Há cerca de dois meses que o superintendente Carlos Miguel Domingues Anastácio assumiu o cargo de comandante distrital da Polícia de Segurança Pública (PSP) de Évora.

Em entrevista ao Diário do Sul, falou dos desafios da função que agora desempenha, mas também da atividade desenvolvida pelo Comando Distrital de Évora da PSP, partilhando ainda alguns conselhos para um dia-a-dia em segurança.

Com 53 anos, Carlos Anastácio é natural de Vila Real de Santo António. Do seu currículo, destaca-se que é licenciado em Ciências Policiais, possuindo também uma pós-graduação em Gestão Estratégica da Comunicação. Entre os diferentes cargos assumidos durante a sua carreira profissional, evidencia-se que em 2022 foi nomeado comandante do Comando Distrital de Bragança, na sequência da promoção a superintendente.

Quanto aos principais desafios de ser comandante distrital da PSP de Évora, confessou que “encarei esta nomeação com muito agrado, pois considero o exercício das funções de comando efetivo de unidades policiais as mais gratificantes dentro da panóplia de cargos e funções passíveis de um superintendente exercer, pois constituem o culminar natural de vários anos de formação e experiência”.

Carlos Anastácio sublinhou que um dos desafios é “efetuar a melhor gestão dos meios que me estão atribuídos, quer materiais, quer polícias”, lembrando que “os polícias são muito mais do que recursos humanos, são pessoas (tal como os trabalhadores de outras áreas)”.

Nesse âmbito, focou que “outro desafio é gerir pessoas, motivá-las e envolvê-las, enquanto um terceiro desafio é fazer com que a relação da Polícia com a comunidade seja satisfatória para ambas as partes da equação”, considerando que “estes desafios estão interrelacionados, pois o comandante tem de decidir a cada momento onde o emprego dos meios, que são finitos, produz maior efeito”.

Por ser recente o desempenho desta função, o superintendente frisou que “não é ainda possível fazer um balanço objetivo”. Contudo, tendo em conta as suas perceções, “este é um cargo exigente, devido aos desafios já referidos e também à importância da área de responsabilidade atribuída à PSP no distrito”.

Na sua opinião, “para pensar a segurança de uma cidade, é importante considerar o seu grau de desenvolvimento, a complexidade das relações da sua comunidade, a densidade populacional, a proximidade geográfica com outros polos populacionais, entre outros”.

O comandante frisou ainda que, “no que respeita à segurança e tendo em conta a relação com o restante território nacional e mesmo com a faixa fronteiriça, considero tanto Évora, como Estremoz cidades seguras”.

Relativamente aos dados sobre a atividade deste Comando, reportando ao Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2023, Carlos Anastácio adiantou que “é possível observar que em termos de criminalidade geral foram participados na cidade de Évora 1384 crimes e na cidade de Estremoz 352.”.

Reforçou que “estes são dados objetivos, depois existem perceções que também são importantes, pois, cada vez mais, são essas que regem o mundo”.

Não obstante “o processo de comparação ter de ter em conta vários fatores”, o mesmo responsável considerou que “os dados inscritos no RASI quer acerca do distrito, quer acerca de Évora e Estremoz, cidades onde a PSP exerce a sua atividade, nos devem deixar satisfeitos, embora ‘vigilantes e dedicados’ fazendo jus ao lema do Comando da PSP de Évora”.

Revelou também que “a tipologia criminal com maior relevância na área de responsabilidade da PSP será o crime contra o património”, esclarecendo que, por um lado, acontecem “devido à ocorrência de furtos de oportunidade nos quais a vítima, com o seu comportamento, de alguma forma facilita o trabalho do criminoso, deixando, por exemplo, as viaturas destrancadas e objetos abandonados”.

Por outro lado, enumerou “a ocorrência de burlas, especialmente as informáticas, que têm registado aumento depois da pandemia, em consequência da maior utilização dos meios informáticos para adquirir bens e serviços”.

Relatos nas redes sociais nem sempre são verdadeiros

Uma das questões colocadas foi se são reais os muitos relatos que surgem nas redes sociais de situações de furtos que ocorrem em Évora. A esse respeito, o comandante referiu que “alguns são falsos e geradores de grande sentimento de insegurança, como aconteceu o ano passado com relatos de violações na cidade de Évora que nunca existiram”.

A par disso, confirmou que “outros são verdadeiros, mas devido ao facto de serem expostos a grande número de pessoas e sujeitos a comentários de outras tantas, adquirem uma dimensão que não corresponde à realidade”.

Quanto a dados objetivos, Carlos Anastácio evidenciou ainda que “consultado o RASI e no que diz respeito à criminalidade geral referente ao distrito de Évora, é possível verificar que pelo menos desde 2014, encontrando-se já num nível muito baixo, veio a descer paulatinamente até atingir um mínimo durante o período pandémico”.

Acrescentou que, “depois, julgo que fruto de uma reorganização nos hábitos sociais a vários níveis, a tendência foi infletida, continuando, no entanto, em 2023 num nível confortável tendo em conta o todo nacional”.

Em relação à criminalidade violenta e grave, “dado o reduzido número de ocorrências, existem variações maiores, quer para cima quer para baixo, resultado de fenómenos pontuais que geram grande perturbação num universo tão curto”, realçou, apontando “131 crimes no distrito durante o ano de 2023”.

No que diz respeito aos crimes de furto, explicitou que “assumem efetivamente uma dimensão importante no universo da criminalidade geral na área de responsabilidade da PSP, contribuindo para esta situação a existência de casas devolutas ou inabitadas; ou a falta de consciência das vítimas na proteção do seu património, quer deixando-o acessível, quer circulando despreocupados em lugares de grande aglomeração de pessoas, como por exemplo os mercados e festas”.

De acordo com o comandante, “para fazer face à criminalidade existente temos canalizado os meios disponíveis, em duas vertentes distintas, designadamente a identificação e detenção dos autores dos crimes através da investigação criminal e de efetivo destinado à resposta às ocorrências”.

Exemplificou alguns resultados de fevereiro deste ano, nomeadamente que “a PSP de Évora deteve três indivíduos por tráfico de estupefaciente, sete por furto a residência, executou um mandado de detenção de um indivíduo para cumprimento de sete anos de prisão pelo crime de extorsão e executou um mandado de detenção europeu para processo de extradição”.

Deu ainda conta de que “a segunda vertente está relacionada com a proximidade que visa o contacto com grupos mais vulneráveis, com o apoio à vítima e com a divulgação do nosso trabalho com o objetivo de aumentar o sentimento de segurança da população”.

Neste âmbito, Carlos Anastácio deu o exemplo de que “foram alocados recentemente polícias às EPAV (equipas de violência doméstica) de maneira a garantir que a maior parte da resposta aos crimes de violência doméstica seja feita de forma especializada e com o acompanhamento subsequente da situação”, constatando que “estes polícias foram retirados de outro serviço, tivemos de optar, pois acreditamos que aqui têm mais produtividade no amplo leque de competências da PSP”.

Já na reta final, o superintendente deixou alguns conselhos, recordando que “a segurança é um problema de todos”.

Entre os alertas, sublinhou a importância de “evitar comportamentos de risco, onde se inclui o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e estupefacientes, principalmente quando associado à prática da condução”.

“Participar às autoridades os crimes de que são vítimas e proteger os seus bens e património de eventuais criminosos” foram outras recomendações mencionadas pelo comandante distrital da PSP de Évora.

Texto: Redação DS / Marina Pardal
Foto: PSP Évora

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