Milionários preferem investimentos sustentáveis, analisam e controlam atentamente os honorários cobrados pelos seus gestores de património e procuram experiências hiperpersonalizadas

World Wealth Report 2020 da Capgeminirevela que o nível de riqueza e o número de milionário[1] registou um aumento de 9% em 2019 em todo o mundo, não obstante o abrandamento económico global que se fez sentir, as guerras comerciais internacionais e as múltiplas situações de tensão geopolítica que eclodiram em todo o planeta. As regiões da América do Norte e da Europa, com um crescimento de cerca de 11% e 9%, respetivamente, assumiram a liderança e ultrapassaram a região da Ásia-Pacífico (8%), pela primeira vez desde 2012. Porém este boom registado em 2019 foi ofuscado pelo ambiente de grande incerteza que se vive atualmente em consequência da pandemia da COVID-19, sobretudo tendo em conta que as economias de todo o mundo se preparam agora para enfrentar um abrandamento de 4,9% em 2020, segundo o Fundo Monetário Internacional[2].
Na região da América do Norte, o número e o valor das fortunas dos milionários («high net worth individuals», HNWI) registou um aumento de 11% e por comparação com a quebra de 1% registada em 2018. Esta região contribuiu com 39% para o aumento de milionários em todo o mundo, e foi responsável por 37% do crescimento do valor da riqueza em 2019. A Europa ficou imediatamente a seguir com um aumento do número e do valor das fortunas dos milionários na ordem dos 9%, ultrapassando as regiões da Ásia-Pacífico e da América Latina. De facto, com 8%, a região da APAC situou-se abaixo da taxa média de crescimento global dos milionários (9%), apesar dos fortes níveis de crescimento de mercado assinalados em vários países asiáticos em 2019, incluindo Hong Kong, China e Taiwan.

Uma situação em evolução
De acordo com a World Federation of Exchanges, o impacto da pandemia da COVID-19 entre fevereiro e março de 2020 provocou perdas de mais de 18.000 mil milhões de dólares nos mercados em todo o mundo. Consequentemente, e ainda que se tenha registado uma ligeira recuperação no mês de abril, espera-se que o nível da riqueza à escala global venha a registar uma queda entre 6% a 8% até ao final de abril de 2020 (em comparação com os valores registados a dezembro de 2019), como explica a Capgemini no seu novo estudo. Paralelamente, verifica-se que as prioridades dos investimentos estão a mudar: no atual ambiente de pandemia, os investimentos sustentáveis e que apoiam as causas ambientais e sociais, estão a ganhar uma preponderância crescente.

«Face à magnitude da incerteza que se vive atualmente, os gestores de fortunas e as empresas deste setor encontram-se em território desconhecido,» afirma Anirban Bose, Financial Services CEO e Executive Board Member do Grupo Capgemini. «Mas este ambiente de incerteza pode ser uma oportunidade para os gestores de património reavaliarem e reinventarem os seus modelos económicos e de negócio, de modo a tornarem-se mais ágeis e resilientes. O aumento das receitas é possível com a ajuda das ferramentas de análise e da automação, bem como com a ajuda das tecnologias emergentes como a inteligência artificial, uma vez que estas oferecem experiências melhoradas aos clientes, reduzindo os custos através da otimização dos processos.»

Investimentos sustentáveis e serviços de valor acrescentado ganham protagonismo
Os investimentos sustentáveis (SI) estão em ascensão e representam uma oportunidade de interação de elevado potencial com os clientes para os gestores de patrimónios. No segmento dos muito ricos (Ultra- HNWI)[3], este tipo de investimento está a ganhar uma posição considerável. Assim, enquanto 27% dos milionários manifestaram globalmente interesse em produtos de investimento sustentável, já 40% dos muito ricos afirmaram estar prontos a investir o seu dinheiro em desenvolvimento sustentável. No entanto, os milionários que investem neste segmento ao mesmo tempo que reconhecem o valor do impacto social e ambiental, também são motivados pelos proveitos e, mais especificamente, pelo aumento dos seus rendimentos e pela redução dos riscos. Assim, 39% esperam obter retornos mais elevados com os produtos de investimento sustentável, enquanto 33% consideram estes produtos mais saudáveis e menos especulativos. De salientar que 26% dos milionários afirmaram o seu desejo de devolver à sociedade parte do que ela lhes deu.


Hiperpersonalização: a resposta às expectativas em constante evolução
Espera-se que o clima de incerteza que se está a viver venha a causar ajustamentos nos ativos ao longo de 2020, bem como a contribuir para aumentar as expectativas e para gerar um maior controle dos fees dos serviços de consultoria. Desde o início de 2020, que as ações se tornaram na principal categoria de ativos, representando 30% das carteiras de investimento dos milionários em todo o mundo. Este fenómeno explica-se, em grande parte, pela estabilidade revelada pelos mercados de capitais e pelas medidas de estímulo à economia que contribuíram para restabelecer a confiança dos investidores.

Neste contexto, os milionários estão cada vez mais críticos em relação aos honorários cobrados pelos seus gestores de património. Em 2019, 33% dos milionários afirmou-se insatisfeito com os valores cobrados. Esta é uma situação que não deverá melhorar, sobretudo tendo em conta a volatilidade dos mercados. De acordo com o estudo, mais de um em cada cinco milionários poderá mesmo vir a mudar de gestor/empresa de gestão de património até 2021. Em 42% dos casos, esta decisão será principalmente motivada pelo elevado valor dos honorários cobrados. Os milionários estão também cada vez mais inclinados a passar do modelo que indexa o valor dos honorários aos lucros gerados pelos ativos, para o modelo que indexa o valor dos honorários a critérios de desempenho e aos serviços prestados. Este facto revela um aumento das expectativas face aos serviços prestados versus os honorários cobrados.

