Economista e professor de Economia no ISEG, Valentino Salgado Cunha já era vice-presidente da Câmara Municipal de Vendas Novas desde o início deste mandato, passando a assumir a presidência desde o final de janeiro. Coube-lhe substituir o até então presidente Luís Dias, que suspendeu o mandato para se candidatar pelo círculo eleitoral de Évora às eleições legislativas, realizadas neste domingo.
Em entrevista ao Diário do Sul, Valentino Salgado Cunha, de 31 anos, falou dos desafios e das oportunidades do concelho de Vendas Novas, dando também a conhecer alguns dos principais projetos que estão em curso neste território.
– Como é que foi assumir a presidência do Município de Vendas Novas a meio do mandato?
– Há mais de dois anos que sou vice-presidente da câmara e já conheço relativamente bem o nosso município, as nossas dificuldades e as nossas oportunidades. Obviamente que nesta transição há sempre alguma “turbulência” e muitas pastas das quais não tinha conhecimento total ou aprofundado, pelo que estou a reunir com todos os trabalhadores individualmente. Tem sido uma carga horária muito grande, mas que é necessária para depois quando estivermos em “velocidade cruzeiro” conseguirmos alcançar as nossas metas com mais tranquilidade, mais planeamento e sempre com uma visão de longo prazo para o nosso concelho.
– A título pessoal, assumir este cargo é um desafio?
– É um desafio, tendo em conta também a minha idade jovem e acabo por ter esta responsabilidade acrescida. Penso que tenho condições para assumi-la e, portanto, cá estarei para representar os concidadãos de Vendas Novas e trabalhar por eles.
– Quais são as prioridades para o restante mandato que ainda tem pela frente?
– São menos de dois anos, mas penso que sejam dois anos determinantes. Estamos numa fase de viragem daquilo que é a perspetiva de evolução do concelho. Temos a probabilidade de ter investimentos importantes na nossa região, seja em Vendas Novas ou na proximidade. No caso concreto, falo do novo Aeroporto de Lisboa e isso pode trazer-nos um crescimento populacional muito grande. E nós temos de ir preparados para essa eventualidade. Atualmente, já estamos a reforçar aquilo que é o parque escolar municipal e queremos ir mais além, com a requalificação de várias escolas e a construção de uma nova escola do 1.º ciclo. Queremos também melhorar o planeamento da nossa cidade, que é muito dispersa, e concentrar mais a construção nos núcleos urbanos que já temos em vez de os expandir. Obviamente, que também queremos desenvolver o Parque Industrial de Vendas Novas, que está quase totalmente lotado, pelo que será preponderante que façamos essa expansão, para que também possamos ter mais perspetivas de crescimento, geração de emprego e de riqueza, que é isso que também atrai população e que a fixa. Tenho também de falar de uma área que me diz muito que são os transportes. Temos de nos focar muito na melhoria dos transportes e das acessibilidades, nomeadamente no transporte ferroviário para Lisboa.
– Falando precisamente da ferrovia, o que representa a ligação entre Sines e Caia para Vendas Novas?
– A partir do momento em que a ligação entre Évora e Elvas esteja concluída, e todo o corredor logístico entre Sines e Caia esteja operacional através de Évora, nós passaremos a ter muito mais comboios a atravessar a nossa cidade e, eventualmente, a parar na nossa estação. E ao aliar o aumento do número de comboios de mercadorias também queremos aliar o número de serviços de passageiros, ajustando os horários àquilo que melhor serve a nossa população, pois temos várias dezenas de cidadãos a utilizarem diariamente este meio de transporte.
– Ainda não sabemos a localização do novo Aeroporto de Lisboa, mas quer a escolha de Alcochete, quer de Vendas Novas é favorável para o seu concelho?
