Da elevação da grande música, urdida num jogo de diálogos entre Espanha e Portugal, às singularidades de uma freguesia rural, fiel à sua identidade, e à surpresa que reserva um microcosmo preservado entremuros de um castelo. Assim se tece mais um fim-de-semana de actividades do Terras sem Sombra (TSS). A 2 e 3 de Novembro, o concelho de Montemor-o-Novo acolhe os momentos dedicados à Música, Património e Salvaguarda da Biodiversidade do Festival, nesta que é a sua 20.ª edição.

O ciclo de actividades em Montemor-o-Novo realiza-se em parceria com o Município local, o Ministério da Cultura de Espanha e o Grupo de Amigos de Montemor-o-Novo. O Festival tem o apoio mecenático da Fundação “La Caixa”.

Mapi Hernández

No que concerne ao momento dedicado à Música, a noite de 2 de Novembro (21h30) tem como palco um monumento de referência da arquitectura alentejana. A vasta igreja do convento de São Domingos apresenta-se revestida por um notável conjunto de azulejaria de padrão do século XVII, apresentando oito capelas laterais. Este monumento, recuperado pelo Grupo dos Amigos de Montemor-o-Novo, proprietário do convento, acolhe o concerto “Coplas Errantes: Leste e Oeste na Música Para Guitarra”, entregue à mestria do ensemble espanhol EntreQuatre, nas quatro guitarras de Seila González, Manuel Paz, Jesús Prieto e Carmen Cuello.

María Berasarte

Acordes que não ficam órfãos de uma das grandes vozes do país vizinho. María Berasarte, natural de San Sebastián, descrita como a “voz nua”, por se despojar de artifícios e adornos, enceta no serão montemorense um caminho musical entre Espanha e Portugal. Um elenco em palco que se completa com a flautista espanhola Mapi Hernández e que percorre peças musicais de excepcionais compositores do século XX e XXI, entre eles o cubano Flores Chaviano, também maestro e exímio intérprete de guitarra, José Peixoto, português, guitarrista de formação clássica, e Alberto Hemsi, nascido na Turquia, compositor da era clássica do século XX.

EntreQuatre

Sobre o agrupamento EntreQuatre, criado em 1984, são de sublinhar as suas actuações em mais de 50 países, incluindo salas como o Carnegie Hall, em Nova Iorque, e o Auditório Rainha Sofia, em Madrid. Em 2009, recebeu um dos mais importantes reconhecimentos do seu percurso artístico, com a nomeação para um prémio Grammy. Aquando do seu 30.º aniversário, em 2016, estreou o Segundo Concerto para Quatro Guitarras e Orquestra, de Flores Chaviano. María Berasarte nutre uma paixão muito forte por Portugal e pelas sonoridades lusas, dedicando a este país o seu primeiro disco, Todas as Horas são Velhas, imbuído com a alma do Fado. Após este êxito inicial, apresentou trabalhos que pontuam uma carreira plena de colaborações. Entre outros, partilhou o palco com Paco de Lucía, Dulce Pontes, Cristina Branco, Carminho, Rodrigo Leão e Carlos do Carmo. 

Nas Elevações e Plainos de Montemor: a Freguesia de São Cristóvão

A tarde do Sábado, 2 de Novembro (15h00), convida a alongar o olhar para além da sede de concelho e a enveredar por caminhos patrimoniais, numa iniciativa sob o título “Nas Elevações e Plainos de Montemor: a Freguesia de São Cristóvão”.

Com ponto de encontro na Junta de Freguesia de São Cristóvão, a actividade guiada por Manuela Mendonça (natural da localidade, professora da Universidade de Lisboa e presidente da Academia Portuguesa da História)​, convida a uma viagem no tempo, às origens desta freguesia, ainda na Idade Média, quando nasceu como uma pequena povoação rural. A aldeia, fiel à sua identidade, rodeada de montados de sobro e olivais, casario alvo, debruado a barras coloridas, preserva com assinalável esmero a igreja paroquial, onde pontifica a imagem do santo padroeiro. Sobressaem aqui a simplicidade e beleza da arquitectura religiosa alentejana, complemento da arte tradicional que marca outros edifícios da terra, de marcado carácter vernáculo.

Uma freguesia que sobressai no contexto do património do megalitismo norte-alentejano, com o importante Conjunto Megalítico do Tojal (cromeleque com 17 menires de granito, um grande menir in situ, um conjunto de sete sepulturas megalíticas e um povoado do calcolítico). Também a realçar, as pontes e as fontes do lugar, sem que lhe falte um vasto património natural. José Saramago, Prémio Nobel da Literatura em 1998, é outra referência da freguesia, pois escreveu aqui alguns capítulos do famoso romance Levantados do Chão.

Um inusitado palco da biodiversidade

A manhã de 3 de Novembro, Domingo (9h30), reserva uma acção de Salvaguarda da Biodiversidade, num contexto singular, ao território entremuros de uma fortificação. Sob o tema “​De Território Urbano a Zona Agricultada e Espaço de Lazer: O Castelo de Montemor-o-Novo”, e com ponto de encontro no Castelo, a ​actividade guiada por António Mira (professor catedrático da Escola de Ciências e Tecnologia da Universidade de Évora) leva os participantes a adentrarem num edificado com posição dominante sobre o outeiro mais alto da região.

O castelo de Montemor-o-Novo, estrutura que abrange as muralhas e os imóveis que se encontram dentro delas, classificado como monumento nacional desde 1951, tem origens que remontam à ocupação romana e foi reforçado durante a época islâmica. Antigo bastião militar, viria a perder relevância no século XVI. Declinou, então e, ao abrigo das suas muralhas, floresceram práticas agrícolas ao serviço da subsistência local. Ali se desenhou uma paisagem cultural e agrícola diversificada, urdida entre o urbano e o rural. Hoje, o extensíssimo âmago da fortaleza, abriga um património natural de assinalável valor, digno de conhecimento e de salvaguarda.

A 9 e 10 de Novembro, o Festival Terras sem Sombra ruma ao concelho de Arronches para apresentar um momento musical absolutamente singular. Sob o título “No Regresso de Magalhães: Diálogos Inéditos Entre as Filipinas e a Península Ibérica”, um grupo de quatro dezenas de cantores filipinos sobe ao palco da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção. Ao grupo Sing Philippines Youth Choir, sob a direcção musical de Mark Anthony Carpio, junta-se a colaboração do Grupo das Pedrinhas de Arronches. No mesmo dia, a acção dedicada ao Património propõe a vista ao “Convento e Igreja de Nossa Senhora da Luz”. No Domingo, 10 de Novembro, a actividade dedicada à Salvaguarda da Biodiversidade detém-se no tema “Fontes Vitae: A Ribeira de Arronches e o Rio Caia”.

Toda a programação da presente temporada pode ser consultada no site do Festival Terras sem Sombra.

Fonte: Nota de Imprensa / Câmara Municipal de Montemor-o-Novo

Veja também

Évora – Sons no Salão: Transmonta Brass Quinteto de Metais no Teatro Garcia de Resende

Sons no Salão: Transmonta Brass Quinteto de Metais no Teatro Garcia de Resende em Évora, n…