Na sequência do projeto de remodelação dos telhados do Colégio do Espírito Santo (CES) há uma equipa formada por estudantes do 1.º e 2.º anos do Mestrado em Arqueologia da Universidade de Évora, coordenada pela docente Leonor Rocha, responsável pelas escavações que vão permitir criar espaço para colocar a sapata da grua necessária para a obra.
Normalmente este tipo de intervenção não exigiria articulação com uma equipa de arqueólogos, no entanto, a partir do momento em que esta implica a afetação do solo há um dever de responsabilidade relativamente ao impacto no terreno. E mais quando esta intervenção se realiza num local que é geograficamente desafiante, já o explica a docente do Departamento de História da UÉ, Leonor Rocha, ao desvendar que este processo é delicado uma vez que “este local que se encontra entre dois edifícios classificados, o CES, de um lado, e as muralhas, do outro, zonas de extrema proteção e conservação, e nós, Universidade de Évora, temos especial responsabilidade na preservação do nosso património, principalmente porque oferecemos formação académica na área da arqueologia”. Por outro lado, a caixa de betão armado onde irá assentar a sapata tem de suportar uma grua suficientemente alta para atuar ao nível dos telhados do CES, mas também cujo braço se movimente sem colidir com os edifícios altos que a rodeiam, como é o caso da Fundação Eugénio de Almeida.
Esta intervenção representa uma grande oportunidade de aprendizagem para os estudantes da UÉ, uma vez que não é muito comum observar este tipo de procedimentos em área urbana, pelo que podem, assim, atuar em contexto real e colocar em prática os conhecimentos teóricos adquiridos durante o percurso académico. “A formação em arqueologia tem de ter 50% de componente prática e este tipo de intervenção só pode ser lecionada no terreno. De momento, contamos com estudantes do 1.º e 2.º anos do Mestrado em Arqueologia e prevê-se que alguns estudantes do 1.º ciclo possam integrar a equipa pois queremos formar arqueólogos profissionais já com experiência de campo, preparados para encarar desafios futuros”, esclarece a coordenadora da escavação.
Através da aplicação de várias técnicas, procedendo à recolha, registo fotográfico e desenho em papel milimétrico e posterior desmontagem do cenário, já foi possível identificar dois níveis de pavimento, sendo que um deles é uma calçada de seixos e o outro, ao ser tão plano, poderá indicar que pertencesse a uma antiga habitação. Por outro lado, a equipa de investigação já descobriu alguns ossos de animais e várias cerâmicas. No entanto, o perímetro de escavação não é muito grande, previamente foi realizada uma sondagem geológica que determinou que a rocha dura se encontrava a cerca de sete metros de profundidade, o que provoca muita curiosidade em Leonor Rocha relativamente ao que poderia ser encontrado nos restantes seis metros ilustrativos do período de ocupação.
Fonte: Universidade de Évora