Por Francisco Araújo
Coordenador do Núcleo de Risco e Prevenção Vascular da SPMI
Coordenador do Departamento de Medicina Interna do Hospital Lusíadas Lisboa
O vício de fumar tem repercussões clínicas, sociais, económicas e até psicológicas que condicionam a vida do fumador e de quem o rodeia. Todas as oportunidades são boas para parar de fumar.
As ocasiões podem ser diversas. Um aniversário, o nascimento de um filho ou de um neto… Muitas vezes quando estamos doentes, não apetece fumar. Isto surge em situações agudas como uma simples gripe, ou na necessidade de internamento eletiva para uma cirurgia programada.
Esta é uma ótima ocasião para tomar a decisão de abandonar o tabaco. No internamento, a pessoa está rodeada de profissionais de saúde que reconhecem os sintomas de privação e que o podem ajudar. Muitos dos internamentos do país têm protocolos para o fumador. Noutros, a expectativa do doente pode ser direcionada para uma consulta especializada após a alta. Mas o internamento é um momento marcante na vida de uma pessoa e um tempo de reflexão sobre a nossa saúde.
A principal complicação da cessação tabágica abrupta manifesta-se por sintomas de privação inespecíficos. Sintomas como ansiedade, irritabilidade ou agitação, alteração do apetite, sintomas depressivos e disforia, podem condicionar riscos para o doente ou prolongar o internamento.
A abordagem em internamento pode ser simplesmente prevenir e tratar a privação ou iniciar, no fumador motivado, um programa de cessação tabágica. No primeiro caso é habitual propor ao doente a terapêutica de substituição com adesivos de libertação de nicotina de longa duração de forma a prevenir a síndrome de abstinência. No caso de o cliente estar medicado com terapêutica em ambulatório para a cessação tabágica, esta deverá ser continuada no internamento.
A terapêutica do síndrome de abstinência pode ainda passar pela terapêutica com ansiolíticos e antidepressivos.
Em 2017 morreram em Portugal mais de 13 000 pessoas por doenças atribuíveis ao tabaco, a esmagadora maioria homens. Um em cada quatro óbitos nas pessoas entre os 50 e 60 anos está relacionado com o tabaco. O tabaco contribui em Portugal, para cerca de 20% dos óbitos por cancro, 28,1% dos óbitos por doença respiratória crónica e 8,7% dos óbitos por doenças cardio e cerebrovasculares. Vinte por cento da população portuguesa fuma esporadicamente e 16,8% fazem-no a diário.
É hora de mudar esta realidade.
Artigo de Opinião