Ana Meira e Rosário Gonzaga dão “vida” a Coralia e Maruxa em “Pó e Batom”, a nova produção do Cendrev – Centro Dramático de Évora, que está em cena no Teatro Garcia de Resende, até à próxima quinta-feira.
A peça, que estreou no dia 16 deste mês, é uma fantasia lírica original de Esther F Carrodeguas e conta com tradução e encenação de Sofia Lobo.
Em entrevista ao Diário do Sul, a encenadora explicou que “eu já tinha traduzido a peça antes de pensarmos neste trabalho, mas enquanto estava a traduzi-la, curiosamente, pensei neste par de atrizes com quem já tinha trabalhado noutras vezes”, recordando que “estive 29 anos na companhia de teatro ‘A Escola da Noite’, de Coimbra, com quem o Cendrev tem parcerias”.
Sofia Lobo acrescentou que “quando o Cendrev me perguntou se queria encenar alguma coisa com eles, esta peça foi a primeira em que pensei”, reiterando que, “como elas gostaram, achei que fazia todo o sentido”.
Confessou que “está a ser uma experiência maravilhosa, até porque o Teatro Garcia de Resende é absolutamente mágico e é um grande privilégio poder trabalhar aqui”, destacando também que “a relação com elas tem sido de uma grande proximidade, confiança, partilha e emoção”.
Na sua opinião, “o teatro é um local de encontros, de nos olharmos nos olhos e de falarmos com as pessoas sem sermos mediados por máquinas”.
Quanto à história de “Pó e Batom”, a encenadora adiantou que “a autora Esther F Carrodeguas escreveu este texto a partir de duas personagens muito conhecidas em Santiago de Compostela (Espanha), a Maruxa e a Coralia Fandiño Ricart”.
Referiu que “que eram duas irmãs que no tempo da Guerra Civil Espanhola e depois do Franquismo, pertencendo a uma família republicana anarcossindicalista, foram vítimas de muita repressão”.
Sofia Lobo realçou também que, “depois dos pais morreram, ou até durante, elas foram muitas vezes vítimas da violência policial ou fascista, que lhes entrava pela casa dentro ou que as levava para a rua para serem ‘passeadas’”, sublinhando que “diz-se que chegaram a ser violentadas, mas elas resistiram sempre”.
Focou ainda que “elas eram costureiras, mas como era proibido ajudar pessoas que eram contra a ditadura, deixaram de ter clientes e passaram a viver na miséria”, frisando que, “apesar de tudo, algumas pessoas ajudavam-nas”.
De acordo com a encenadora, “perante tudo isto, elas ter-se-ão aproximado da loucura e saíam à rua, enfrentando aquela sociedade fascista e cinzenta, vestindo roupas muito coloridas e híper maquilhadas e mandando ‘bocas’ aos estudantes e às outras mulheres, que, muitas vezes, as olhavam como ordinárias”.
Reforçou que “esta era uma forma de resistência”, lembrando que “há fotografias de Maruxa e Coralia, mas não há testemunhos delas, portanto a Ester fez esta peça a partir dos mitos e das pessoas que as conheceram”.
Este espetáculo está em cena até quinta-feira, decorrendo as sessões às 19h00. Mais informações através do número de telefone 266 703 112 ou do email: [email protected]
Texto: Redação DS / Marina Pardal
Fotos: Cendrev / Carolina Lecoq