Capturas de peixe de grande dimensão através do uso de embarcações a navegar no Grande Lago
As associações de pesca desportiva na região Alentejo organizam inúmeros torneios espalhados pela área total da bacia do Lago Artificial de Alqueva, para além dos muitos pescadores individuais que para ali se deslocam em dias de bons lances e melhor pescaria, contudo é ver com frequência por essas ‘bandas’, embarcações de um ou mais tripulantes dedicados à prática recreativa da pesca. Ali navegam patos insufláveis, caiaques com e sem motor, pequenos barcos a remo ou motorizados. Sobre todos eles, à bolina de ventos secos e sob sol escaldante, em águas mais profundas, estão homens e mulheres que se dedicam a um ‘desporto’ escape: a pesca lúdica embarcada. Vamos saber mais dos seus intentos…
Talvez seja a adrenalina do momento ou o contacto com a Natureza algumas das razões pelas quais se dedicam homens e mulheres, em muitos dos casos, à captura incessante de exemplares de grande porte das várias espécies de peixe existentes na albufeira de Alqueva, o certo, é que logo madrugada dentro, algo move estes pescadores(as) para a acção e não descartam a possibilidade de se privar de algumas horas de sono para concretizar a ideia. Assim sendo, reunido o material necessário de véspera (na maioria dos casos avaliado em milhares de euros – para este hobby/desporto), põem-se a caminho de vários pontos da região Alentejo e não só; percorrendo quilómetros de distância, até atingir o objectivo – a maior albufeira em forma de lago, em Portugal.
Segundo testemunhos de alguns destes praticantes de pesca lúdica embarcada “é este o desporto aquático de água doce predilecto, através do qual se congrega também a possibilidade de usufruir da tranquilidade campestre, o silêncio natural e o descarregar de stress acumulado no dia-a-dia de trabalho de cada um”, avançam.

António Costa Soares é eborense, tem 60 anos, foi militar na Marinha Portuguesa, louvado pelo seu brilhante desempenho na área das Comunicações é um dos adeptos mais fervorosos deste tipo de pesca de água doce. Sempre que tem oportunidade, afasta-se da rotina diária, de um aposentado do funcionalismo público e vai em busca de novas sensações sob o seu caiaque de pesca, com pedal e a motor, águas a dentro no Grande Lago.
Percorre braços da albufeira sem fim, circunda as ilhas ali existentes e conhece as goelas mais escondidas, onde por entre pedras e arvoredo submergido consegue ‘sacar’ exemplares de peixes de grande porte (acima dos 2Kg. de peso), maioritariamente da espécie achigã (Micropterus salmoides), embora de quando em vez surja na ‘linha de anzol’ o lúcio perca (Sander lucioperca), achados pouco vulgares nos dias que correm para um pescador de margem; embora ocorra um ou outro episódio de captura.
Diz-nos então, António Soares, um desses pescadores como tudo começou: “de tenra idade (gaiato), o fascínio pelo campo e pelas belezas do Alentejo despoletaram um gosto incomensurável em mim e, esse interesse era alimentado pelo saber de populares próximos, aos quais recorria com frequência para obter conhecimento, acompanhando-os nas saídas para os campos, para as ribeiras e para as albufeiras”, refere António Soares, que completa a rematar que “a ânsia por este saber mais levou-me a passar horas sem fim, na companhia dos ‘velhos’ típicos da região, com a pele escurecida e engelhada pelo sol” – como fazer, o que usar, onde procurar; o porquê – eram as perguntas impostas, que sempre tiveram resposta.

