Mais de mil cidadãos contaram corujas de norte a sul do continente e na Madeira, no Censo Nacional de Coruja-das-torres.
Esta iniciativa de ciência cidadã permitiu monitorizar a espécie numa área consideravelmente maior do que teria sido possível se a contagem tivesse sido feita apenas por especialistas. Ao todo, os participantes do censo contabilizaram cerca de 800 casais desta espécie carismática — um dado que serve de base para os cientistas estimarem o tamanho atual da população, e poderem avaliar a sua evolução no futuro.
O primeiro Censo Nacional de Coruja-das-torres decorreu em 2023 e desafiou escolas, associações e a população em geral a contarem o máximo possível de corujas-das-torres em Portugal. Todos podiam ajudar a melhorar as estimativas da população desta ave de rapina noturna, atualmente com uma tendência negativa na Península Ibérica e em vários países da Europa. E ajudaram: foram submetidos quase 2300 registos, que permitiram verificar a presença da coruja-das-torres em 399 quadrículas de 10×10 km em Portugal continental e 11 no arquipélago da Madeira. 126 destas quadrículas teriam ficado por monitorizar se o censo não tivesse sido aberto a toda a população.
O sucesso do censo deveu-se à contribuição de mais de 1100 voluntários, dos quais apenas 268 usaram uma metodologia que exigia conhecimento prévio em identificação de aves. A maioria dos participantes nunca tinha participado em censos de aves nem em projetos de ciência cidadã. Para abranger este público, foi definida uma segunda metodologia, mais simples. “Foi possível alargar este censo ao público sem experiência porque a coruja-das-torres é fácil de identificar e muito tolerante à presença humana. Distinguimo-la pelo seu disco facial branco em forma de coração e pela sua voz inconfundível. E podemos encontrá-la até em cidades, onde nidifica frequentemente em edifícios”, diz Inês Roque, coordenadora do censo. “Através de um programa educativo dirigido às escolas e acessível a todos online foi possível explicar como identificar a coruja-das-torres e como reportar contactos com esta espécie aos cientistas”, esclarece ainda a investigadora da Universidade de Évora.
Este censo permitiu estimar a população de coruja-das-torres em 800 a 5000 casais. O limite inferior corresponde aos casais contados durante o censo, e o limite superior representa o número de casais que teríamos registado se todas as quadrículas com a presença da coruja-das-torres tivessem o maior número de casais possível.
“Estes resultados não teriam sido possíveis sem a participação de todos os voluntários, a quem agradecemos o empenho e colaboração” diz Inês Roque.
Para saber se a população está a aumentar ou diminuir, os investigadores terão de repetir o censo daqui a alguns anos, com a mesma metodologia, e comparar os resultados. Isto quer dizer que os cientistas vão voltar a pedir ajuda aos cidadãos para contar corujas. Pode começar desde já a preparar-se, estando com atenção às aves de rapina noturnas da zona onde vive. Consulte o site do projeto para aprender a identificar as sete espécies que existem em Portugal.
O Censo Nacional de Coruja-das-torres foi promovido pelo Grupo de Trabalho em Aves Noturnas da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (GTAN-SPEA) e pelo Laboratório de Ornitologia do MED, Universidade de Évora. O envolvimento dos cidadãos decorreu no âmbito dos projetos “Ciência Cidadã: envolver voluntários na monitorização das populações de aves” e “Ciência para todos: sustentabilidade e inclusão (SCIEVER)” (HORIZON-MSCA-2022-CITIZENS-01-01).
Fonte: Nota de Imprensa / Universidade de Évora