“Fenda é uma exposição que interroga vários aspetos das relações da sociedade e da arte perante a pobreza”. É assim que a Fundação Eugénio de Almeida (FEA) nos apresenta a mostra que tem patente no seu Centro de Arte e Cultura, até 1 de outubro.

No âmbito desta exposição, a instituição promoveu o debate “Pensar a pobreza”, moderado por Bruno Fraga Braz, e com a participação de Francisco Louçã e António Bagão Félix, duas personalidades nacionais ligadas à economia e à política.


De salientar ainda que esta sessão esteve integrada no programa comemorativo dos dez anos do Centro de Arte e Cultura, bem como na celebração dos 60 anos da FEA.
À margem do evento, Maria do Céu Ramos, administradora executiva da FEA, explicou aos jornalistas os objetivos desta iniciativa.

“A intenção da FEA ao propor que haja uma exposição de arte antiga e contemporânea que pensa a pobreza e ao associar-lhe um debate de pessoas que são economistas, políticos, cidadãos ativos na nossa democracia plena foi procurar sensibilizar todos os que de alguma maneira estão em relação com a Fundação, seja através do campo artístico, cultural, social ou espiritual, na esfera das nossas várias atividades, a fazerem parte deste grande momento de cidadania em que cada um de nós tem algo para dizer e para contribuir”, adiantou.
Segundo Maria do Céu Ramos, “através de várias linguagens (arte, cultura, economia ou justiça social), procuramos contribuir para fazer do mundo um lugar melhor, para humanizar a relação que temos com a vida e para incluir os que são tocados pela pobreza”.

Esclareceu ainda que “quando criámos a exposição Fenda, que são cinco séculos de arte para pensar a pobreza, e ao fazermos este debate com Bagão Félix e Francisco Louçã estamos a querer dizer que no diálogo, no pensamento, na reflexão e no compromisso é possível fazer melhor do que aquilo que existe”, constatando que “haverá sempre ricos e pobres, mas é preciso que haja menos desigualdades e mais justiça social”.
Na sua opinião, “tudo o que cada um de nós, enquanto cidadãos, e tudo o que instituições, como a FEA, puderem fazer para complementar o papel do Estado, envolver os cidadãos e equilibrar e tornar mais harmoniosa a relação entre as pessoas na sociedade, vale sempre a pena”.
A mesma responsável reiterou que “a ideia das fundações é contribuir para o bem comum, dedicando-se a diferentes áreas”.
Nesse âmbito, realçou que “Vasco Eugénio de Almeida deu tudo o que tinha para promover social, cultural e educativamente as pessoas desta cidade”, sublinhando que, “quando a FEA faz 60 anos, esse ideal está vivo e concretiza-se de muitas maneiras porque hoje os desafios são muitos”.
Maria do Céu Ramos focou ainda que “o pensamento e o debate a que assistimos aqui, com pessoas que têm ângulos diferentes, mas que se entendem na construção de soluções, é o que a FEA se propõe também fazer nas suas várias iniciativas”.

Também em declarações à comunicação social, Francisco Louçã considerou que “esta foi uma conversa interessante sobre um dos graves problemas de Portugal”, revelando que o país “tem cerca de 40 por cento de pessoas em situação de pobreza”.
Acrescentou que, “depois das prestações sociais, em que a generosidade da Segurança Social apoia muitas dessas pessoas, esse número é reduzido para pouco menos de metade, mas são quase dois milhões de pessoas”.
O economista destacou ainda alguns dos temas abordados no debate, nomeadamente “o diagnóstico, as particularidades ou as formas de combater a pobreza”, especificando “como é que a educação, a inclusão, a democracia, os bens comuns, o acesso à saúde ou uma habitação condigna podem representar uma mudança muito importante na vida destas pessoas, que tantas vezes são invisíveis em Portugal”.
Por sua vez, António Bagão Félix evidenciou que “o contributo que procurei dar foi transmitir algumas das coisas sobre as quais tenho refletido e também alguma experiência minha do ponto de vista político e até governamental”, comentando que “algumas dessas coisas, hoje estou mais seguro de que as faria na mesma, outras estou mais seguro de que não faria da mesma maneira”.

Sustentou ainda que “este debate foi uma forma de partilhar com as pessoas essas reflexões, seja para concordarem ou não, mas pelo menos para inquietá-las e desassossegá-las”.
Para Bagão Félix, “nesta questão da pobreza não é só o Estado que tem de agir”, referindo que, “neste debate, invoquei o princípio da subsidiariedade, ou seja, instituições da sociedade que estão mais sensíveis para esta temática e que podem ter voz, direta ou indireta, na luta contra a indiferença e contra o conformismo que às vezes grassa na sociedade portuguesa”.
Autor: Redação DS / Marina Pardal
Fotos: DS