtual, também tridimensional e desenvolvida a partir dos mesmos dados, e um filtro de realidade aumentada com o mapa da Extremadura, que foram apresentados, juntamente com a peça cerâmica ‘fundacional’ no MEIAC, na exposição VEXTRE, Extremadura en Sitios.
O filtro, acessível a partir do Instagram e da página vextre.org, surgiu com o objetivo de incentivar a participação cidadã no projeto, permitindo a qualquer pessoa incluir o mapa da Extremadura em qualquer foto e a qualquer momento a partir do seu dispositivo móvel. A possibilidade de colocar aterra em qualquer imagem evoca o sentimento de pertença, a experiência emocional e o conhecimento íntimo que nos liga ao território.
Neste sentido, o Alentejo não será menos, pois o ALVEX tem o seu próprio site, alvex.vextre.org e o seu filtro de Instagram em @vextre_extremadura. Através de ambas as plataformas, bem como dos códigos QR e ícones que estarão disponíveis nas imediações da Fundação Eugénio de Almeida até à data de encerramento da exposição no próximo mês de Junho, quem desejar pode incluir o mapa do Alentejo em realidade aumentada nas suas fotos e partilhar nas redes sociais junto com seus comentários, marcando a conta do projeto e adicionando as hashtags #ALVEX e #VEXTRE para que alcancem a artista e sua equipe.
Precisamente, graças a um subsídio para criação digital do Ministério da Cultura e Esportes, O projeto aprofunda seu aspecto social e inicia a construção de uma comunidade em torno da po site info.vextre.org e das redes sociais. Surge o VEXTRE, Aumentando a Realidade Rural, cujo principal objetivo é promover uma reflexão participativa e aberta sobre os condicionantes passados e presentes do meio rural –com destaque para o rural vazio– e o seu potencial futuro como território de confluência de cultura, talento intergeracional, ecologia, feminismo e novas formas de entender a vida e o trabalho.
Paralelamente, a dimensão artística continua a sua evolução e deu o salto internacional com a ALVEX. Nas palavras de Natalia Piñuel Martín: “Falar da obra de Maite Cajaraville significa reivindicar uma das artistas pioneiras da arte digital na Espanha. A sua carreira é uma carreira que funciona como um ‘work in progress’ contínuo, integrando narrativas não ficcionais em diferentes projetos que trabalham em torno da arte midiática. Um traço fundamental ao longo de sua carreira, desde seu início na década de 90, é a capacidade de reverter imaginários e condicionamentos sociais por meio da interação com o público, utilizando para isso dispositivos contemporâneos à nossa realidade a partir dos contextos de arte contemporânea. Com VEXTRE e ALVEX vai um passo além, construindo esculturas do futuro e criando uma Extremadura e um Alentejo expandidos que refletem os interesses e preocupações do presente nestas terras”.
Fonte: Nota de Imprensa