A terceira conferência “Pensar a Energia”, promovida pela ADENE, decorreu em Évora, no auditório do PACT – Parque do Alentejo de Ciência e Tecnologia, na passada quinta-feira.
“A transição energética rumo a uma mobilidade sustentável” foi o tema escolhido para esta sessão, que esteve enquadrada na Semana Europeia da Mobilidade.

Segundo a ADENE – Agência para a Energia, “as políticas públicas no setor dos transportes visam o aumento da utilização do transporte público nas cidades e a descarbonização do setor dos transportes, mas efeitos assinaláveis tardam a ser visíveis, sendo necessário adaptar ou desenhar novas políticas públicas para remover as barreiras que ainda existem para um setor dos transportes sustentável e inclusivo”.
A mesma fonte frisou que “esta conferência teve como objetivo ser um espaço de debate sobre o que falta para acelerar a transição energética no setor dos transportes”.

Em entrevista ao Grupo Diário do Sul (DS), Nelson Lage, presidente da ADENE, adiantou que “uma das principais missões da Agência para a Energia é promover o diálogo e a partilha de ideias”, realçando que “o ‘Pensar a Energia’ surge da necessidade de abordar as várias temáticas, nomeadamente com quem as representa, como as associações, as instituições ou as organizações”.
De acordo com o mesmo responsável, “este é um fórum que permite debater e partilhar ideias sobre os vários temas do setor da energia”, acrescentando que “esta iniciativa é feita de forma descentralizada, pois não podemos discutir a energia só em Lisboa ou no Porto”.
Explicou ainda que “começámos de facto no Porto, onde discutimos o tema dos edifícios; fomos depois para Mirandela, onde falámos do tema da pobreza energético; e, agora, estivemos em Évora a falar sobre mobilidade sustentável”.
Nelson Lage reiterou que “Évora tem a sua frota de transporte público 100 por cento elétrica, pelo que achámos que seria o local ideal para discutir esta temática”.
A par disso, comentou que “fazia todo o sentido promover este debate durante a Semana Europeia da Mobilidade, em que vários eventos decorreram um pouco por todo o país”.
Na sua perspetiva, “é muito importante discutir a mobilidade sustentável e não apenas a mobilidade elétrica”, esclarecendo que “discutimos não só o modo de tornar a mobilidade mais amiga do ambiente, mas também a gestão dessa própria mobilidade”.

Reiterou que “não basta substituir os veículos tradicionais por veículos elétricos, mas também gerir melhor a quantidade de veículos que estão nas estradas”.
O presidente da ADENE destacou ainda que “discutimos a mobilidade nos transportes e também a mobilidade de transportes pesados e comerciais”.
Quanto à próxima conferência, avançou que “vai ter lugar até ao final do ano e, apesar do local ainda não estar decidido, será nesta lógica da descentralização”, confirmando que “pretendemos manter estas sessões no próximo ano, com outros enfoques, nomeadamente acompanhar aquilo que são os temas nacionais e europeus no setor da energia”.
Nelson Lage salientou também que “queremos começar a falar de sustentabilidade como um todo, ou seja, a energia a contribuir para a sustentabilidade”, evidenciando que “vamos evoluir nesse sentido também como agência, inclusive que promove o debate”.
Especificou ainda que “a ADENE é a agência que agrega e que serve de facilitador de todo o setor público na área da energia e que tem implementado imensas iniciativas de informação e capacitação ao nível daquilo que é a política pública nesta área”.
“A grande aposta tem de ser na transição do transporte individual para o transporte público”
A presidente da AMT – Autoridade da Mobilidade e dos Transportes, Ana Paula Vitorino, marcou presença nesta terceira conferência “Pensar a Energia”.

À margem da iniciativa, considerou que “é extremamente importante este tipo de eventos, principalmente porque são de proximidade, não são centralizados nos sítios do costume, como Lisboa ou Porto, mas que vão a cidades de média de dimensão, como Évora”.
Por outro lado, realçou o facto de “falar de dois temas da atualidade, os transportes e a energia”.
Para Ana Paula Vitorino, “num processo que é inevitável de transição energética, ambiental e digital, nós precisamos de criar ‘know-how’ nas autoridades públicas, nas empresas, nas universidades e nos cidadãos para que possam ter comportamentos individuais aderentes a políticas públicas que devem ser no sentido de tornar o planeta mais sustentável”.
Na sua opinião, “os países e todos nós individualmente temos de fazer um esforço mais acentuado para caminhar para uma economia mais sustentável e, neste caso, para uma mobilidade e transportes mais sustentáveis”.
A presidente da AMT ressalvou que “temos de melhorar do ponto de vista energético os nossos carros, que devem tendencialmente passar a usar energias mais limpas, deixando de utilizar os combustíveis”, defendendo ainda que “a grande aposta tem de ser na transição do transporte individual para o transporte público”.
Alertou que “os congestionamentos e a utilização abusiva do estacionamento e do espaço público só se resolvem transferindo as pessoas para os transportes públicos, que podem ser autocarros, comboio ou metrobus, por exemplo”.
Segundo Ana Paula Vitorino, “são soluções energeticamente e ambientalmente mais sustentáveis, ao mesmo tempo que descongestionam o espaço público”.
Focou também que “tem de haver incentivos nesse sentido, como transporte coletivo de boa qualidade, bem como restrições fortes para desincentivar o uso do transporte individual, pois se podermos entrar com o carro em todo o lado e estacionar em qualquer sítio, acomodamo-nos”.
A mesma responsável apontou que “Évora é um bom exemplo, pois ao longo dos anos foi aliviando a cidade dos carros e tendencialmente ainda terá de o fazer mais”.
Não obstante, Ana Paula Vitorino foi perentória ao afirmar que “não se pode impedir o uso do transporte individual sem ter alternativas no transporte público”, reforçando que “temos de dar qualidade nesse serviço para que as pessoas se convençam e se sintam atraídas”.
Pode ver as reportagens vídeo nos seguintes links:
https://www.youtube.com/watch?v=sVGK1BvaBuU&t=2s
Texto: Redação DS / Marina Pardal
Fotos: DS