As competências digitais tornaram-se essenciais para a continuidade do negócio das empresas de gestão de patrimónios. Ofertas hiperpersonalizadas baseadas em IA, ferramentas de análise e outras inovações tecnológicas, podem responder às expectativas em constante mudança dos milionários nas seguintes áreas:

  • Perfis de risco à medida – A ciência comportamental e a análise dos sentimentos são usadas para interpretar os perfis de risco dos clientes individuais.
  • Aconselhamento à medida e criação de portfolios personalizados – A análise dos dados e as ferramentas de machine learning permitem criar portfolios à medida, avaliar o comportamento dos clientes e prestar aconselhamento personalizado.
  • Relatórios customizados – A utilização das APIs[4],e das múltiplas fontes de informação/dados permitem ter uma visão abrangente dos investimentos dos clientes.

Antes da pandemia da COVID-19 (janeiro-fevereiro de 2020), os touch points relacionados com informações ou serviços personalizados eram as principais fontes de insatisfação dos investidores enquanto clientes. Mais de 60% dos milionários, que procuraram informações sobre novas ofertas de gestão de património ou sobre os mercados, partilharam experiências insatisfatórias. Os milionários do grupo etário entre os 50 e os 59 anos eram os que estavam menos satisfeitos com as suas experiências de acesso à informação e a serviços de valor acrescentado.

O Cavalo de Troia das BigTechs[5]
As más experiências de acesso a informações e aos serviços de valor acrescentado constituem oportunidades perdidas dos gestores causarem uma boa impressão junto dos seus clientes. Mais de 40% dos HNWIs inquiridos pela Capgemini afirmaram que as boas experiências nestes touch points afetam profundamente a sua perceção global sobre as empresas de gestão de patrimónios. É provável que esta situação se venha a agudizar ainda mais com a situação criada pela atual pandemia.

Apesar de só 26% dos gestores de fortunas considerarem as BigTechs como potenciais fatores de disrupção, os milionários não têm dúvidas de que estes players são capazes de superar os atores tradicionais no acesso à informação e aos serviços de valor acrescentado. Na verdade, 74% dos milionários dizem estar prontos para estudar as ofertas de gestão de patrimónios das BigTechs. Este rácio aumenta para os 94% entre 22% dos milionários que afirmaram poder vir a mudar de gestor de património nos próximos 12 meses.

Foi nas regiões da América Latina e da Ásia-Pacífico (excluindo o Japão) que os milionários se mostraram mais inclinados a adotar os serviços de gestão de património das BigTechs. No Japão e na América do Norte, a atração das BigTechs está a aumentar significativamente entre os milionários que planeiam mudar de gestores no próximo ano, sobretudo entre aqueles que têm menos de 40 anos (90%).

À medida que as BigTechs ganham quota de mercado no setor dos serviços financeiros, as empresas de gestão de patrimónios não têm outra alternativa que não seja a de melhorarem rapidamente o seu relacionamento digital com os clientes. A comparação entre os touch points que causam mais insatisfação aos HNWI e que são mais vulneráveis aos ataques das BigTech permite identificar quais as 3 fases chave no percurso do cliente: a compra, o aconselhamento e o valor acrescentado.

Para as empresas de gestão de patrimónios, uma dupla estratégia baseada nos princípios do Open X[6] permitirá melhorar rápida e eficazmente as suas competências ao longo de toda a cadeia de valor. No que diz respeito aos serviços de aquisição, ao aconselhamento e ao valor acrescentado, as empresas devem investir em tecnologias que lhes permitam desenvolver as suas valências internamente e impulsionar a colaboração com o seu ecossistema de parceiros na área da WealthTech.
Se a retenção de clientes é a principal prioridade para os gestores de património, o reforço das suas competências, a partir de agora e antecipando a recuperação económica, pode abrir caminho a futuras oportunidades e a novas fontes de receita. As empresas de gestão de património com mais probabilidade de serem bem-sucedidas, serão aquelas que forem capazes de construir o seu ecossistema para responder rapidamente às elevadas exigências dos clientes milionários que querem estratégias de informação e de investimento personalizadas e facilmente acessíveis.

Para obter mais informação sobre este estudo, participe no evento no LinkedIn Live « The World Wealth Report 2020 présenté par Capgemini et The Rudin Group», hoje, dia 9 de julho, a partir das 14h.

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[1] Milionários (« high net worth individuals », HNWI) referem os indivíduos que possuem pelo menos 1 milhão de dólares investidos em ativos, excluindo a residência principal, as coleções, os bens consumíveis e de consumo duradouro.[2]https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2020/06/24/WEOUpdateJune2020[3] Os indivíduos que possuem um património de mais de 30 milhões de dólares investidos em ativos.
[4] API – Application Programming Interface ou interface de programação de aplicações. Permite ligar várias soluções de software para trocar dados.
[5] BigTechs: as maiores e mais influentes empresas da indústria das tecnologias da informação.
[6] O Open X vai além da abordagem “open banking” da troca perfeita de dados e recursos para melhorar continuamente a experiência do cliente.

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