Numa altura em que a máscara facial é de uso obrigatório em diferentes situações, este tornou-se um bem de primeira necessidade. As instituições carecem deste equipamento para o desempenho da sua atividade diária e, por isso, muitas têm sido as entidades que fazem doações a este nível.

No dia 16 de julho, a Associação Portuguesa de Imprensa (API) entregou 1 500 máscaras à Santa Casa da Misericórdia de Alcáçovas, no concelho de Viana do Alentejo.

Estes equipamentos foram doados pelo Shanghai United Media Group, um grupo de imprensa chinês.

Em declarações ao Grupo Diário do Sul, João Palmeiro, presidente da API, explicou como é que a oferta chegou a esta instituição alentejana.

“O Shanghai United Media Group é dono do Shanghai Daily News, que é o jornal que se publica há mais anos ininterruptamente na China”, esclareceu, adiantando que “faz 90 anos em 2020”.

Segundo o mesmo responsável, “por essa razão entrou na órbita de um projeto que a API tem vindo a desenvolver, que é o projeto dos Jornais Centenários, primeiro portugueses, depois de língua portuguesa e agora do mundo, que visa o reconhecimento pela UNESCO dos Jornais Centenários como Memória do Mundo”.

Acrescentou que “estamos a trabalhar neste projeto há cerca de oito anos e ao fim de cinco anos ficou evidente que tínhamos gasto todo o conhecimento empírico, de pequenos trabalhos de investigação, que foram sendo feitos sobre os jornais centenários portugueses”.

João Palmeiro frisou que “percebemos que era importante levar à academia esta preocupação”, revelando que “a Universidade Nova de Lisboa lançou um trabalho sobre a história do jornalismo em Portugal”.

Destacou que, “também no âmbito desse trabalho, nós, na API, decidimos avançar com a criação de um Centro de Estudos, Investigação e Interpretação dos Jornais Centenários em Portugal, de Língua Portuguesa e no Mundo”.

O presidente da API constatou que, “neste momento, o principal é verificarmos se os dados que nós recolhemos em Portugal estão certos”, salientando que “hoje existem 36 jornais portugueses a publicarem-se continuadamente há mais de 100 anos”.

Avançou que “esperamos que sejam 38 no fim deste ano e que para o ano, com o jornal A Defesa, que completará 100 anos, serão 39 jornais em Portugal”, focando ainda que “no Brasil são 18”.

Nesse sentido, João Palmeiro garantiu que “decidimos avançar com o projeto de criar em Alcáçovas este centro”, realçando que “é provável que vá existir um centro de documentação em Viana do Castelo”.

A este respeito, referiu que “Viana do Castelo tem o jornal não diário mais antigo que se publica continuadamente na Europa, que é o a Aurora do Lima”, mencionando que “os proprietários fizeram uma doação à Câmara de Viana do Castelo de todo o seu arquivo”.

Como tal, o mesmo responsável disse que, “em vez de termos o arquivo espalhado por vários sítios, teríamos um centro de interpretação a sul e um centro de arquivo e documentação a norte, naturalmente ligados digitalmente”, assegurando que o objetivo “é dar a conhecer este património que esperamos que a UNESCO reconheça como memória do mundo”.

Quanto à doação à Misericórdia de Alcáçovas, João Palmeiro justificou que “os nossos parceiros chineses quiseram mandar um sinal da sua solidariedade e cooperação e enviaram-nos uns milhares de máscaras, pelo que achámos que a melhor forma de assinalar o começo da implementação do centro aqui em Alcáçovas era partilhar 1500 máscaras com esta instituição da terra”.

Na sua opinião, “estamos a partilhar este artigo de primeira necessidade nos tempos atuais, mas também a dizer que um jornal é um artigo de tão grande necessidade como uma máscara”, comentando que “a máscara protege do novo coronavírus e o jornal, sendo em papel ou digital, protege do vírus da desinformação”.

“Um exemplo

de solidariedade”

Para João Penetra, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Alcáçovas, a doação feita à instituição “é um exemplo de solidariedade que tem de existir na sociedade”.

Apontou que “nesta situação que vivemos de combate à disseminação da pandemia, em que nas instituições temos de usar um número elevado de EPI (Equipamento de Proteção Individual), nomeadamente as máscaras de proteção, esta doação torna-se ainda mais importante”.

João Penetra afiançou que “nas instituições estamos a fazer um esforço enorme de ter sempre em armazém produtos de proteção, tanto para os nossos utentes, como para os nossos funcionários”, reiterando que “nós e os funcionários podemos ser o grande veículo de transmissão da doença dentro das instituições”.

Na sua perspetiva, “esta oferta das 1500 máscaras obviamente é de uma importância enormíssima e é um exemplo da solidariedade entre instituições e da solidariedade de uma sociedade que se quer cada vez melhor “.

Em relação à Misericórdia de Alcáçovas há a salientar que “temos duas áreas de atuação, a terceira idade e a infância”, assumiu o provedor.

Adiantou que, “na terceira idade, temos ERPI (Estrutura Residencial para Pessoas Idosas), com 108 pessoas internadas; temos também o serviço de apoio domiciliário, com cerca de 30 pessoas; e o centro de dia, que não está a funcionar, sendo que as pessoas dessa valência estão agora no apoio domiciliário”.

Já na infância, destacou que “temos creche, CATL e ainda o projeto educativo que é a Oficina das Artes, totalizando cerca de 80 crianças”.

João Penetra indicou ainda que, “no total, são cerca de 110 colaboradores”.

No que diz respeito às medidas que têm sido tomadas neste contexto que vivemos, o mesmo responsável afiançou que “logo que começou a aparecer a pandemia em Portugal criámos na nossa instituição um grupo de gestão de crise e fomos sempre tomando medidas que nos pareceram ser as mais acertadas para prevenção da doença”.

Descreveu que “fazemos desinfeção das instalações, quer da terceira idade, quer da infância, de 30 em 30 dias; colocámos tapetes de desinfeção nas entradas da instituição; comprámos EPI; os funcionários receberam formação e até antes do Estado ter decretado o encerramento de visitas aos lares, nós já o tínhamos feito, depois reabrimos e agora estão suspensas novamente”.

João Penetra constatou que “houve uma boa receção por parte dos familiares dos utentes às medidas tomadas”, assegurando que “não nos temos poupado a esforços para que todos cuidados sejam tomados”,

No entanto, advertiu que “com as medidas que tomamos, tentamos reduzir o risco ao mínimo, mas nunca podemos garantir que reduzimos o risco a zero”.

Autor: Redação DS / Marina Pardal

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