Com curadoria José Alberto Ferreira, a nova exposição da Fundação Eugénio de Almeida (FEA) apresenta trabalhos de Lev Manovich, despertando para o conceito de arte com recurso à inteligência artificial (IA).
Intitulada “Unreliable Memories”, esta mostra está patente no Centro de Arte e Cultura até 5 de maio, podendo ser visitada de terça-feira a domingo, das 10 às 13 horas e das 14 às 18 horas, com entrada livre.
Segundo a FEA, “trata-se de uma exposição que pretende pensar o conceito de arte no atual momento de revolução tecnológica, sobretudo o impacto das ferramentas de IA”, explicando que “são apresentados vários projetos de Lev, vertidos em sete séries de imagens digitais geradas com ferramentas de IA, na sua maior parte desenvolvidas especificamente para esta exposição”. É ainda de referir que estão expostos “desenhos originais do artista, nomeadamente algumas das suas primeiras obras sobre papel (1981 -1985)”.
A mesma fonte adiantou que “Lev Manovich é uma das figuras mais influentes da arte e cultura digitais”, especificando que, “ao longo de sua carreira, este artista, que nasceu na Rússia em 1960, mas que reside nos Estados Unidos da América desde 1980, explorou o impacto das novas tecnologias nas artes visuais”.
Relativamente à exposição patente em Évora, a FEA realçou que, “das sete séries de imagens incluídas na exposição, seis ilustram os processos envolvidos no funcionamento da IA, que responde aos pedidos dos utilizadores acedendo a uma vasta base de dados de imagens e informações da história da arte”.
Esclareceu ainda que “não se trata de um processo mecânico, uma vez que o artista tem de elaborar cuidadosamente o seu ‘pedido’ e selecionar as respostas que melhor refletem a sua visão”.
É também apontado que, “de entre milhares de resultados, o artista seleciona apenas um pequeno número e depois aperfeiçoa cada imagem num software de edição de fotografias, muitas vezes ao longo de meses”.
Citado pela FEA, Lev Manovich focou que os projetos apresentados “abordam, de diferentes maneiras, um único tema, a ‘unreliable memory’ (memória infiel), pois as nossas próprias memórias pessoais são muito seletivas (recordamos umas coisas e outras não), sendo que, muitas vezes, lhes falta detalhes e precisão visual”.
Na inauguração da exposição, no passado dia 18, o artista esteve à conversa com o Diário do Sul (DS). Começou por salientar que este trabalho “resulta de experiências criativas”, assumindo que “em parte é autobiográfico”.
Lev Manovich disse ainda que “é uma experimentação, um jogo com a IA, em que tento descobrir o que podemos fazer, bem como as limitações e as potencialidades desta ferramenta”, lembrando a muita investigação que tem desenvolvido na área da IA, ao longo das últimas décadas.
Também em declarações ao DS, o curador da exposição evidenciou que “a IA está no centro do debate nos dias de hoje”, precisando que “quando convidei o Lev, há quase dois anos, tinha em mente que uma exposição destas, com este artista, tinha capacidade de pôr esta questão de uma forma simultaneamente reconhecível como um trabalho artístico e acarretar também a possibilidade de discutir este tema”.
Para José Alberto Ferreira, “as expectativas são de que esta exposição seja capaz de convocar público para ver um conjunto de obras”, assumindo que “estes trabalhos vão surpreender de certeza as pessoas”.
Constatou que, “quando se fala em IA, as pessoas ficam a pensar em imagens muitos técnicas ou elaboradas de uma certa maneira, mas estas imagens têm a capacidade de prender a nossa atenção”, comentando que “estão ligadas à história e à biografia do artista”.
O curador espera que “as pessoas venham e que nesse encontro com as obras, simultaneamente, vejam potencialidades da máquina e se interroguem sobre o lugar em que estão nesta cadeia”, considerando que “a questão mais importante é saber o que se quer e o que não se quer fazer com a máquina”.
Texto: Redação DS / Marina Pardal
Fotos: DS