Inquirido sobre o porquê da passagem da pesca de margem, para a pesca embarcada, Costa Soares responde que “o movimento das águas ficou-me entranhado no corpo – fui marinheiro por dedicação – e isso é o bastante, para justificar este amor às águas”. Embora reconheça que “este género de pesca é manifestamente dispendioso, pois todo o material utilizado, já profissionalizante, ronda os milhares de euros gastos”, a começar pelas embarcações e “toda a legalização, morosa e burocrática da documentação necessária para estas poderem navegar em águas doces nacionais e ibéricas”, reconhecendo que ultrapassada esta fase a opinião do pescador, e no seu caso pessoal, sobrevaloriza-se pelos resultados obtidos, admitindo que “não é para todas as bolsas este exercício da pesca, que deveria ser mais acessível, de um modo geral”, afiança com certezas.
Para um pescador como TóMané, que se considera um investigador da causa (da pesca) por natureza, à pergunta se é relevante a distância que calcorreia a bordo do caiaque, o mesmo responde que “percorro cerca de 10-12 quilómetros sobre a embarcação, considerando que o factor observação pesa também nestes valores, não sendo apenas composta pelo ato piscatório”, e considera ainda que “um pescador de margem dificilmente atinge estas distâncias só a pescar na berma das águas, porque o próprio relevo do terreno, muitas vezes não permite, tornando esta pesca hobby muito cansativa”, conclui.
A terminar, porque a intenção desta ‘estória’ é desmistificar e dar a conhecer “o segredo que é a alma do negócio”, lança-se a questão a António Costa Soares: como consegue um pescador esses feitos?
A resposta vem na ponta da língua – “muita gente não fala sobre isso, eu não tenho qualquer problema em revela-lo; apenas estudo, antecipo e planeio com minúcia as minhas saídas para as águas”, revela com grau de satisfação ser o primordial para o sucesso de um bom dia de pesca.

Considera a “interpretação das condições meteorológicas e atmosféricas, uns dos factores essenciais que têm sempre influência nos bons resultados a obter”; tais como, direcção e velocidade do vento; temperatura – “depois a exploração aos vários pesqueiros, define a quantidade de objectos inertes existentes (rocha, árvore ou arbusto submergido ou semi-submergido)”; segue-se nestas deslocações, na altura certa, o perceber o terreno, vulgo água e o movimento da mesma, mas também “como o peixe se desloca no local, condicionado ou não pelas fases das luas, pela profundidade a que se alimenta ou pela sua inactividade”, diz A. Soares sem reservas.
Sabe pela experiência que “onde existe muito peixe miúdo, o peixe grande não marca presença; o achigã é um predador nato, altamente territorial; defensor da sua área de influência (em período de desova e no pós-desova) circunda-a atacando todos os intrusos, até os exemplares da mesma espécie”, revela-nos.
Ainda para concluir confidencia-nos que será “inútil conseguir dois peixes consecutivos no mesmo local, com as dimensões e peso daqueles que tenho capturado, modéstia à parte” – ditam a experiência, os anos consecutivos de prática e a arte de redescobrir novas técnicas inovadoras e regras a respeitar.
A espectacularidade de várias capturas tornam este desporto/hobby incomparável, na opinião dos seus ‘seguidores’, para os quais as águas do Lago Alqueva continuam generosas, mesmo em dias difíceis, onde a persistência e o saber acabam por dar resultado. Dali saem os melhores e maiores exemplares, capaz de baterem recordes de peso – sempre a corresponder, com feitos raros nos dias de hoje.

A partir de 2026: Pescadores lúdicos são obrigados a registar capturas em aplicação móvel
Surgem dúvidas, por parte dos praticantes desta modalidade de lazer ou desportiva, quanto à eficácia e obrigatoriedade da normativa europeia, agora que veio a público a notícia de que chegado o início do ano de 2026 – altura em que logo a partir do mês de janeiro – todos os pescadores lúdicos terão de registar as suas capturas através de um sistema electrónico, segundo publicado em regulamento do Parlamento do Conselho Europeu e em nota da Direcção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM). Sabe-se que Portugal participa nas especificações técnicas da aplicação que estão a ser discutidas e a União Europeia criou o Grupo de Trabalho para a Pesca Recreativa.
O registo electrónico das capturas vai abranger todas as modalidades da pesca lúdica, lazer, desportiva, marítimo-turística e submarina, em terra, a partir de uma embarcação ou submersa.
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