– Costumo dizer que só com a discussão que já tivemos, Vendas Novas já ganhou. Todo o país passou a ver que Vendas Novas é pertíssimo de Lisboa, portanto investir aqui não é fazê-lo a centenas de quilómetros da capital. A par disso, quer o aeroporto vá para o Campo de Tiro de Alcochete, quer venha para Vendas Novas terá um impacto muito grande no nosso concelho, trazendo mais população, mais emprego e mais riqueza. Como acontece com qualquer investimento tem partes positivas e partes negativas. Na minha opinião, pesando-as na balança, os ganhos são maiores do que as perdas. Mas enquanto município, e foi nesse sentido a nossa comunicação à Comissão Técnica Independente no âmbito da consulta pública, pedimos para se precaverem e minimizarem os riscos que esta infraestrutura tem para a população.
– Relativamente ao Parque Industrial, qual o retrato que nos pode fazer?
– Temos cerca de 60 empresas no Parque Industrial, com perto de 1200 trabalhadores, e teremos uma construção a iniciar-se muito brevemente. Praticamente, temos todos os lotes esgotados; público só existe um, os restantes são privados, muitos deles já com um comprador que fará posteriormente o seu investimento. Portanto, temos de aumentar o número de terrenos disponíveis; quer públicos, também para acabar por equilibrar e por regular o mercado; quer privados, que depois farão os negócios que entenderem. É urgente avançar com esta expansão, que, se tudo correr bem, poderá duplicar o número de empresas.
– Em termos populacionais, quais são os números que tem disponíveis?
– Segundo os últimos Censos, o concelho de Vendas Novas tem cerca de 12 mil habitantes, sendo que perto de dez mil vivem na cidade. Penso que atualmente os números estejam um pouco subestimados, até porque temos uma grande proporção da população que é imigrante e que poderá não estar fielmente contabilizada nos Censos de 2021. Acreditamos que estamos a crescer, os dados também nos evidenciam isso, nomeadamente o número de alunos que temos nas escolas. Depois de termos estado alguns anos a decrescer de população, finalmente conseguirmos inverter o ciclo.
– Já na reta final, não poderíamos deixar de falar em bifanas…
– Costumo dizer que em Vendas Novas há bifanas e muito mais. Nós somos conhecidos a nível nacional por esta iguaria característica de Vendas Novas, com o seu próprio sabor, mas também queremos que isso seja uma atração para as pessoas virem cá e descobrirem muitos outros pratos que temos no nosso concelho, bem como os nossos produtos regionais.
– Vendas Novas também já começa a ter uma certa tradição na área do desporto, correto?
– Gostamos de nos chamar “Cidade Desporto”. Estamos a fazer alguns investimentos no parque desportivo municipal e também nas atividades que desenvolvemos. Temos a Corrida da Cidade em maio, que já é muito célebre e com muitos participantes; mas também temos a 15 de março a Night Run, com os 100 metros de salto alto, os quatro quilómetros de caminhada e os sete quilómetros da corrida.
– O que é que gostava que ficasse concluído no final do mandato?
– Julgo que um dos erros que quem gere os organismos públicos comete é que acaba por pensar sempre no fim do mandato. Cada dia e cada projeto que fazemos, desenvolvemo-lo sem pensar no fim do mandato. Por um lado, para não corrermos pressas; por outro, para termos a visão do longo prazo, que eu penso que seja importante para o desenvolvimento da nossa cidade e do nosso concelho. Vamos continuar a desenvolver estes projetos, vamos continuar a apostar no crescimento de Vendas Novas, em ter mais escolas e requalificar outras, em ter mais médicos ou em expandir o Parque Industrial, independentemente da data de conclusão porque o que interessa é deixarmos uma contribuição e uma marca de longo prazo para Vendas Novas. Termine o mandato amanhã, daqui a um ano e meio ou daqui a dez ou 20 anos.
Pode ver a reportagem vídeo no seguinte link:
https://www.youtube.com/watch?v=O1EttKAmRGA&t=9s
Texto: Redação DS / Marina Pardal
Fotos: DS