“Noronha, o Ouriço com Vergonha” e “A Casa Amarela” foram os dois livros que a autora Sofia Isabel Vieira levou até à Escola Básica da Cruz da Picada, em Évora, no passado dia 25 de outubro.

A sessão, organizada por este estabelecimento de ensino, em parceria com a Biblioteca da Escola Básica Manuel Ferreira Patrício, decorreu no âmbito do Dia das Bibliotecas Escolares.

Para Céu Riço, professora bibliotecária das escolas do Agrupamento Manuel Ferreira Patrício, “esta atividade assinalou não só a efeméride, como também o termos novamente a presença dos meninos em espaço de biblioteca”.

Na sua opinião, “numa época como a que vivemos devido à pandemia é ainda mais necessário promover estes encontros com os autores e ter estes ateliers porque as bibliotecas estão numa mudança de paradigma, tal como o resto da sociedade”.

No caso da Escola da Cruz Picada, estas iniciativas assumem ainda outro papel. “Esta escola está inserida no bairro social da Cruz Picada e, como tal, há alguns meninos oriundos de famílias bastante desfavorecidas e até de famílias desestruturadas”, começou por referir a professora Maria João Trouxa, que é também coordenadora deste estabelecimento.

Sublinhou ainda que “é considerada a nível da cidade como uma escola problemática, mas acaba por ser mais um rótulo do que propriamente aquilo que acontece na realidade”.

Não obstante, a professora confirmou que “temos problemas na escola, nomeadamente ao nível do absentismo, isto porque alguns pais também não veem a escola como tendo um papel importante na vida dos filhos e acabam por não valorizá-la”.

Márcia Gouveia, psicóloga na escola através do Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar, acrescentou que é também “uma escola que tem várias culturas, pois temos meninos com raízes noutros países, como o Brasil ou a Índia”, reiterando que “isso é muito enriquecedor”.

A esse respeito, exemplificou que “a escola tem desenvolvido durante o mês de outubro um projeto muito interessante, no âmbito do Dia Mundial da Alimentação, no qual pais das diferentes nacionalidades foram convidados a vir à escola fazer uma mostra gastronómica dos seus países”, reforçando que “temos tentado aproveitar essa riqueza cultural, mas também envolver as famílias e a comunidade”.

Por sua vez, Maria João Trouxa destacou que a escola participa em alguns projetos que tentam contornar os problemas aqui detetados. “É o caso do projeto internacional MUS-E, desenvolvido pela Associação Yehudi Menhuin Portugal”, referiu, frisando que “também temos o apoio da Câmara de Évora”.

Adiantou ainda que o projeto aposta “na presença de artistas na escola a trabalhar com os alunos no tempo letivo e visa trabalhar com os meninos de uma forma diferente para incentivá-los a vir à escola”.

A par desse, a escola participa também no Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar. De acordo com a professora, “esse é também um dos nossos problemas”, apontando que “quando são retidos sucessivamente, os meninos sentem-se desmotivados e com uma baixa autoestima”.

Na sua perspetiva, “é importante mostrar-lhes que se não são capazes de umas coisas, são capazes de outras, mas também que o trabalho é importante na vida das pessoas”.

A esse nível, Márcia Gouveia evidenciou “a importância desta sessão com a escritora Sofia Vieira, pois os seus livros trabalham muito as questões dos valores, da família, do amor, da solidariedade e até da autoestima”.

Mencionou também que “considerámos interessante ter a autora a promover esses valores, até para valorizar estas aprendizagens através de uma dinâmica diferente”, constatando que “poderá ser uma experiência inédita para alguns, pois é uma forma diferente de ver o livro e os escritores”.

Sofia Isabel Vieira tem 41 anos e é natural de Setúbal. Em 2004, emigrou e, atualmente, vive em França, depois de ter morado alguns anos em Inglaterra.

Em declarações ao Grupo Diário do Sul, contou que “venho muitas vezes a Portugal, até porque escrevo em português”, confessando que “para mim foi importante começar a contar histórias; primeiro porque sempre adorei escrever, segundo porque era uma forma de reforçar a identidade dos meus dois filhos que nasceram em Inglaterra e que agora vivem em França, sendo que o pai é francês”.

Segundo a escritora, “era muito importante encontrar formas de reforçar a identidade deles enquanto portugueses, através dessa minha paixão pelos livros e pelas histórias, e também porque trabalhei na área da educação durante muitos anos”.

Depois de dois livros publicados (“Noronha, o Ouriço com Vergonha” – fevereiro de 2019 – e “A Casa Amarela” – outubro de 2019), no próximo sábado vai estar disponível mais uma obra infantil da sua autoria, intitulada “Fernão e as Coisas do Coração”.

Sofia Vieira revelou que “os meus livros estão muito relacionados à parte da educação emocional”, especificando que, “normalmente, são sempre inspirados em personagens que a minha filha, a Gabriela, cria na cabeça dela e que depois eu desenvolvo”.

A escritora focou ainda que “são livros que fazem refletir sobre as coisas que fazemos e que sentimos, não só os miúdos, como os graúdos”.

Relativamente a esta sessão na Escola da Cruz da Picada, comentou que “o livro é apenas a base para contar estas histórias”, sublinhando que “um bom contador de histórias é aquele que traz os miúdos para dentro da história; eles não têm de estar em silêncio absoluto, têm de participar e têm de conduzir a história de uma certa forma”.

Para Sofia Vieira, “o importante é passar a mensagem geral da história”, recordando que “a história não é só o que está lá escrito”.

Afirmou que “o objetivo é trazer as crianças para esse mundo imaginário onde não existe limites”, reiterando que “a criatividade é uma coisa que está lentamente a morrer à medida que vamos crescendo, mas é algo que quero reavivar”.

As histórias da autora podem ser acompanhadas através da sua página no Facebook (Pais com P grande) ou no Instagram (sofiaisabelvieira).

Autor: Redação DS / Marina Pardal
Foto: DS

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